Israel e a reconciliação palestina
Para começar, é óbvio que a reconciliação é um assunto dos palestinos e ninguém tem o direito de vetá-la, já que nós, palestinos, não interferimos nos assuntos internos de outros países. Sabemos de antemão que os israelenses buscam qualquer pretexto para fazer fracassar as negociações colocando a culpa nos palestinos.
Por Mohamed Odeh*, especial para o Vermelho
Publicado 25/04/2014 15:33
Sabemos também que eles vão usar a reconciliação como desculpa para interromper o processo de paz, mas essa desculpa tem fundamentos que não convencem. Por isso, é necessário fazer a exposição dos seguintes fatos:
1. Os israelenses dizem que o Hamas não reconhece o Estado de Israel. Em situações normais, não se exige que um partido político reconheça um Estado, mas sim que os Estados se reconheçam mutuamente. Cobram-nos um reconhecimento de Israel, enquanto este país não reconhece o Estado palestino.
2. Alguns partidos que integram o governo de Israel não reconhecem nenhum direito do povo palestino como é o caso dos radicais Yisrael Beitenu (Israel é nosso lar) e Yehudi Bayit (casa judia). Portanto, se a ideia é que os partidos políticos palestinos reconheçam Israel, seria preciso pedir que os partidos israelenses fizessem o mesmo.
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3. Quando o presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas, recorreu à Organização das Nações Unidas e conseguiu a alteração do status da Palestina para “Estado observador não-membro” (29 de novembro de 2012), os israelenses protestaram. Durante a Assembleia Geral, eles afirmaram que Abbas não representava todo o povo palestino – por ser integrante do Fatah. Agora, com a reconciliação entre o Fatah e o Hamas, o governo israelense não pode mais contar com este argumento.
4. Em 1993, Yasser Arafat, líder da Organização pela Libertação da Palestina (OLP) assinou um acordo com Yitzhak Rabin, primeiro-ministro de Israel. Isso permitiu a criação da Autoridade Palestina. Através do acordo, a OLP reconheceu o direito de Israel à existência, mas a condição do lado israelense para que isso acontecesse nunca foi cumprida: a retirada das forças israelenses de Gaza e da Cisjordânia. O Hamas, a Jihad e os judeus ultranacionalistas foram contrários a alguns termos deste acordo, naquela época. Na conjuntura atual e com a reconciliação, se o Hamas e a Jihad Islâmica se incorporam a OLP, isso garantiria o reconhecimento indireto de Israel.
Isto posto, reafirmamos que Israel busca sempre qualquer brecha para fazer fracassa as negociações, sempre culpando os palestino. Sabemos que o povo palestino tem o direito de usar todos os meios legais, até mesmo a luta armada, para defender seus direitos legítimos. Não queremos usar a violência, enquanto temos outras alternativas.
Contudo, algumas posturas ainda nos assombram, como a ameaça do governo norte-americano de não renovar o reconhecimento da OLP, além de não aportar a Palestina economicamente. Os Estados Unidos, que se apresentam como mediadores das negociações de paz entre Israel e Palestina, possuem uma aliança com o governo israelense.
*Mohamed Odeh é presidente do Comitê para a América Latina, do Comissariado Geral de Relações Internacionais do Fatah
(Tradução: Théa Rodrigues, da Redação do Vermelho)