Ney Campello: “Queremos fazer a Copa da paz e sem racismo”
Ao fim desta semana, o Brasil estará a exatos dois meses da estreia da Copa do Mundo de 2014, marcada para acontecer no dia 12 de junho. Nesses 60 dias que faltam, Salvador, uma das cidades-sede, já está praticamente pronta para receber os jogos e os turistas, segundo o titular da Secretaria Estadual para Assuntos da Copa, Ney Campello.
Publicado 07/04/2014 14:31 | Editado 04/03/2020 16:15
Para além das exigências da FIFA relativas à infraestrutura da capital baiana e da Arena Fonte Nova, o Governo da Bahia tem se preocupado também, segundo Campello, com a realização de um evento de paz e harmonia. Ações para lidar com possíveis manifestações e casos de racismo – que vem sido registrados frequentemente contra jogadores brasileiros – estão sendo pensadas pela secretaria.
Nesta entrevista ao Vermelho, Ney Campello fala sobre os desafios e expectativas da Secopa para o mundial do futebol em Salvador. Conclusão do aeroporto, manifestações populares e racismo no futebol são os temas tratados pelo secretário, que está em clima despedida. Ele deixa a pasta, que tem caráter extraordinário, após a Copa. Confira.
Qual o balanço se pode fazer nesse pouco tempo que resta para a estreia da Copa?
Tudo aquilo que foi firmado como compromisso do evento, pensando nos encargos relacionados às exigências da FIFA, mas, ao mesmo tempo, pensando na perspectiva dos legados que esse evento pode proporcionar à sociedade. Estamos chegando na reta final bem, com entregas importantes já feitas, como é o caso do estádio, da Arena Fonte Nova, e da formação e qualificação profissional, que é outra entrega que considero significativa. Acho que, a partir de agora, os desafios maiores são a conclusão do aeroporto, que é o nosso cartão de visita principal.
O aeroporto vai ficar pronto?
Parcialmente. Vai receber melhor do que recebeu em 2013, lembrando que em 2013 nós ganhamos um prêmio de melhor operação aeroportuária e já não existiam essas obras. Hoje, nós temos o dobro de pontos de check-in – eram 30 e, agora, 60 -, os pátios já foram entregues, vai ficar pronta a torre de controle e a reforma interna, relativa a alguns dos itens. Não é uma obra que será entregue integralmente, mas que ajudará a receber melhor em junho de 2014. O balanço é positivo, mas com problemas. Temos problemas de planejamento no país em relação à Copa, mas fundamentalmente nos assegurará um grande evento.
Ultimamente, casos de racismo no futebol têm sido frequentes e as principais vítimas são os jogadores brasileiros. Salvador é considerada a cidade mais negra fora da África e vai sediar jogos na Copa. A secretaria tem pensando nesta questão?
Sem dúvidas. A gente tem que aproveitar a janela da Copa para promover políticas de combate à discriminação. O futebol é uma prática eminentemente integradora, de congregação das nações e das pessoas, de modo que não cabe racismo no esporte. Nós estamos em parceria com a Setre (Secretaria Estadual do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte), através da chefe de Gabinete, Olívia Santana, que está nos propondo o lançamento de um livro, a “Copa sem racismo”, e junto com ele, o estabelecimento de estratégias de promoção dessa denúncia e de fomento da integração na Copa. Acho que nós vamos chegar lá bem com essa consigna. Queremos fazer no Brasil e na Bahia a Copa da paz e a Copa sem racismo.
Como aconteceu em 2013, populares já se mobilizam para promover manifestações durante a Copa desse ano. Como a secretaria tem acompanhado isso?
Nós estamos em um Estado democrático de direito. Manifestação é um direito consagrado, inclusive, na Constituição Federal, e é uma expressão de partidos como O PCdoB e tantos outros, que lutaram por esse direito. Sou adepto de que nós devemos proteger tanto o direito às manifestações, como o direito a ir e vir de cada torcedor. Acho que conquistaremos aquilo que se expressa da melhor forma na consigna da União da Juventude Socialista [UJS] de que não há contradição, nós queremos Copa, Saúde e Educação.
Caso aconteçam, qual o tratamento a ser dado?
Se essas manifestações existirem, serão tratadas democraticamente pelo estado da Bahia, pelo Governo do estado, ao mesmo tempo, não permitindo que, naturalmente, aqueles que querem pescar em águas turvas, que querem extrair dividendos eleitorais, possam utilizar esse momento para qualquer outra finalidade. O estado está atento, não vai permitir que haja esse tipo de desrespeito às relações democráticas, mas tratando de maneira pacífica e respeitosa os movimentos populares.
De Salvador,
Erikson Walla