PCdoB-Fortaleza debate Golpe Militar de 1964
Recordar não para reviver, e sim para denunciar. Com esse sentimento o advogado e vice-presidente estadual do PCdoB, Benedito Bizerril, fez sua fala durante a Quinta Vermelha realizada no último dia 03/04, que debateu os 50 anos do Golpe Militar no Brasil.
Publicado 06/04/2014 11:14 | Editado 04/03/2020 16:27
Benedito, que na década de 60 era um jovem bancário filiado ao Partido Comunista do Brasil, relatou sua experiência, especialmente junto ao movimento sindical no período da ditadura militar. Com a voz mansa, mas tomado de emoção, foi contando com riqueza de detalhes como foi gestado o Golpe em 1964, as perseguições políticas, especialmente a partir de 1968, e o episódio de suas duas prisões. A primeira, em 1971, no dia em que os comunistas comemoravam o aniversário de 49 anos do PCdoB. “Coube ao comitê bancário pendurar estandartes do partido com palavras de ordem contra a ditadura. Fui pego e recebi uma condenação de 2 anos, deles passei 8 meses na cadeia. Retornei ao banco e fiquei até 1973, quando fui preso novamente. Foi nessa segunda prisão que fui conduzido à Casa dos Horrores, localizada num distrito de Maranguape e utilizada pelos militares para torturar e matar”.
Benedito conta como foi difícil retornar, após a segunda prisão, e ver a direção do PCdoB no Ceará toda dizimada. Com tristeza relatou como os companheiros foram brutalmente torturados e perseguidos e a dificuldade para retomar contatos. Mas mesmo com tantas dificuldades, fez questão de ressaltar a forma como foi retomada a organização comunista. “Aos poucos fomos nos reorganizando, o movimento de bairros foi ressurgindo, ocupações e mobilizações crescentes. O partido foi renascendo, sendo reconstruído na luta”. Para Benedito, nesse momento, durante o período de 77 a 82, foi importante o papel jogado contra a ditadura, pelo jornal O Mutirão e a contribuição do PCdoB em sua elaboração.
Ao finalizar, o advogado chamou a atenção para o momento político atual vivido pelo país. “Essa luta, essa construção da liberdade não está terminada, pelo contrario, temos muito ainda por fazer. Estamos hoje num momento crucial, devemos avançar e ter clareza sobre estes desafios. Os movimentos políticos precisam estar cada vez mais politizados para abraçar as bandeiras das transformações. A direita tenta colocar suas unhas de fora. As reformas, como a política, por exemplo, são fundamentais. A representatividade no parlamento está contaminada pela corrupção, que desvirtua a legítima representação do povo nas casas legislativas”, ratificou.
Falando especialmente para a nova geração de comunistas, Benedito falou das perspectivas atuais do PCdoB. “Nosso partido cresceu nesse processo de lutas, reconhecido como um partido coerente e agora está com essa tarefa de ajudar a construir ampla frente para que possamos avançar e chegar aos objetivos desejados por nosso povo”.
O dirigente finalizou alertando sobre como deve ser tratado o legado histórico que ficou. “Os que estão impunes precisam ser punidos, a verdade precisa ser contada. Não saber da história leva a população a desconhecer as atrocidades de um regime militar. O que ocorreu na época do golpe é que muitos achavam que era apenas contra os comunistas, mas depois viu-se que era contra todo o povo brasileiro”.
De Fortaleza,
Andrea Oliveira (Estagiária do Vermelho-CE)