Venezuela flexibiliza compra e venda de divisas

Uma nova medida de flexibilização do câmbio entrou em vigor nesta segunda-feira (24) na Venezuela. Trata-se do novo Sistema Complementar de Administração de Divisas, o Sicad 2. Com a sua ativação, a cotação do dólar face à moeda venezuelana será determinada de acordo com a oferta e a demanda – o que deve implicar uma maxidesvalorização do bolívar e um maior controle do preço do dólar paralelo.

Presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, em coletiva de imprensa no dia 21 de fevereiro: desafios na economia e tentativas de diálogo| Foto: Efe

Com o Sicad 2, cidadãos e empresas podem comprar divisas ofertadas por pessoas físicas ou jurídicas do setor privado, pela PDVSA (estatal petrolífera), BCV (Banco Central da Venezuela) e outras empresas públicas, inclusive bancos estatais. Não haverá restrição ao montante negociado nem os setores que participarão. As operações acontecerão diariamente através dos bancos – os interessados devem possuir contas em dólar no país – e das casas de câmbio.

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Na Venezuela, o governo determinava uma cotação fixa da moeda do país – acima do valor de mercado. Agora, com o Sicad 2, observa-se uma tentativa de flexibilizar a cotação do câmbio. "É a primeira vez que vemos as autoridades relaxarem explicitamente os controles, que vinham sendo apertados gradualmente nos últimos 15 anos", disse o estrategista Hernán Yellati, do BankTrust & Co, à Agência Estado.

Segundo o presidente do BCV, Nelson Merentes, por trás da ativação do SICAD 2, o dólar paralelo tem mostrado um declínio significativo. No país, existem duas taxas de câmbio. A oficial mantém-se 6,30 bolívares por dólar e é responsável por 80% da necessidade da moeda norte-americana no país. Com o Sicad II, o dólar paralelo – vendido a 80 bolívares em fevereiro – já caiu para 65.

Merentes reiterou que essa medida – já implementada pelo Executivo – ataca diretamente o mercado de câmbio não oficial, com o intuito de esvaziar as negociações da moeda norte-americana do mercado paralelo. Isso significa que há uma tendência que esta abaixe até chegar a responder a “valores reais” da economia. "Quando o Sicad 2 entrar em pleno funcionamento, o dólar paralelo tenderá a baixar e a equilibrar-se”, de acordo com o portal Noticiaaldia.

Ao referir-se aos níveis atuais de desabastecimento, Merentes afirmou que para combatê-los é preciso melhorar as formas de produção, importação e distribuição no menor tempo possível. "Já temos a escassez de certos produtos há tempos, isso não pode passar de dois ou três meses. Temos que importar rápido, produzir mais e distribuir melhor”.

Entre as ações que estão sendo tomadas pelo governo para garantir a estabilidade econômica ao país estão as políticas monetárias de câmbio do Banco Central da Venezuela, expressas no Sicad I e II, e as reuniões que estão sendo feitas com o setor privado para aumentar a eficiência na produção.

Por isso, ainda em certo grau, o governo continuará controlando o mercado, já que o Banco Central e empresas como a estatal Petróleos de Venezuela (PDVSA) são os principais provedores de dólares e enfrentam uma crise de caixa, pois não há dólares suficientes para abastecer o mercado.

Embora reconheça que há, sim, uma crise econômica, o presidente do BCV alegou que esta não é a pior que o país já vivenciou. "Sim, há uma crise, mas não é tão profunda quanto dizem os analistas. A Venezuela tem como superar rápido esse momento – que não é o melhor”, afirmou Merentes, lembrando os casos de paralização da indústria do petróleo , em abril de 2002, ou em 2009, com a queda significativa dos preços do petróleo.

Fonte: Opera Mundi