Violência em protesto opositor provoca três mortes na Venezuela

Os venezuelanos saíram às ruas desta quarta-feira (12), em duas marchas distintas, uma para protestar e outra manifestar apoio ao governo, no dia em que se comemora o bicentenário da chamada Batalha da Vitória. Episódios de violência resultaram na morte de três pessoas, além de cerca de 20 feridos. O presidente Nicolás Maduro apontou a oposição como responsável pelos incidentes. 

Protesto opositor resulta em ao menos três mortos na Venezuela - EFE

A marcha convocada pela oposição ao governo de Nicolás Maduro terminou com um saldo trágico. A procuradora-geral Luisa Ortega Díaz confirmou a morte de três pessoas e ferimentos em outras 23 nos protestos ocorridos em Caracas e nas principais cidades do país.

De acordo com informações da Prensa Latina, o governador de Carabobo, Francisco Ameliach, disse através das redes sociais que as ações da oposição na região deixaram danos materiais. De acordo com ele, um caminhão com asfalto líquido foi queimado pelos manifestantes, o que poderia ter causado uma explosão.

Em Aragua, um grupo de pessoas que se manifestava contra o governo tentou incendiar a sede da prefeitura. Já em Táchira, outro agrupamento cercou e lançou bombas de fabricação caseira contra uma subestação elétrica. Sobre isso, o ministro de Energia, Jesse Chacón, publicou em sua rede social que “como sempre, as marchas pacíficas dos fascistas deixam como saldo instituições públicas destroçadas e camaradas assassinados”.

A atividade oposicionista teve o ponto culminante pouco depois das 14h (do horário local), mas segundo o jornal El País no mesmo local, “tudo indicava que a manifestação acabaria em violência. Havia pessoas com pedras na mão e com o torso nu. Utilizavam suas camisas para cobrir o rosto. Outras usavam máscaras para evitarem ser asfixiadas pelos gases lacrimogênios usados pela polícia para reprimir protestos”. Ainda de acordo com matéria publicada pelo veículo espanhol, “às 15h30 começaram a voar pedras e garrafas em ambos os lados".

 
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O presidente Nicolás Maduro disse que convocou a juventude socialista para uma marcha pacífica e condenou as manifestações violentas. “A direita quer encher este país de sangue e provocar uma espiral de violência. Por isso, atuaremos com máxima severidade e castigaremos os culpados de ataques fascistas. Não haverá perdão”, disse Maduro, em rede nacional de rádio e televisão.

O chefe de Estado assegurou que os responsáveis foram “pequenos grupos infiltrados” presentes na marcha estudantil opositora. Maduro também fez referência à frustrada tentativa de derrubar o falecido presidente Hugo Chávez em 2002: "Aqui não haverá golpe de Estado. Nunca mais um 11 de abril na história da Venezuela".

Em seu discurso, ele pediu ainda que os coletivos não caiam em provocações, dizendo que os autores intelectuais dos atos violentos já estão identificados, e que os assassinatos serão investigados. “Não vamos confiar em quem é capaz de qualquer coisa, porque não tem limites morais”, disse.

Troca de acusações e ameaça ao governo

Líderes chavistas atribuíram os distúrbios ao líder opositor Leopoldo López, do partido Vontade Popular. O chanceler Elías Jaua, escreveu no Twitter que o dirigente opositor é o “responsável intelectual da morte e feridos em Caracas”.

Por sua vez, o dirigente opositor Leopoldo López, culpou diretamente Maduro pelos assassinatos. “Os autores da violência, dos mortos, feridos, são aqueles que estão governando e responsabilizamos Maduro”. Em coletiva de imprensa dada ao lado de outros líderes opositores, López disse: “Poderão prender todos nós, mas essa onda está crescendo. Saiba, senhor Maduro, seguirá crescendo até atingir seu objetivo”.

O líder opositor e ex-candidato presidencial Henrique Capriles condenou a violência, por meio de seu perfil no Twitter, e afirmou que este “jamais será nosso caminho”. “Temos certeza que a imensa maioria a rechaça e a condena”, expressou.

Marcha chavista

No Dia da Juventude, a marcha chavista em comemoração ao bicentenário da Batalha da Vitória contou com presença e discurso do presidente venezuelano Nicolás Maduro, que havia alertado a população sobre planos violentos de setores opositores.

Considerada decisiva para a consolidação da independência do país, a batalha foi na cidade de La Victoria, que, na época, resistiu aos ataques espanhóis. A resistência foi liderada por estudantes, e por isso, agora tanto o governo quanto a oposição realizam mobilizações com foco no movimento estudantil.

“Golpe de Estado em desenvolvimento na Venezuela”

Em um segundo discurso realizado na noite desta quarta-feira (12), após as mortes registradas em Caracas, o presidente Nicolás Maduro afirmou que há “um golpe de Estado em desenvolvimento na Venezuela”. O mandatário venezuelano pediu a união do povo e das Forças Armadas do país, além da solidariedade dos países da América Latina e do Caribe.

Assista ao vídeo (em espanhol):

Ele lamentou o sangue derramado na noite anterior "por responsabilidade de um pequeno grupo de líderes irresponsáveis​​, com ambições violentas, odiosas e pessoais, financiados a partir dos Estados Unidos por grupos neo-fascistas".

Com pouco mais de um ano na presidência, Nicolás Maduro, é obrigado a lidar com problemas econômicos e protestos da oposição, que o acusa de “incapacidade” administrativa, ao passo que a própria direita venezuelana perpetua a crise de abastecimento. Maduro já anunciou uma série de medidas de proteção da economia, que incluem controle de preços e de lucros das empresas e comerciantes, bem como maior controle do câmbio.

Vítimas da violência

Segundo informações das agências de notícias internacionais, ao menos três pessoas teriam morrido e outras 23 ficaram feridas após confrontos entre manifestantes opositores ao governo do presidente Nicolás Maduro e grupos que marchavam em apoio ao governo.

Um dos mortos é Juan Montoya, 40 anos, membro de um coletivo do 23 de Janeiro, ligado ao chavismo, conforme informou a fiscal-geral da República, Luisa Ortega Díaz. Outra vítima confirmada é o estudante, do movimento de oposição, Bassil Alejandro Dacosta, 24 anos, que morreu em um hospital da capital Caracas. Os dois, segundo a fiscal-geral, foram baleados.

Théa Rodrigues, da redação do Vermelho
Com informações da AVN, Prensa Latina, EFE, do jornal El País e da Opera Mundi