Lígia Martins: Sem grandes conquistas femininas
Fim de ano é sempre uma oportunidade, para a imprensa, de fazer balanços, mostrar quem fez sucesso e quais foram as notícias de maior impacto. 2013 não teria por que ser diferente. Na retrospectiva de Veja (22/12/2013), fiquei procurando destaques femininos em meio a comentários sobre os mensaleiros presos, a eleição do papa argentino, a espionagem de Obama.
Por Lígia Martins de Almeida, Observatório da Imprensa
Publicado 25/12/2013 14:26
Sobre mulheres com grandes realizações ou que merecessem destaque por suas ideias e contribuições, nada. Nas 238 páginas da revista, de mulheres temos a primeira-dama argentina acusada de enriquecimento ilícito, a união política de Marina Silva com o governador de Pernambuco Eduardo Campos, e uma página sobre o sucesso da primeira-ministra alemã Angela Merkel. Como sempre, o maior espaço foi dedicado àquelas que alimentam as colunas de fofoca, como a princesa Kate e sua gravidez, a atriz Angelina Jolie e a dupla mastectomia, ou o casamento da Daniela Mercury com Malu Verçosa.
Boa notícia
Mas será só a Veja ou as mulheres, de modo geral, tiveram pouco a comemorar no ano que passou?
Ainda não foi em 2013 que as mulheres conquistaram a plena igualdade salarial com os homens que desempenham as mesmas funções. Em 2012, um estudo do Banco Interamericano de Desenvolvimento mostrou que as mulheres latino-americanas ganham menos que os homens, mesmo que tenham um maior nível de instrução. Diz o estudo:
“Por meio de comparação simples dos salários médios, foi constatado que os homens ganham 10% a mais que as mulheres. Já quando a comparação envolve homens e mulheres com a mesma idade e nível de instrução, essa diferença sobe para 17%. Da mesma forma, a população indígena e negra ganha em média 28% menos que a população branca de mesma idade e nível de instrução. O Brasil apresenta um dos maiores níveis de disparidade salarial. No país, os homens ganham aproximadamente 30% a mais que as mulheres de mesma idade e nível de instrução, quase o dobro da média da América Latina (17,2%), enquanto na Bolívia a diferença é muito pequena. O resultado é o mesmo no que diz respeito à disparidade por raça e etnia, que chega também a 30%.”
Com relação à violência, a situação também não melhorou. Um estudo do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), divulgado em setembro de 2013, mostrou que a Lei Maria da Penha não diminuiu as taxas de mortalidade das mulheres por agressão no Brasil.
“O levantamento revela que a proporção de feminicídios por 100 mil mulheres em 2011 (5,43) superou o patamar visto em 2001 (5,41). A lei, de agosto de 2006, criou uma série de medidas de proteção e tornou mais rigorosa a punição contra a violência doméstica. Comparando a taxa de mortes por agressão nos períodos anteriores e posteriores à lei, a pesquisa do Ipea também constatou um retrocesso. De 2001 a 2006, foi verificada uma taxa de 5,28 feminicídios por 100 mil mulheres, praticamente a mesma encontrada entre 2007 e 2011, de 5,22.”
Talvez a única boa notícia tenha sido a divulgada no finalzinho de 2013: a informação de que as brasileiras têm filhos cada vez mais tarde, em especial nas capitais. Isso significa que as mulheres estão estudando e trabalhando mais e se dedicando à carreira e crescimento pessoal antes de ter filhos. Uma coisa boa, se considerarmos que ainda é muito difícil conciliar a educação de filhos com uma carreira. Mas, nessa pesquisa, a melhor notícia talvez seja a de que a gravidez entre adolescentes não está aumentando. Pelo menos isso.