Em Israel, Kerry aborda negociações e reafirma aliança sionista

O secretário de Estado dos EUA John Kerry está em Israel, nesta quinta-feira (5), e disse acreditar, em uma coletiva de imprensa, que “algum progresso” esté sendo feito nas negociações de paz com os palestinos, segundo o jornal israelense Ha’aretz. A visita de Kerry ao país, entretanto, dá-se exatamente pela estagnação das negociações e pela postura destrutiva do governo israelense, sobretudo com a expansão das colônias em territórios palestinos.

Por Moara Crivelente, da redação do Vermelho

Kerry e Netanyahu - MRE de Israel

“Sempre soubemos que este seria um caminho difícil e complicado”, disse Kerry aos jornalistas, em uma coletiva de imprensa conjunta com o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu.

O secretário de Estado ressaltou as “preocupações securitárias de Israel” como um fator de atenção, dando continuidade ao pretexto usado pelo governo sionista – de ideologia colonialista e racista – tanto para o entrave nas negociações quanto para a ocupação de grandes porções do território palestino.

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O artigo do Ha’aretz mencionou este trecho das declarações de Kerry como um “reconhecimento das preocupações de Israel de que entregar os territórios ocupados para formarem parte de um Estado palestino poderiam tornar [o israelense] vulnerável a ataques.”

Neste sentido, uma das “exigências” principais e inaceitáveis para os palestinos é a manutenção de tropas israelenses no Vale Jordão, especialmente na fronteira com a Jordânia, em um futuro Estado da Palestina desmilitarizado.

Já Netanyahu disse que Israel está “pronto para uma paz histórica com os palestinos, baseada em dois Estados para dois povos”, de acordo com o Ha’aretz, mas ressaltou que o Estado israelense “deve ter a habilidade de defender-se de forma independente.” Entretanto, não é a primeira vez que a postura prática de Netanyahu é contrária ao que afirmam as suas declarações.

Durante os Acordos de Oslo, do início da década de 1990, ele criticou de forma ácida e reiterada o então premiê Yitzak Rabin pelas negociações com os palestinos, em um contexto de incitação generalizada que resultou no assassinato de Rabin por um judeu extremista. Sua investida colonizadora contra a Cisjordânia e a Faixa de Gaza durante seu primeiro mandato como premiê, de 1996 a 1999, só não ultrapassou a de Ehud Barak.

De forma cínica, porém, durante a coletiva de imprensa, Netanyahu criticou a Autoridade Palestina por “fabricar crises” e fazer acusações, ao invés de empenhar-se por negociações reais. Outra vez, como em episódios passados, o governo israelense investe na transferência da culpa pela falta de progresso aos palestinos, enquanto mantém e intensifica as suas políticas de ocupação militar sobre os territórios, com o apoio tácito e direto dos Estados Unidos.

Kerry, que diz representar o mediador diplomático, parceiro dos israelenses e dos palestinos, representa, de fato, mais uma parte no conflito, com influência direta na sua manutenção e extensão na história.

Esta posição não é dificilmente percebida, entretanto. “Não posso enfatizar o suficiente que a segurança de Israel está no topo da nossa agenda”, disse, em referência também às negociações sobre o programa nuclear do Irã, do qual Israel diz ser a vítima hipotética, a partir das acusações sobre um objetivo militar de construção de armas nucleares.

Kerry chegou para uma visita a Israel e à Autoridade Palestina na quarta-feira (4), e deve encontrar-se com Netanyahu ainda na noite desta quinta e na manhã de sexta-feira (6), no contexto das denúncias reiteradas sobre os planos de expansão das colônias judias na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental, que levaram os diplomatas palestinos envolvidos nas negociações a renunciarem, em protesto.