Encontro inédito: artistas homenageiam o Dia da Consciência Negra

Duas gerações de artistas negros brasileiros se encontraram em show inédito no Projeto Música no Parque em São Bernardo, no ABC paulista, neste domingo (17). Tony Tornado de 83 anos, perto de completar 50 de carreira recebeu o rapper Dexter, 40 anos, dos quais passou 13 na cadeia em São Paulo.

Por Marcos Aurélio Ruy*, no Portal CTB

Tornado morou em Nova York onde conheceu Tim Maia e o movimento negro dos norte-americanos. Identificou-se com os Panteras Negras, que lutavam pela igualdade racial em seu país. Chegou inclusive a ser preso no Brasil por fazer o movimento característico de protesto eternizado pelos Panteras Negras ao levantar o braço de punho cerrado. 

Nascido em Mirante do Paranapanema, interior de São Paulo, em 26 de março de 1930, começou a carreira dublando e dançando e imitando ídolos Chubby Checker e Little Richard, muito nos anos 1960. Atuou no cinema e em novelas.

Ao acompanhar o Trio Ternura em 1970 no 5º Festival Internacional da Canção, interpretando a bela soul BR-3, de Tibério Gaspar e Antônio Adolfo, vencendo a etapa brasileira do festival, marcou o início de grandes sucessos. No início do período mais duro do regime fascista, a canção dizia:

“Há um crime
No longo asfalto dessa estrada
E uma notícia fabricada
Pro novo herói de cada mês
A gente morre
Na BR-3”

Dexter nasceu na capital paulista em 17 de agosto de 1973. Esteve preso por envolvimento com o crime e ao sair da prisão tornou-se uma das principais vozes do movimento hip-hop da periferia paulistana. Para ele, “o rap nacional é uma música enraizada em todo o Brasil”. O cantor acredita que a juventude entende o rap como uma “válvula de escape a favor de suas vidas”, segundo ele, “o hip-hop enquanto cultura, e não simplesmente um movimento, salva vidas”.

Já Tornado defende que o rap grita “pelos nossos direitos, apontando as feridas deixadas por uma parte da sociedade que nos exclui covardemente”. Os artistas prometem um diálogo de gerações com destaque para a promoção da igualdade racial cantando os problemas que enfrentaram e ainda enfrentam em suas carreiras por serem negros.

Ambos expressam de diferentes maneiras sofrimento dos negros brasileiros. A abertura do show foi feita pela banda da região Izé Mangolô que desde 2008 desenvolve trabalho com ritmos e danças regionais da cultura popular.

*Marcos Aurélio Ruy é jornalista