Chile: nove visões de um mesmo país
Três mulheres e seis homens disputam as chaves de La Moneda, para o período de 2014 a 2018. Em 17 de novembro os chilenos vão decidir, em primeiro turno, o projeto de país que querem, após quatro anos de governo de Sebastián Piñera, e em 15 de dezembro, se for necessário, votarão num segundo turno.
Por Laura Bécquer Paseiro*, no jornal Granma
Publicado 07/11/2013 14:59
Em meados de novembro, terão lugar, ainda, eleições parlamentares, e as primeiras para os conselheiros regionais, órgãos públicos dos governos territoriais. Os debates dos candidatos centram-se em temas chaves para o país como a educação (que em 2011 virou dor de cabeça da atual administração), a saúde e a economia.
Segundo as sondagens, a favorita é a ex-presidente Michelle Bachelet (2006-2010), representante da Nova Maioria, que reúne os movimentos políticos da Concertação e o Partido Comunista. A pediatra chilena, filha de um general afim ao presidente socialista Salvador Allende, propõe uma profunda reforma educacional para atingir, entre outros objetivos, gratuidade universal no ensino superior, num prazo de seis anos.
Para financiar este setor pretende elevar o imposto às empresas, como parte de uma reforma tributária. Também pretende reformar a Constituição, herdeira da ditadura de Augusto Pinochet. Com isto busca mudar o sistema eleitoral, reconhecer os direitos dos povos indígenas, os direitos de identidade e orientação sexual, assim como aumentar a participação cidadã.
Em matéria de saúde, Bachelet prometeu a criação de mais hospitais e consultórios de atendimento primário, entre outras medidas.
Próxima de Bachelet colocam-se dois representantes da direita, a filha dum general da ditadura pinochetista, a oficialista Evelyn Matthei, e o candidato independente Franco Parisi. Restando duas semanas para as eleições, nenhum dos dois candidatos supera os 15% de intenção de votos e poderiam não chegar a um segundo turno.
Matthei, ex-ministra de Trabalho do presidente Piñera, se converteu na opção oficial, depois que o aspirante Pablo Longueira abandonasse surpreendentemente a corrida eleitoral, por causa da depressão. Seu programa de governo supõe uma continuidade das políticas de governo de Piñera. A economista fala de aperfeiçoar a Carta Magna e não de uma reforma profunda, como sua contrária Bachelet.
Outro de seus programas de governo será fomentar um maior crescimento da economia. Com esse propósito estima incentivar as pequenas e médias empresas. A respeito da educação, defende a ideia de que o ensino não seja gratuito de maneira universal.
Dentro do mesmo espectro político de direita, mas com uma candidatura independente aparece Parisi, professor de economia e conselheiro governamental.
Suas propostas de chegar à La Moneda incluem modificações ao sistema de educação, com carreiras universitárias mais curtas nas instituições públicas e gratuitas, alem de dar especial importância a uma reforma tributária onde “aquele que ganhe mais, pague mais”.
A esta batalha eleitoral aderem o ecologista Marcel Claude (Partido Humanista) e Marco Enriquez-Ominami (Partido Progressista). O primeiro propõe uma saúde pública e universal que permita um atendimento integral para todos, com justiça e dignidade, bem como incorporar dentro da saúde pública a medicina dos povos originários. No plano econômico, Claude aposta na renacionalização do cobre e a recuperação de todas as riquezas do país, como meta urgente. Para o consultor econômico de várias organizações sociais e sindicais, as receitas do cobre, acompanhadas de uma reforma tributária, poderiam permitir ao Estado financiar uma educação pública e gratuita.
Por sua vez, o representante do Partido Progressista propõe a imposição duma tarifa diferenciada nas universidades estatais, onde o estudante pague, como máximo, um terço de suas receitas autônomas per capita.
Completam a lista de candidatos, Roxana Miranda (Partido Igualdade), Tomás Jocelyn-Hott Letelier (Independente), Alfredo Sfeir (Partido Ecologista-Verde) e Ricardo Jacob Israel (Partido dos Regionalistas Independentes).
O Chile vai viver umas eleições presidenciais inéditas em sua história, ao contar com nove candidatos e onde, por primeira vez, o voto será voluntário, depois de ter sido aprovada uma emenda, nas eleições municipais de 2012. Ainda, foi estabelecido um mecanismo de inscrição automática de votantes, que deve aumentar consideravelmente o número de participantes nas urnas.
*Laura Bécquer Paseiro é jornalista e escreve para o jornal cubano Granma