Governo russo acusa ‘Amigos da Síria’ de sabotar Genebra 2

Diplomata alega que documento recém-aprovado em Londres tenta provocar Damasco com o objetivo de frustrar a conferência pela paz Genebra 2 e, assim, transferir a responsabilidade do fracasso para o governo sírio.

Por Nikolai Surkov*, na Gazeta Russa

Manifestação em Damasco, Síria

“O documento final aprovado na reunião do grupo Amigos da Síria se destina a sabotar a realização da conferência de paz Genebra 2 e a predefenir os seus resultados”, disse em um comunicado oficial o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores russo, Aleksandr Lukachevitch. “Trata-se de uma ameaça mal disfarçada de voltar de novo a um cenário de uso da força militar.”

O documento aprovado pelos representantes com o chamado grupo ‘Amigos da Síria’, em Londres, parte do princípio de que os opositores do líder sírio Bashar al-Assad só participariam das negociações de Genebra 2 se no evento fosse abordada a sua demissão do cargo de presidente. Além disso, Conselho Nacional Sírio (CNS), que faz parte da Coalizão Nacional Síria da Oposição e das Forças Revolucionárias, se recusou a participar da conferência.

“Acreditamos que a Coalizão Nacional Síria deve participar do processo de negociação, mas partimos do suposto que os parâmetros de tal participação devem ser proporcionais à sua influência na sociedade síria e ao seu papel não só no exterior, mas, e acima de tudo, na Síria”, continua o diplomata russo, justificando que a coalizão não é a “única representante legítima” nem mesmo a totalidade da oposição.

A tarefa de convencer os grupos influentes da oposição síria a participar das negociações de paz ficou a cargo dos Estados Unidos e, após a decisão do CNS, diplomatas russos não demoraram em acusar os homólogos americanos de ineficiência. “O meu colega John Kerry me confirmou mais uma vez há apenas alguns dias que eles estavam trabalhando ativamente nisso e que brevemente haveria resultados. Mas até agora ainda não há resultado algum”, lamentou o chanceler russo, Serguêi Lavrov.

Do outro lado, a Rússia tinha como missão persuadir o governo oficial de Damasco a negociar e, segundo fontes do Ministério dos Negócios Estrangeiros, as autoridades sírias estão prontas para ir a Genebra “amanhã mesmo”.

“Se os países ocidentais que apoiam a oposição conseguissem forçar esta a se sentar à mesa das negociações com o ultimato de não lhes fornecer mais armas nem dar mais apoio financeiro caso esta não concordasse em participar, isso seria um passo para o início do processo político”, disse o pesquisador sênior do Centro de Estudos Árabes do Instituto de Estudos Orientais da Academia de Ciências da Rússia, Boris Dolgov em entrevista ao Gazeta.ru.

Porém, de acordo com Dolgov, também existem outras opções. “Uma delas é, caso a oposição armada não concorde em cessar-fogo e em entrar em diálogo, apelar para a ONU reconhecer como terroristas os grupos que persistem na luta armada e tomar uma decisão sobre a sua neutralização. Se os parceiros ocidentais concordassem em fazer isto teríamos uma luz no final do túnel”, conclui o especialista.

Paz temporária

A pouco menos de mês do suposto início de Genebra 2, a sua realização continua sob questão. Ainda não foi informada a data exata do evento nem a lista dos participantes.

Enquanto isso, os EUA mostram sinais de abandono de uma operação militar contra a Síria em um futuro breve. O Comando da Marinha dos EUA decidiu reduzir o contingente de navios militares ao longo da costa síria, pois, segundo o almirante Jonathan Greenert, o grupo já cumpriu sua missão militar e pode voltar para a base”.

Com a redução da presença naval dos Estados Unidos no Mediterrâneo Oriental, permanecerão apenas três navios norte-americanos: os destroieres Stout e Ramage e o cruzador Monterey.

*Jornalista do Rossíyskaya Gazeta