"A história me absolverá": defesa de Fidel Castro faz 60 anos

Em 16 de outubro de 1953, o jovem advogado Fidel Castro pronunciava a sua autodefesa, após ser preso pelo assalto ao quartel Moncada, em Cuba, – quando tentou derrubar o então presidente e ditador Fulgêncio Batista. “A história me absolverá”, foi a última frase proferida pelo líder da Revolução Cubana e como ficou conhecido o documento que reúne este célebre discurso, que completa 60 anos nesta quarta-feira (16).

Por Théa Rodrigues, da redação do Vermelho 

               

“A justiça devia estar muito doente para convocar aos ilustres magistrados de tão alto tribunal para trabalhar em um quarto de hospital”, disse Fidel que estava sob custódia no Hospital Civil Saturnino Lora (uma manobra do governo para afastar a opinião pública do processo judicial). Do pequeno quarto, cheio de militares hostis, o comandante fez a própria defesa baseada no artigo 40 da Constituição de 1940, que considerava legítima a resistência para preservar o direito conquistado para os indivíduos e a nação.

“Em que país está vivendo o senhor promotor? Quem disse que nós promovemos uma revolta contra os poderes constitucionais do Estado? (…) Constituição legítima é aquela que emana diretamente do povo soberano", disse Fidel em seu juízo.

Marta Rojas ainda era uma jovem jornalista cubana quando acompanhou o histórico discurso. Ela recordou no jornal Granma que Fidel Castro, “com a voz enérgica”, explicou detalhadamente o projeto econômico, político e social da revolução que encabeçaria poucos anos depois. 

Fidel Castro, em 1953 (Foto:AFP)O advogado falou sobre o problema da terra, da industrialização, da educação, da habitação e da saúde do povo cubano. Ali, Fidel anunciou a erradicação do latifúndio, o confisco de todos os bens dos estelionatários de todos os governos e seus sucessores e herdeiros. “A História me Absolverá” se converteu no programa de trabalho do movimento revolucionário e da insurreição armada contra a tirania de Batista.

Durante o seu juízo, Fidel enfatizou que o autor intelectual do assalto ao Moncada era, na verdade, José Martí (fundador do Partido Revolucionário Cubano), porque os revolucionários tinham o propósito de refundar a República de acordo com seus ideais. Ele denunciou também a crueldade dos excessos da sangrenta ditadura de Batista, que acrescentou à lista de abusos e ultrajes o assassinato de numerosos rebeldes que participaram do assalto ao quartel Moncada.

Na ocasião do ataque, o jovem advogado e seus companheiros não conseguiram a vitória, mas suas ideias haveriam de triunfar. E agora, 60 anos depois, o motivo é de comemoração pela anistia do tempo ao líder cubano que, em 1953, disse: “Me condenem, não importa. A história me absolverá”.

Quartel Moncada (Foto: AFP)Na terça-feira (15), a jornalista Marta Rojas, juristas e historiadores de várias províncias de Cuba desenvolveram uma jornada científica que abordou aspectos legais e historiográficos do acontecimento, a respeito do qual continuam se lançando novas luzes apesar das profusas investigações e publicações que o refletiram.

Atualmente, no parque-museu Abel Santamaría (Cuba) conservam-se depoimentos materiais daquela sessão judicial.

(Fotos: AFP)