André Singer: as dificuldades da oposição conservadora
André Singer, professor e jornalista que foi porta-voz de Lula, diz que Marina precisará explicar a todo momento sua própria ambição. No PSDB, Aécio Neves será sabotado por José Serra. Fora isso, há ainda a dificuldade em construir um discurso popular. Singer aponta um cenário difícil para a oposição em 2014 e a tendência da presidente Dilma Rousseff ser reeleita em primeiro turno. Confira:
Publicado 05/10/2013 17:25
Dificuldades da oposição
Apenas hoje saberemos se Marina Silva vai se filiar a algum partido a tempo de poder disputar a eleição de 2014 [o artigo foi escrito e publicado antes do anúncio da filia~~ao de Marina ao PSB.- nota da redação].
Independentemente disso, ao ver barrado o registro da Rede pelo TSE na noite de quinta-feira, o grupo da ex-senadora deu mostras de uma fragilidade organizativa inexplicável. Mesmo que tenham ocorrido boicotes cartoriais, como afirmam os sonháticos, caso a coleta de assinaturas tivesse começado há mais tempo — os anos de 2011 e 2012 foram perdidos sem motivo aparente–, a agremiação da ex- senadora não correria hoje qualquer risco.
As duas opções restantes para o que venho chamando de "novo centro" são ruins do ponto de vista da estruturação de uma terceira força na política nacional. A primeira é ficar fora da corrida do ano que vem. Nada impede, é certo, que, uma vez registrada a Rede, o que certamente acontecerá nos próximos meses, Marina seja candidata competitiva em 2018. No entanto, como mostrou a experiência de Lula, as candidaturas presidenciais no Brasil são poderosas alavancas para organizar partidos. Com isso, quatro anos seriam desperdiçados.
Caso opte por filiar-se a qualquer sigla, Marina pagará o preço de, a todo momento, ter de explicar se cedeu à ambição, uma vez que pretende regenerar os hábitos políticos brasileiros e acabou por usar uma espécie de legenda alugada apenas para ser candidata. Em função disso, uma parcela (mesmo que minoritária) mais engajada do seu eleitorado vai se afastar, reforçando o desencanto com as instituições.
De outro lado, a maneira pela qual José Serra conduziu o processo que o levou, no final das contas, a ficar no PSDB indica o estado de desunião em que se encontram os peessedebistas. O longo flerte de Serra com o PPS mostrou o quanto o ex-governador de São Paulo está incômodo com a prevalência de Aécio Neves no ninho tucano.
Ao ser eleito presidente do partido em maio passado, o ex-governador de Minas adquiriu controle sobre a máquina, tornando praticamente inviável qualquer pretensão serrista a ser candidato à Presidência da República. Em troca, as chances de apoio efetivo ao mineiro por parte do paulista são próximas de zero.
Não obstante os problemas organizativos e de unidade da oposição que ficaram claros nesta semana, a sua dificuldade de fundo ainda é encontrar uma via para tornar-se popular. Se não conseguir atingir o chamado "povão" –para isso, precisará mostrar algum compromisso com as necessidades materiais das camadas de baixa renda–, ficará apenas na dependência de uma piora na economia, com reflexo na inflação, no emprego e na renda.
Fonte: portal 247