UBM emite nota neste dia de luta pela descriminalização do aborto

Em sete países da América Latina e Caribe o aborto está totalmente proibido e penalizado: Chile, Honduras, El Salvador, Nicarágua, Haiti, Suriname e República Dominicana. Representantes de entidades feministas entregaram na quinta-feira (26), às embaixadas do Chile e Nicarágua em Brasília a carta de pedido de mudança da legislação. Neste sábado, quando milhares saem às ruas no Dia Latino-Americano e Caribenho pela Legalização do Aborto, a UBM divulga nota.

Por conta da proibição e pela falta de garantia de serviços adequados, muitas mulheres se veem obrigadas a recorrer à interrupção da gravidez na clandestinidade, colocando em risco sua saúde e suas vidas. Nesta quinta-feira (26), entidades feministas e de direitos humanos – como a Articulação de Mulheres Brasileiras (AMB), Católicas pelo Direito de Decidir (CDD), Marcha Mundial de Mulheres (MMM), Rede Feminista de Saúde e Direitos Reprodutivos e Direitos Sexuais, União Brasileira de Mulheres (UBM), União Nacional dos Estudantes (UNE), Central Única do Trabalhador (CUT) – fizeram um ato político, ao entregar uma carta às embaixadas do Chile e Nicarágua e protestar pela vida das mulheres. A carta pede que os governos destas nações reformem, com urgência, a legislação nacional; considerem os acordos do Consenso de Montevideo; tomem ações para evitar a intervenção de setores ultraconservadores e fundamentalistas em programas de políticas públicas sobre saúde e direitos sexuais e reprodutivos.

Maria das Neves, da UBM, afirma que é importante demarcar uma data simbólica, “o papel do Estado é fundamental, os países que legalizaram o aborto, mostram a redução nos casos de morte materna”, ressalta. Maria sustenta ainda, que a mobilização é essencial para que não aja retrocesso na legislação, “como é o caso dos debates sobre a reforma do Código Penal Brasileiro”, complementa. Sobre o protesto, Maria é clara: “os países da América Latina e Caribe precisam se desenvolver para que haja o aprofundamento da democracia. Esse é só o primeiro de muitos atos” finaliza.

Segundos dados da International Planned Parenthood Federation (IPPF), 95% dos abortos realizados na América Latina e no Caribe são inseguros, e aproximadamente 11% das mortes maternas ocorrem em consequência de abortos não seguros. Cabe destacar também que de acordo com dados do International Pregnancy Advisory Services (IPAS), mais de um milhão de mulheres e adolescentes são hospitalizadas a cada ano para receber tratamento por complicações que surgem como consequência de aborto inseguro. Estes números parecem carecer de importância para as autoridades, que deixam de lado ou rechaçam debater e legislar sobre esta situação, embasados em uma falsa moral sustentada em supostos dogmas religiosos. Rosângela Talib, do grupo Católicas pelo Direito de Decidir (CDD), acredita ao levar a proibição ao extremo, não se pensa na vida da mulher, “a igreja católica, nesses países, tem uma força significativa, não só política, mas também simbólica, e ela impede o avanço da discussão sobre o tema”, diz.

A Pesquisa Nacional do Abortamento (PNA) chegou às seguintes conclusões: 60% das mulheres que fizeram aborto têm entre 18 e 29 anos, 24% tinham entre 20 e 24 anos. 23% das mulheres com até 4º ano do Ensino Fundamental já fizeram aborto, enquanto 12% das mulheres com Ensino Médio concluído também já o fizeram. A incidência de aborto entre as mulheres de diferentes religiões é praticamente igual. Mais de uma em cada cinco mulheres já realizaram aborto ao completar 40 anos.

A Organização Mundial de Saúde (OMS), estima que 1 milhão de abortos aconteçam por ano no Brasil, e 20 milhões no mundo. Como consequência da prática insegura e sem as devidas condições de higiene. No Brasil, uma mulher morre a cada dois dias. Já o Ministério da Saúde divulgou que 197 mil curetagens foram realizadas pelo SUS em 2012, incluindo abortos espontâneos.

Saiba qual a situação em alguns destes países:

Nicarágua

Desde 2006, qualquer tipo de prática de aborto está proibido no país, inclusive em casos em que a vida da mulher está em risco, ou quando a gravidez resultou de estupro ou incesto. Em 2011, uma menina de 12 anos, violada por um desconhecido e grávida de 36 semanas, não pôde fazer o aborto terapêutico, apesar de pedidos da família. Segundo as organizações feministas nicaraguenses, quase uma centena de mulheres e de menores de idade morrem a cada ano devido à proibição do aborto terapêutico. As últimas estatísticas oficiais datam de 2007, desde então, o governo não publica mais números.

Chile

Totalmente proibido desde 15 de setembro de 1989, a discussão sobre a legalização do aborto terapêutico foi reacendida em julho deste ano, quando uma menina de 11 anos foi impedida de interromper a gestação de 14 semanas. A garota foi vítima de estupro pelo padrasto, mas mesmo assim não pôde interromper a gravidez por causa da proibição legal. No período de 2000 a 2004, o aborto era a terceira causa de mortalidade materna no país.

El Salvador

Desde 1998, o aborto, em qualquer circunstância, está proibido no país. Em junho de 2013, a Organização das Nações Unidas (ONU) considerou que é chegada a hora de considerar “as graves consequências para os direitos das mulheres” da legislação do aborto em El Salvador e pediu ao Governo salvadorenho para alterar a lei. Em 2004, Isabel Cristina Quintanilla, 18 anos, grávida de sete meses, sofreu um aborto espontâneo em sua casa. A garota foi levada ao Hospital Nacional de San Bartolo, onde foi denunciada por homicídio agravado pela equipe médica e permaneceu algemada na cama. Meses depois, Isabel foi sentenciada em San Salvador a 30 anos de prisão. O código penal do país substituiu o termo “aborto” por homicídio agravado, com pena de 30 a 40 anos de reclusão.

Nota da UBM

A União Brasileira de Mulheres que completou 25 anos de trajetória neste ano, foi fundada com o slogan "Por um mundo de igualdade, contra toda pressão",entendendo que a imposição de uma gravidez indesejada é uma forma de opressão, porque impede as mulheres de decidirem sobre seu próprio corpo, não respeita a autonomia das mulheres.

Cabe destacar também que de acordo com dados do International Pregnancy Advisory Services (IPAS), mais de um milhão de mulheres e adolescentes são hospitalizadas a cada ano para receber tratamento por complicações que surgem como consequência de aborto inseguro.

Hoje as mulheres no Brasil sofrem um terrível ataque, que se se efetivar, significa nada mais do que tortura e mais violência. O Estatuto do Nascituro, conhecido como “bolsa estupro”, é uma forma de aprisionar cada vez mais as mulheres, tornando-as objetos de terceiros que podem violentá-las a qualquer custo com a conivência do Estado. A UBM, juntamente com os demais movimentos cerrará fileiras na luta contra o Estatuto do Nascituro e pela legalização do aborto. “Os direitos humanos das mulheres incluem o direito ao controle e à decisão livre e responsável sobre questões relacionadas a sua sexualidade, sem coerção, discriminação ou violência”, defendeu a coordenadora nacional da UBM, Elza Campos.

Nenhuma mulher deve ser presa, maltratada ou humilhada por ter feito aborto!

Dignidade, autonomia, cidadania para as mulheres!

Pela não criminalização das mulheres e pela legalização do aborto!

Fonte: Site da UBM com informações do Cfmea