Dirigentes dão ênfase na formação e valorização do trabalho

Produtividade com retomada da indústria, ampliação da infraestrutura, incremento sistêmico de tecnologia e investimento na formação educacional. Esses foram pontos centrais unânimes expostos na mesa “Projeto Nacional de Desenvolvimento com Valorização do Trabalho”, ocorrida nesta na manhã desta sexta-feira (23), segundo dia do 3º Congresso Nacional da Central de Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB).


Mesa "Projeto Nacional de Desenvolvimento com Valorização do Trabalho", com Renato Rabelo, Wagner Gomes, Luciano Coutinho e Roberto Amaral/fotos: Deborah Moreira

Centenas de delegados lotaram o auditório Celso Furtado, no Palácio das Convenções do Anhembi, em São Paulo (SP), onde acontece o congresso até o sábado (24). Participaram da mesa o presidente nacional do PCdoB, Renato Rabelo; o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho e o primeiro vice-presidente do PSB, Roberto Amaral. Wagner Gomes, atual presidente da CTB, atuou como mediador.

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“Que os trabalhadores ocupem o papel imprescindível de força motriz das mudanças para o êxito de um projeto nacional voltado para afirmação da soberania, com avanço democrático e progresso social, com desenvolvimento robusto e sustentável e integração solidaria da nossa regiãol”, enfatizou Renato Rabelo.

O presidente do PCdoB lembrou que é preciso uma estratégia para alcançar o desenvolvimento país. “O Desenvolvimento como concepção integral tem no crescimento econômico um de seus principais componentes. O Projeto Nacional deve conter, entre outros componentes, uma estratégia de crescimento. Por exemplo, em certos períodos da Era Vargas se adotou a estratégia de substituição das importações para forçar o crescimento da indústria nacional. O crescimento chinês esteve baseado, e ainda está em boa medida, no esforço exportador. O governo Lula, pode-se dizer, teve o desenvolvimento baseado na ampliação e impulso do consumo”, comparou Renato Rabelo citando Celso Furtado para reforçar a necessidade de estratégias para o crescimento estrutural.

Depois de relembrar os ganhos obtidos durante os 10 anos dos governos Lula e Dilma, o presidente do PCdoB elencou algumas medidas consideradas pelo Partido na busca da concretização de reformas estruturais, fundamentais para o desenvolvimento com valorização do trabalho, como: compor um novo pacto político para avançar nas reformas estruturais; estimular o diálogo entre o governo federal, partidos da base aliada, centrais sindicais, movimento social e as organizações da sociedade civil; construção da unidade das centrais sindicais e do movimento social.

Conjuntura econômica

Já presidente do BNDES, que foi o primeiro a falar, fez uma explanação sobre a conjuntura econômica internacional, lembrando que desde 2008 o mundo vive uma das mais graves crises do sistema capitalista. Ele ressaltou a intervenção dos bancos centrais desde então que, em sua análise, foi fundamental para que a situação não se agravasse.

“Exigiu uma reação dos bancos centrais de forte aumento de liquidez de crédito ao sistema financeiro privado do mundo inteiro. Os Bancos Centrais emprestaram recursos em grande escala em alguns países, enquanto que, a toque de caixa, os parlamentos aprovaram grandes pacotes de ajuda de socorro, de subsídios aos bancos, fundos e até grandes empresas industriais. Muitas perdas em grandes volumes foram socializadas, absorvidas. O tamanho e a profundidade dessa crise só foi contornada em função dessa intervenção”, recordou Luciano Coutinho, que comparou a atual crise com a de 1930, quando a atuação dos bancos centrais foi tímida, o que causou uma onda de quebra geral de bancos, principalmente nos Estados Unidos. “O fato provocou a mais profunda e duradoura recessão que se tem notícia, durando até a segunda guerra mundial, em 1945”, completou.

Os economistas fizeram a lição de casa e, desta vez, aproveitou-se a lição histórica, fazendo com que os BCs atuassem de forma agressiva, permitindo liquidez e crédito no mercado. “Neste momento, para se ter uma ideia, o banco central americano tem mais dívidas vindas do setor privados do que de ativos públicos”, explicitou referindo-se ao fato de que, desde o início da atual crise, os bancos centrais vêm irrigando o sistema internacional com emissão de moeda.

“Esse processo tem consequências futuras. Queria lembrar que não só bancos centrais emitiram muita liquidez, como também em alguma medida acertaram deliberadamente as condições do mercado para reduzir a taxa de juros de longo prazo, realizando operações de compra de papeis de longo prazo”, acrescentou.

Roberto Amaral lembrou que são os trabalhadores que pagam os mais altos preços da crise. “São os trabalhadores que pagam as crises e mais do que nunca essas crises servem para evidenciar a luta de classe. Ai de nós se cairmos no canto da sereia e acreditarmos nessa história de conciliação de classes”, alertou o vice-presidente do PSB, enfatizando que é na crise que o capital se fortalece.

O dirigente partidário questionou a atuação de alguns governos ditos comunistas e socialistas na Europa que acabaram levando o continente à estagnação e considerou que é fundamental que os partidos progressistas em todo o mundo façam uma autocrítica. “É preciso que façamos uma autocrítica: o que é que o movimento sindicalista internacional está oferecendo para a humanidade como alternativa a isso que se vive? Nada. Sequer manter governos socialistas”, exclamou Roberto Amaral.

Novo cenário traz confiança

Ainda de acordo com sua avaliação, neste momento, depois de cinco anos dessa política, a principal economia do mundo capitalista, os Estados Unidos, “começa a dar sinais de que o pior já passou”.

“A indústria da construção começa a dar sinais de recuperações, com aumento do emprego da construção, os preço s dos imóveis neste ano começam a subir [lembrando que foi a crise do setor imobiliário que gerou a onda]. Há sinais moderados de uma recuperação do crescimento”, contou.

No entanto, o fato foi supervalorizado pelas autoridades monetárias norte-americanas que sinalizaram aos mercados, em junho, que o atual processo começará a ser revertido – de emissão de crédito e emissão de moeda. Em efeito cascata, foi suficiente para acender uma luz amarela no mundo inteiro de que, com a alteração do quadro ocorrerá um processo de enxugamento dessa liquidez. Um conjunto de economias em desenvolvimento, entre elas o Brasil, está sendo afetado.

“Porém eu queria chamar a atenção para o fato de que, no caso da economia brasileira, tem uma situação qualitativamente diferente da vivida no passado. Primeiro, o Brasil tem no sistema bancário robusto que não foi exposto ao crédito de má qualidade e tem uma situação saudável , em geral. Segundo, o setor privado brasileiro, indústria e empresas tiveram depois das experiências de 2008, têm balanços robustos. Terceiro, temos uma situação de finanças publicas diferenciada quando comparada ao resto do mundo. O Brasil tem uma dívida liquida sobre o produto Interno Bruto (PIB) de 34%. E, além disso, uma reserva externas na ordem de R$ 370 bilhões”, destacou o economista.

Luciano Coutinho lembrou que o governo lançou um conjunto de medidas importantes para acelerar investimentos em áreas estratégicas como petróleo, gás, energia elétrica, incluindo novas licitações para 2014 de grandes projetos hidrelétricos. Além disso, iniciou um ciclo de grande escala no setor de logística, a partir de concessões, para duplicar o conjunto de rodovias federais e o incremento de outros modais como portos e ferrovias para desafogar o sistema rodoviário, o qual o país é dependente.

“Temos todas as condições e fundamentos para atravessar essa fase turbulenta sem recessão, que já se encontra em fase de recuperação. Essa capacidade de induzir o país a um novo ciclo de investimento, eu tenho confiança que nossas autoridades monetárias da área macroeconômica, junto com essas outras iniciativas, conseguirão ultrapassar esses episódios, sem que a economia brasileira tenha que amargar um processo de recessão, que afetará um grande conjunto de economias em desenvolvimento”, analisou.

O presidente do BNDES salientou a geração de emprego e a formalização do trabalho, conquistadas nos últimos 10 anos, como medidas importantes para proteger os trabalhadores, que são protagonistas nesse importante momento de alavancar o desenvolvimento com produtividade. “Cada vez mais será necessário no Brasil incrementar a produtividade do trabalho. E para incrementar a produtividade no trabalho não existe mágica é preciso não só sustentar o emprego e o crescimento, mas ter trabalhadores cada vez melhor treinados e preparados, é ampliar as oportunidades de educação. É formar e ampliar o ensino técnico e aumentar as oportunidades de treinamento”, considerou.

Tanto ele, quanto Rabelo enfatizaram a agenda do movimento sindical, que interessa aos trabalhadores do Brasil, é a agenda da produtividade. “Só um país com um sistema econômico produtivo e eficiente é que poderá ultrapassar as dificuldades. São lições da história: só as economias suficientes e produtivas conseguem enfrentar as dificuldades e ultrapassa-las”, declarou Coutinho. “Essa é a agenda positiva que precisará ser enfrentada e tenho certeza que será enfrentada”, concluiu, se comprometendo a manter a meta de desenvolvimento do país com justiça social e redução das desigualdades.

Já o presidente do PCdoB enfatizou três pontos importantes: “Para que haja uma nova arrancada do desenvolvimento, baseada na estratégia de crescimento, enfatizou três objetivos centrais: a retomada da industrialização brasileira, a construção de um patamar mais elevado de infraestrutura e um avanço sistêmico da tecnologia e da sua inovação. Além do alcance de uma etapa de educação universal que eleve o nível do saber e do conhecimento da população.”

Com relação ao atual panorama brasileiro, Roberto Amaral enfatizou que na correlação de forças políticas não se pode deixar levar pela conciliação e manter a luta pelo socialismo. “Não temos que ter um projeto eleitoral reformista, mas sim revolucionário. Não temos que reformar o sistema capitalista. Temos que propor a revolução. Desde João Goulart que tentou implementar as reformas de base. Cinquenta anos depois ainda estamos aqui pedindo a reforma agrária, a reforma tributária para a taxação de grandes fortunas”, disse Amaral, lembrando que foi a ausência de um reforma agrária que levou as grandes cidades ao colapso.

"Esse é o caminho necessário para alcançarmos os objetivos maiores da transição ao socialismo no Brasil”, concluiu Renato Rabelo, referindo-se ao engajamento dos trabalhadores na busca de um projeto nacional mais progressista.

Deborah Moreira
Da redação do Vermelho