Espião de Israel detido nos EUA critica libertação de palestinos

Jonathan Pollard é um israelense que está cumprindo sentença de prisão perpétua nos Estados Unidos, acusado de espionar o país a favor de Israel. Ele quebrou o silêncio que vem mantendo há 28 anos, nesta sexta-feira (16), ao publicar um artigo altamente crítico no jornal Jerusalem Post, para condenar a decisão do governo de Israel de libertar prisioneiros palestinos, no contexto das negociações de paz.

Jonathan Pollard - Associated Press

Acusando Israel de ser “um estranho tipo de democracia que não tem consideração qualquer pela vontade do povo”, Pollard criticou veementemente o governo israelense por libertar prisioneiros palestinos, dentro do quadro recentemente revivido das negociações de paz.

Pollard, que foi sentenciado à prisão perpétua em 1987, por dar a Israel documentos classificados da inteligência estadunidense, escreveu que ao libertar prisioneiros, apesar do protesto das famílias das vítimas dos crimes de que são acusados os palestinos, Israel estava efetivamente “desonrando seus mortos”.

Leia também:
Corte de Israel rejeita petição contra libertação de palestinos
Palestinos debatem internamente sobre negociações com Israel
Israel e Palestina discutem agendas para negociações sem os EUA
 
Os 26 prisioneiros liberados são, em grande parte, acusados por crimes com os quais não têm necessariamente ligação comprovada (uma vez que as autoridades israelenses atribuem a um grupo o crime cometido por um indivíduo), e muitos deles estão presos há quase 30 anos, após terem sido detidos e julgados de forma irregular para os parâmetros internacionais.

Além disso, é notória a classificação de toda a forma de resistência palestina contra a ocupação militar israelense como “terrorismo” e "crimes" cometidos contra os civis israelenses.

Pollard foi detido em 1986, e recebeu cidadania israelense em 1995, mas Israel recusou-se a reconhecer que recebeu informação secreta de Pollard até 1998.

Com o passar dos anos, vários pedidos foram feitos por líderes israelenses para que Pollard recebesse o perdão das autoridades estadunidenses. Recentemente, vários artigos indicaram que o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu pediu a libertação de Pollard em troca da libertação de 103 prisioneiros palestinos detidos em suas prisões.

Fontes indicam que Netanyahu fez o pedido ao secretário de Estado norte-americano John Kerry como contrapartida pela exigência palestina de libertar os prisioneiros antes da retomada das negociações de paz. Entretanto, os estadunidenses negaram o pedido, ainda que declarando que ele seria considerado.

Após a recusa, o escritório do primeiro-ministro disse que Netanyahu “trouxe o assunto a tona de forma consistente em encontros com autoridades supremas dos EUA”.

O presidente estadunidense Barack Obama rejeitou todos os pedidos feitos por Netanyahu e pelo presidente israelense, Shimon Peres, para o perdão a Pollard. Ambos insistem em um “julgamento justo” diante de um comitê que possa lhe dar a condicional, previsto para 2015.

Entretanto, para os prisioneiros palestinos, Israel não conhece a prática de “julgamento justo”, e de acordo com o Ministério dos Prisioneiros da Autoridade Palestina, desde o início da Segunda Intifada (o levante popular palestino contra a ocupação israelense), em 2000, até 2011, Israel havia detido mais de 70.000 palestinos.

De acordo com organizações locais, quase 5.000 palestinos estavam detidos em prisões israelenses em 2011, muitos sob a permissiva classificação de “prisioneiros securitários” (como os que foram libertos), inclusive os mais de 500 condenados à prisão perpétua, por suspeita de envolvimento em ações contra a ocupação israelense.

Com Ha'aretz,
Moara Crivelente, da redação do Vermelho.