Mateus Fiorentini: Vas bien Fidel!
Há alguns dias conversava com um cubano que faz a segurança do local onde moramos em Havana. Revolucionário de primeira ordem tem na sua história a participação na missão cubana em Angola. Essas conversas sempre foram muito produtivas, já que rendiam um bom e qualificado debate. O segurança que comentei era o que pode-se dizer em bom cubano, um quadro.
Por Mateus Fiorentini*, no Blog Buenasche
Publicado 13/08/2013 15:16
Nesse dia passo por ele que indaga: – “Oye” era contigo mesmo que eu precisava falar! – disse. Bueno, diga lá, respondo. A indagação dele era sobre as manifestações de junho, queria saber o que levava aquela multidão às ruas. “Qual o motivo pelo qual essa gente protesta? O Brasil não melhorou com o Lula e a Dilma?” pergunta. Assim, me ponho a responder dizendo que, sim o Brasil havia avançado muito, porém existem problemas estruturais que ainda não foram resolvidos. “Mas, se o Brasil melhorou por que essa gente protesta¿” pergunta novamente. Então lhe digo: “veja só companheiro, se vocês aqui em Cuba que fizeram uma revolução ainda enfrentam um monte de problemas, imagina nós que apenas iniciamos um ciclo de mudanças”. É nesse momento que diz algo que acabou com a conversa e estimulou o pensamento. Disse ele: “Não venha falar do meu país. Pois, o líder dessa revolução sofreu mais de 300 tentativas de assassinato por parte do maior império do mundo e vai morrer de velho!!” Não que a nossa conversa tenha tido algum tom de crítica, longe disso a defesa da revolução cubana é algo que fazemos de coração, mas a reação dele foi sensacional.
É assim que é possível entender a magnitude dos 87 anos de Fidel. Não se trata de apenas mais uma pessoa dentre tantas que chegam aos 87. Mas sim, a biografia de um dos maiores líderes da história. Dessa forma, é possível discordar de Fidel, porém, é impossível deixar de considerar seu critério e sua avaliação. A sua autoridade é sustentada em uma história de vida marcada pela presença nos principais momentos históricos de quase um século. Fidel esteve no Bogotaço participando das insurreições juvenis do período, foi deputado, organizou o levante de um povo e provou que, sim, era possível fazer uma revolução socialista na América Latina. E não bastasse isso a liderou debaixo do nariz do império. E quando estes últimos acharam que a ousadia era demasiada e tentaram invadir Cuba o próprio Fidel liderou a operação militar que derrotou o exército dos EUA em Playa GIron. Com essas e outras façanhas lhe deram o título de Comandante Invicto.
Recentemente a CIA divulgou seus arquivos que revelaram as diversas tentativas de assassinato de Fidel. Eram mais de 300 e das maneiras mais inacreditáveis, que iam da tentativa de envenenar o charuto que ele fumava até encher uma roupa de mergulho com pigmento ao qual Fidel era alérgico. Quando Fidel foi submetido a uma cirurgia no intestino de caráter ultra delicado a máfia cubano-americana em Miami não escondeu sua alegria e promoveu inúmeras festas comemorando, antecipadamente, a morte de Fidel. Pois o comandante enfrenta a cirurgia, se recupera e quando a direita, cheia de rancor e ódio, se prepara para atacar novamente a Fidel leva outro tapa de luvas. Enquanto o acusavam de personalista e ditador Fidel da mais uma prova da sua grandeza quando com naturalidade se afasta da presidência de Cuba. Assim, demonstra que a Revolução Cubana não é obra de um indivíduo, mas sim, de todo o povo cubano.
É por isso que a frase do nosso segurança é emblemática. A esse cidadão latino americano devemos respeitar, pois cada dia a mais de vida de Fidel é uma derrota imposta ao Imperialismo. Assim, segue vigente a frase dita por Camilo Cienfuegos a Fidel durante um discurso onde o líder pergunta: “Voy bien Camilo?” e ele responde: “Vas bien Fidel!”
*Mateus Fiorentini é estudante de História da UFRGS, Secretário executivo da Organização Continental Latino-americana e Caribenha de Estudantes (OCLAE).