Preparação para lançamento de teses mobiliza comunistas

Com as manifestações de ruas de junho, o Brasil passou a viver uma nova realidade, mas a mídia não mostra que os protestos também são contra esse domínio da comunicação, como o da Globo, que, em uma decisão inédita, chegou até tirar do ar a novela para mostrar imagens do povo nas ruas.

Preparação para lançamento de teses mobiliza comunistas - Maurício Concatto/Divulgação

Com essa introdução, alinhada à conjuntura dos 10 anos de governos Lula e Dilma, Adalbeto Frasson, dirigente nacional e estadual do PCdoB e presidente do partido em Porto Alegre, deu o tom dos debates acerca da preparação para as teses a serem lançadas para o 13º Congresso do Partido Comunista do Brasil.

A plenária regional de mobilização, e preparatória para as discussões que o PCdoB irá fazer até novembro, lotou o auditório do Sindicato dos Metalúrgicos de Caxias do Sul na noite de segunda-feira. Entre os participantes, destacavam-se quadros importantes como o deputado federal Assis Melo, vereadores, secretários de governo municipais, dirigentes e militantes comunistas. Os trabalhos de mesa foram coordenados pelo presidente do PCdoB de Caxias do Sul, Sílvio Frasson.

Os comunistas foram convocados para uma grande mobilização para o lançamento das teses, que ocorre dia 10 de agosto em Porto Alegre, com a presença do presidente nacional do partido Renato Rabelo. O ato deverá ainda contar com a participação do governador Tarso Genro. Em Caxias, o lançamento regional ocorre no dia 17 de agosto.

Frasson reconheceu os avanços que o Brasil teve com os governos progressistas de Lula e Dilma, mas defendeu que é preciso avançar mais, dar um passo a mais. O comunista criticou ainda o papel que a mídia vem exercendo na cobertura das manifestações, em uma nítida tentativa de fortalecer a direita e a volta do retrocesso.

“As manifestações são legítimas e normais. As bandeiras que o povo está trazendo para a rua são bandeiras do PCdoB. São normais, num primeiro momento, esses movimentos sem direção, mas é preciso apontar o rumo, conduzir essa marcha. Tivemos grandes avanços com os governos Lula e Dilma, que tiraram 40 milhões da miséria. Mas a grande mídia mostra cartazes que colocam a presidenta Dilma no centro das cobranças, com as forças da direita em um esforço contínuo para atacar”, reforçou Frasson.

O dirigente abordou ainda questão dos juros e os investimentos no campo social:

“O povo está pedindo mais dinheiro para a saúde, educação e segurança, mas os números não são muito favoráveis aos anseios da população. Em 2011, o Orçamento da União destinou R$ 170 bilhões para a saúde e educação e R$ 236 bilhões para o capital financeiro, os banqueiros. É o momento de o governo dar um passo adiante.”

O secretário estadual de Organização do PCdoB, Jorge Moreira, fez coro às declarações de Frasson.

“Precisamos crescer, nos organizar, para encaminhar as lutas do povo. O PCdoB tem uma opinião desde o 12º Congresso, que dialoga com o desenvolvimento. Agora, é a hora de fazermos um chamamento vigoroso para o nosso 13º Congresso em debates com os trabalhadores, juventude, mulheres e intelectualidade, porque não queremos discutir as teses do PCdoB só internamente. Queremos debater com o conjunto da sociedade”, ponderou Moreira.


Assis aponta o caminho para as mudanças

Assis recorre a exemplos para convocar militantes para preparação do 13º Congresso.

“É preciso pensar como constrói um partido do tamanho das necessidades para atender as tarefas do partido para o hoje e para o amanhã, para as lutas políticas e para consolidar suas bases. O partido do amanhã é necessário para se ter coesão das idéias. Quem é o PCdoB? Quais bandeiras defende?”

Na sequência, o próprio deputado tentou responder os questionamentos que fez.

“O PCdoB é um instrumento para a transformação e para a revolução, para mudar a sociedade capitalista. Hoje, não existe mais classe operária para os patrões. Dizem que somos todos colaboradores. Mas como fica a divisão da riqueza?”

Assis usou de uma garrafa de água para ilustrar sua fala, dizendo que o trabalhador paga o seu salário com uma garrafinha e o restante do mês toda a sua produção vai para o patrão.

“Não adianta o trabalhador fazer 400 horas por mês e achar que vai ficar rico. Ele vai colaborar com o capital. Tem de ter consciência disso. 50% do PIB vão para o tal mercado, o que nós, trabalhadores, não conhecemos. Em 2007, Lula reduziu os juros e aumentou os investimentos. Dilma diz que o Brasil luta por avanços e a Europa contra o retrocesso. Então, temos de avançar.”

O deputado defendeu ainda a taxação das grandes fortunas para que de tenha recursos para investir na saúde e na educação.

“Quem diz que o plebiscito para a reforma política é golpe é quem não gosta que o povo participe, seja ouvido. Temos de estudar as teses do nosso partido para que tenhamos a nossa opinião própria quando formos discutir o partido que queremos.”

Assis avalizou o projeto liderado por Dilma, mas não deixou de cobrar mudanças necessárias. E criticou a tentativa de retrocesso de setores da mídia e da direita.

“Com Dilma, sim, mas para avançar. Há degraus a subir na luta social e não a descer. O caminho do Brasil é o novo projeto de desenvolvimento, defendido pelo PCdoB, com uma sociedade socialista. Temos de saber para serve o PCdoB. Com Dilma, sim, para avançar na redução da jornada, pelo fim do fator previdenciário, pelos 10% do PIB para saúde e educação. É isso que pensa o PCdoB.”

De Caxias do Sul,
Roberto Carlos Dias