MST organiza seminário sobre questão agrária; PCdoB participa
Acontece, até sábado (29), o seminário A Questão Agrária no Brasil, promovido pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), pela Associação Brasileira de Reforma Agrária (Abra) e pela Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF), em Guararema, região metropolitana de São Paulo (SP).
Por Deborah Moreira, de Guararema para o Vermelho
Publicado 28/06/2013 17:54
Abertura contou com cerca de 200 dirigentes
Para a mesa de abertura, realizada na quinta-feira (27), foram convidados representantes do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), Partido dos Trabalhadores (PT) e Partido Comunista Brasileiro (PCB), além de representante da Abra, Pastoral da Terra, Via Campesina e MST.
Antes da mesa de abertura oficial do seminário, que começou por volta das 9 horas, a 5ª turma Latino-Americana da ENFF fez uma apresentação lembrando as principais lutas no campo do continente. Depois, os presentes cantaram a Internacional, enquanto eram hasteadas as bandeiras da Via Campesina e do MST.
João Paulo Rodrigues, dirigente nacional do MST, fez uma saudação inicial lembrando que o encontro tem como proposta refletir e analisar a questão agrária brasileira “e entender o papel da reforma agrária e, em especial, fazer uma reflexão sobre o papel do campesinato, da agricultura familiar e seus desafios para o próximo período”.
Outros partidos políticos como PSB e Psol também foram convidados para contribuir ao longo da programação. Dirigentes de organizações do campo brasileiro e sindicatos, além de jornalistas da imprensa trabalhadora e intelectuais que pesquisam o tema compunham a plateia de cerca de 200 pessoas, reunida no espaço batizado de Plenária Rosa Luxemburgo. Em suas paredes era possível ver um cartaz da filósofa marxista polonesa e seis telas da artista comunista Edíria Carneiro.
O violeiro Zé Pinto fez algumas intervenções durante a abertura do evento. Ao fundo, as telas da artista Edíria Carneiro/fotos: Deborah Moreira
De acordo com a liderança do MST, o objetivo inicial do seminário não é fechar documentos conjuntos, mas sim um conjunto de “iniciativas, métodos e processos para compreender a questão agrária”. Ele lembrou, ainda, que há uma grande expectativa sobre o resultado desse encontro tendo em vista que há pelo menos 11 anos, quando se discutiu o 2º Plano de Reforma Agrária, não se reuniam tantas organizações para abordar o tema.
O secretário nacional de Comunicação do PCdoB, José Reinaldo Carvalho, também enfatizou a importância do encontro para “fomentar o debate e estimular a investigação, cientifica e política, para elucidar um dos temas mais importantes da sociedade brasileira, que é a questão agrária” e o papel da reforma, bem como do campesinato na “luta pela libertação nacional e social do nosso povo”.
José Reinaldo lembrou que o PCdoB considera a reforma no campo como estratégica para o processo de luta: “O nosso partido acompanha de maneira atenta a questão agrária do país e considera da maior importância esta iniciativa do MST, da ABRA e da Escola Nacional Florestan Fernandes. Nós consideramos, em que pese todas as mudanças de caráter objetivo que se têm produzido na sociedade brasileira, especificamente no campo, que a questão agrária continua sendo uma questão não resolvida do ponto de vista das classes trabalhadoras e do campesinato, e permanece sendo uma importante questão estratégica do processo de luta revolucionária do nosso povo”.
O dirigente comunista falou sobre o contrassenso que vive o país tendo um governo progressista, mas ainda dominado pelo latifúndio capitalista, monopolista, que prevalece no modelo agrícola. “O Brasil vive um paradoxo que consiste no fato de que temos um governo democrático e progressista já há uma década, numa situação em que o imperialismo internacional, especialmente o imperialismo estadunidense, e as classes dominantes brasileiras ainda exercem o essencial do poder político, do poder econômico, do poder sobre os meios de comunicação, sobre a educação e sobre a vida cultural brasileira”, declarou.
Por fim, o secretário de Comunicação do PCdoB também comentou o cenário dos recentes protestos de rua no Brasil, que para ele sinaliza positivamente na conjuntura nacional: “São os movimentos sociais e populares dos trabalhadores que exercem um papel decisivo na situação, em particular o Movimento Sem Terra, que já tem profundas raízes fincadas em nossa sociedade e tende a jogar um papel cada vez mais importante nessa luta estratégica.”
Representando o PT, Gilney Viana, responsável pelo Projeto de Direito à Memória e à Verdade da Secretaria Nacional de Direitos Humanos, falou sobre a necessidade das instituições representativas repensarem a visão sobre o mundo agrário, bem com a mobilização de massa. “É uma oportunidade de ouvir a todos os atores reunidos, seus pontos de vista. Nós membros do Partido dos Trabalhadores precisamos reciclar nossa visão do mundo agrário, da perspectiva que isso pode ter. As ruas estão nos ultrapassando, mas há certas dinâmica que às vezes nos atropelam”, disse.
Para ele, o seminário é oportuno também para debater a nova conjuntura. “É muito oportuno que o seminário ocorra neste momento, embora não tenha sido pensado nessa conjuntura. Essa mudança de conjuntura vai implicar em todas as nossas lutas, é preciso repensar na mudança das posturas dos atores, dos movimentos sociais, colocando na agenda um agente qualitativo. Se não compreendermos isso, nossas bandeiras históricas não serão capazes de dialogar com esse novo momento”, salientou.
No entanto, Gilney reforçou o acúmulo das experiências dos movimentos ao longo dos tempos. “Acredito que temos experiência, humildade, tradição de luta e somos capazes de disputar a hegemonia não só nos salões, mas nas ruas, onde serão definidas as nossas etapas da luta política. Na medida que você se posiciona corretamente pode ser que os ideais prospectivos de uma revolução, de uma transformação socialista possam nascer”, finalizou.
Já o presidente da Comissão Pastoral da Terra (CPT), dom Enemésio Angelo Lazzaris, também da Via Campesina, frisou a contribuição que deve ser dada para a unificação das lutas e o fortalecimento dos povos originários e campesinos: “Que sirva para fortalecer o enfrentamento do Estado, dos grandes projetos, do agro e do hidronegócio, do latifúndio e do capital. Ainda bem que estamos percebendo que temos esse poder nas mãos, dos grandes projetos do agro e hidronegocio latifúndio e do capital, e também contribuir em favor dos povos originários, dos indígenas”.
Guilherme Delgado, da Abra, lembrou que a agenda do seminário, apesar de ter sido planejada antes das manifestações de rua recentes, também será oportuna para discutir os acontecimentos recentes.
“Estamos em um momento crítico e a reflexão sobre o futuro faz todo o sentido. Provavelmente vamos ter bastantes contribuições nesses três dias para uma perspectiva maior, que é retrabalhar a reforma agrária na perspectiva da reforma agrária. Talvez a gente não tenha dado a devida valorização que a reforma é um conjunto de políticas que faz a relação do estado e da sociedade, no campo, portanto, não é apenas um programa de assentamento. Devemos pensar a questão na perspectiva do campesinato como sujeito. E a crítica central deve ser sobre o poder dominante para levantar as possibilidades do devir”, disse Guilherme Delgado.