Ataques a Gaza: Israel e Egito destroem túneis e agravam situação

O Egito intensificou ações contra túneis entre o Sinai e a Faixa de Gaza, causando uma alta expressiva dos preços de petróleo e cimento no território palestino e a escassez de alimentos. Gaza sofre um bloqueio militar brutal imposto por Israel, e os túneis servem como alternativa de abastecimento. Além disso, os ataques aéreos de Israel deste domingo (23) e segunda (24) ameaçam a situação humanitária mais uma vez, e um ministro sionista já disse que Israel precisa considerar "conquistar Gaza".

Túnel de Gaza - AFP

Os palestinos envolvidos com os transportes através dos túneis dizem que a campanha egípcia, que começou em março e incluiu o alagamento de passagens subterrâneas, foi expandida nas duas últimas semanas, antes de uma onda de protestos liderados pela oposição prevista para começar no próximo domingo (30).

O presidente egípcio Mohammed Mursi ficou sob o fogo politico no país, com um desafio forte à sua autoridade por militantes islamistas no Sinai, que atacaram membros das forças de segurança egípcias na península.

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O exército egípcio, lutando para preencher um vácuo securitário no Sinai desde a queda do autocrata Hosni Mubarak, em 2011, prometeu fechar todos os túneis sob a fronteira com a Faixa de Gaza, dizendo que são usados por militantes dos dois lados para transportar ativistas e armamentos (a mesma justificativa dada por Israel para a destruição).

As investidas contra os túneis foram contra as expectativas que muitos palestinos tinham de que Mursi, um membro da Irmandade Muçulmana, com a qual o Hamas (partido que governa a Faixa de gaza) tem ligações diretas, facilitaria significativamente as restrições na fronteira, também sujeita ao bloqueio de Israel.

“Os negócios estão clinicamente mortos”, disse Abu Bassam, que emprega 40 trabalhadores em um túnel palestino em Rafah, uma cidade fronteiriça, onde fica a passagem para o Egito. “Os túneis estão praticamente completamente fechados”.

Apenas 50 ou 70 túneis, das centenas que haviam provido uma linha vital comercial para a Faixa de Gaza, ainda estão abertos e em operação parcial, segundo os seus gerenciadores. Outros túneis são usados para o transporte de armas para militantes não só do Hamas como de outros movimentos armados, como a Jihad Islâmica.

“Hoje temos que pagar a mais para convencer um motorista egípcio a trazer produtos para nós (…), o que resulta numa alta dos preços dos materiais básicos aqui”, disse Abu Ali, outro gerenciador de túneis, em pé ao lado do seu túnel deserto.

Outro dono de túnel, que emprega 24 trabalhadores, disse que agora está trazendo apenas 50 toneladas de alimentos por dia, em comparação com 300 toneladas, há duas semanas. Além disso, muitos residentes de Gaza disseram que estão sem acesso ao gás de cozinha por dias, com menos suprimentos vindos dos túneis e com a escassez das importações de Israel.

Ataques aéreos: "conquistar Gaza"

Um repórter da agência palestina Ma'an disse que várias aeronaves F16 atacaram quatro locais atribuídos ao braço armado da Jihad Islâmica, o segundo maior grupo na Faixa de Gaza, depois do partido do governo, o Hamas.

Ataques também foram noticiados em áreas vazias perto da cidade de Khan Younis e no distrito de Deir al-Balah, e vários túneis foram alvo dos bombardeios, na passagem de Rafah, ainda sem vítimas anunciadas.

Há exatos sete meses Israel lançou a sua Operação Pilar de Defesa, em que durante oito dias os seus ataques aéreos mataram cerca de 160 pessoas e, mais uma vez, causaram grande destruição à infraestrutura palestina.

         Foto: Bernat Armandque / AP
      
           Cidade de Gaza, após um ataque aéreo israelense em 18 de novembro de 2012, durante a Operação Pilar de Defesa.

Depois disso, segundo o jornal israelense Haaretz, “a fronteira com Gaza esteve o mais tranquila já visto em 13 anos, até mais tranquila que o período diretamente posterior à Operação Chumbo Fundido”.

Na operação, de dezembro de 2008 a janeiro de 2009, o regime israelense atacou por 22 dias a Faixa de Gaza, deixando cerca de 1400 mortos e uma destruição ainda maior, com ações que chegaram a ser condenadas, sem eficácia, pela Organização das Nações Unidas.

Uma vez mais, a mídia israelense noticia os ataques aéreos de Israel, ainda sem cifras sobre as vítimas ou sobre a destruição, como uma resposta ao lançamento de mísseis desde a Faixa de Gaza, contra o seu território. Ainda, o Haaretz explica a situação como uma disputa entre o Hamas e a Jihad Islâmica, que teve dois dos seus militantes condenados pelo governo de Gaza e, por isso, fez os lançamentos, ação que vai contra a nova postura adotada pelo primeiro, que se aproxima da Autoridade Palestina, na Cisjordânia, para o estabelecimento de um governo de unidade nacional.

Segundo o Haaretz, “a resposta de Israel [aos mísseis da Jihad Islâmica] foi relativamente contida, e para todos os efeitos, parece que o cessar-fogo obtido [com a mediação do Egito] depois da Operação Pilar de Defesa, em novembro passado, será mantido”.

Entretanto, diversos ataques isolados tanto das Forças de Defesa de Israel (IDF) quanto da aviação israelense têm sido denunciados, mesmo que em “incidentes menores”, como classificam alguns meios, mas que poderiam pôr em questão o compromisso israelense com o mencionado cessar-fogo, principalmente enquanto mantém a ocupação e o bloqueio militar sobre toda a Palestina.

Neste sentido, o líder do Comitê de Relações Exteriores e Defesa do Kenesset (parlamento israelense), Avigdor Lieberman, ultra-nacionalista e direitista, disse que Israel agora não tem outra escolha "a não ser considerar conquistar Gaza", de acordo com o Haaretz.

Com informações do Haaretz,
Moara Crivelente, da redação do Vermelho