Publicado 18/06/2013 10:11 | Editado 04/03/2020 16:28
O volume de notícias diárias sobre violência que vem ocupando o norte, o sul, o leste e oeste do espaço midiático e do inconsciente do homem contemporâneo está alterando a forma pacífica de existir da família brasileira.
Só no Ceará, nos primeiros quatro meses deste ano, morreram mais de 11 pessoas por dia assassinadas com arma de fogo. Esses números denunciam, entre outras coisas, que nesse período mais de 1.300 famílias cearenses tiveram de conviver com a morte trágica e inesperada de um filho, pai ou marido.
Não é necessário ser um estudioso da psicologia para imaginar o tamanho do tsunami emocional que se forma no âmbito de uma família quando uma tragédia dessas bate à sua porta no meio da madrugada ou em plena luz do dia. Na matemática não existe um número que possa quantificar o tamanho da dor que um pai precisa enfrentar para se despedir de um filho que foi assassinado. Para agravar, diante desse quadro dantesco do aprofundamento das desigualdades, do desespero humano que as manchetes denunciam e da necessidade urgente de uma solução, surgem o oportunismo cínico e a exploração política e comercial da desgraça, que em nada contribui para pacificar o País contaminado pela movimentação marginal do capitalismo drogado.
Recentemente denunciei da tribuna da Câmara Federal o interesse da indústria bélica de acelerar Projeto de Lei que facilita a aquisição de armas pelo cidadão comum com seu belo argumento de que “só o ladrão está armado”. Em outras palavras, “precisamos ocupar o outro lado do mercado”. Por mais que eu tente, não consigo ver com naturalidade a cena de um pai de família do século XXI, acompanhado dos filhos e netos, numa tarde de domingo, comprando pipocas com uma pistola na cintura. Isso sob o argumento de que é para se defender da violência.
Construir novos e modernos presídios de segurança máxima, duplicar ou triplicar o efetivo das forças policiais e militares, capacitar a tropa e a inteligência do comando, reduzir a maioridade penal, instalar câmaras em toda a cidade, endurecer as leis com penas de morte e perpétua para crimes hediondos. Confesso que não acredito em nenhuma dessas propostas isoladamente nem na ação conjunta de todas elas para reduzir os índices de violência e criminalidade, como acredito numa escola obrigatória, integral, gratuita e de qualidade para todos.
*João Ananias é deputado federal (PCdoB-CE)
Fonte: O Povo
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