Lalo: A TV comercial é uma doença mortal para a nossa sociedade 

Comunicação pública e comunitária, qual o papel que estes modelos podem exercer no interior da sociedade? Essa foi a pergunta que norteou o debate nas atividades do segundo dia do 1o Curso Nacional de Comunicação do Centro de Mídia Barão de Itararé, que está ocorrendo até domingo (12) em São Paulo.

Joanne Mota, do Portal Vermelho em São Paulo 


Mesa da manhã debate papel das rádios comunitárias. Foto: Márcia Carvalho (Fecosul/RS)


As atividades da manhã desta sexta-feira (10) tiveram como tema ‘Rádio e TV Comunitárias e Públicas’. A primeira mesa, que contou com a participação de José Sóter, coordenador da Associação Brasileira de Rádios Comunitárias (Abraço) e de José Eduardo Souza, da Rádio Cantareira de São Paulo. Essa mesa teve como tema ‘Como organizar uma Rádio Comunitária (aspectos legais e práticos).

Durante a discussão, os debatedores refletiram sobre o cenário das rádios comunitárias no Brasil, seus problema e desafios. “Nossa luta diária é pelo fortalecimento da radiodifusão comunitária, com foco em sua universalização, mas para vencer isso, antes de tudo, precisamos vencer questões básicas como financiamento”, ponderou Sóter.

E frisou: “Já é um fato aceito por vários segmentos da sociedade que a rádio comunitária é uma indutora do desenvolvimento local em amplos aspectos. Isso reaviva a perspectiva da promoção da inclusão pela comunicação radiofônica, por meio do qual a comunidade é agente ativo da comunicação, para o fortalecimento da identidade local, promoção dos produtos e serviços do entorno, estímulo à produção artística e cultural local”, finalizou o coordenador da Abraço.

Papel das TV Comunitárias

A segunda mesa da manhã teve como tema ‘Como fortalecer as TVs Comunitárias’, que contou com a participação do presidente da Associação Brasileira de Canais Comunitários (Abccom) e de Pedro Pozenato da TV comunitária de Caxias do Sul.

O debate versou sobre os desafios dos canais de TV comunitária no Brasil problematizando a importância de se nacionalizar a comunicação comunitária e municipalizar a comunicação brasileira. A questão do financiamento também foi pontuada durante o debate, o que segundo os debatedores continua sendo o principal entrave.

“As TVs comunitárias são grandes agentes no fortalecimento do campo da comunicação popular. Elas são grandes agentes para enfrentar a atuação do meios hegemônicos e no fomento da afirmação do pensamento livre, comprometido com a liberdade total de expressão, colocada a serviço dos interesses populares, totalmente, excluídos das programações das tevês abertas, privadas, comprometidas, essencialmente, com o lucro e não com a educação verdadeira, voltada para a formação da consciência relativamente à afirmações dos valores humanos”, resumiu Miranda.

Doença mortal para a sociedade

Dando continuidade as tarefas na parte da tarde, o curso concentrou suas discussões na problemática da TV Pública no Brasil. O debate foi iniciado pelo pesquisador e professor da Universidade de São Paulo (USP) Laurindo Lalo Leal, que de início reafirmou o papel das categorias diversidade e pluralidade como pontos fundamentais na hora de se pensar conteúdos para TV.

"Não possuímos um TV pública que faça contraponto ao modelo comercial no Brasil", Lalo Leal Filho.

Ao refletir sobre o papel da TV comercial no Brasil, Lalo Leal externou que “esse seguimento é uma doença mortal para a sociedade brasileira, e a TV pública é uma espécie de profilaxia para este mal”. E acrescentou que “para por fim a esse mal é preciso pensar em um TV pública forte, que apresente um duplo papel, por um lado mostra o absurdo produzido hoje pelo sistema comercial, ao mesmo tempo em que apresente um conteúdo pedagógico de qualidade. Desse modo, provaremos que uma outra TV é possível”.

No entanto, o pesquisador destacou que infelizmente o controle das comunicações sempre esteve nas mãos das grandes oligarquias no Brasil daí nós estarmos tão atrasados em um modelo alternativo ao que é feito hoje.

“Não possuímos um televisão pública que possa fazer esse contraponto. E um dos motivos é o atraso no desenvolvimento deste segmento. A TV Brasil se propôs como a primeira TV publica no Brasil, mas ela não possui força suficiente para se contrapor ao que as comerciais exercem”, explicou

Paradigma latino americano

Para Laurindo Leal o Brasil está perdendo o bonde em relação aos modelos na América Latina e lembrou que a Venezuela, desde 2004, já possui uma nova lei de comunicação. Além disso, adicionou que países como a Argentina, Uruguai e Equador também seguiram o mesmo caminho.

Explicando mais precisamente sobre as contribuições da Ley de Medios da Argentina, o pesquisador destacou durante a sua fala que este marco regulatório é mais moderno do mundo. Segundo ele, para elaborar esse marco legal, o governo argentino foi buscar o que há de melhor nos marcos legais vigentes no mundo.