Direita se assanha e chavismo segue firme na defesa da revolução
A pequena diferença de votos que obteve Nicolás Maduro nas eleições deste dia 14, deu uma nova injeção de ânimo para a oposição venezuelana acirrar a luta política e ideológica contra a Revolução Bolivariana.
Por Renata Mielli*, de Caracas
Publicado 16/04/2013 12:49
Depois de muitas derrotas políticas e eleitorais, a direita na Venezuela experimenta seu primeiro crescimento significativo numa eleição nacional. E o candidato Henrique Capriles está usando e abusando da retórica e do capital político amealhado neste episódio para incitar a população a não reconhecer o resultado eleitoral e apostar na crise institucional do país.
A maior cadeia de televisão da Venezuela, Globovisión – que tem maior audiência e alcance nacional – passou todo esta segunda-feira dando voz a analistas da direita e aos pronunciamentos do candidato Capriles, convocando à população a não reconhecer o presidente eleito e a atacar o Conselho Nacional Eleitoral.
De outro lado, a postura de Nicolás Maduro não foi a de alguém que está na defensiva ou em desvantagem política. Tampouco fez um discurso mais moderado, como muitos analistas disseram que ele deveria fazer
Maduro elevou o tom na defesa da revolução bolivariana, denunciando a postura golpista da direita e seus laços com o imperialismo norte-americano. Foi contundente na crítica a posição da Espanha, de não reconhecer o resultado da eleição, acusando países de tentarem violar a soberania venezuelana. Continuou afirmando que não fará pactos com a burguesia e que seguirá no processo de aprofundamento da revolução bolivariana e para criar um novo polo hegemônico na América Latina, uma hegemonia alternativa.
Que busca a direita
Um dos objetivos principais da direita é buscar apoio internacional. Já conquistaram prontamente a chancela dos Estados Unidos, da OEA e da Espanha. Outro objetivo é utilizar o poder econômico para criar escassez de produtos, ampliar a crise econômica e criar uma agenda negativa para o governo.
O pedido de contagem de 100% dos comprovantes de votos tem o intuito de ganhar tempo e ser um discurso político para a opinião internacional e instrumento de mobilização internamente. Vale lembrar que como está previsto na Constituição, no ato do fechamento das mesas eleitorais, 54% das urnas é auditada, na presença dos fiscais de todas as candidaturas e do CNE. Nas mesas com uma urna, confere-se esta urna; as com duas, se confere uma, nas que têm 3 se conferem duas. É uma conferência estatística que busca uma margem de mais de 50% para garantir que não houve erro no processo automatizado.
Nicolás Maduro obteve 265.256 votos a mais do que Nicolás Maduro e alcançou 50,75% do total de votos. Apesar de a margem ter sido pequena com relação ao segundo candidato, que obteve 48,97%, muito dificilmente uma conferência das urnas restantes (46%) alteraria o resultado final da eleição. Aliás, dizer que uma contagem manual de comprovantes de papel é mais segura do que uma votação eletrônica, seria retroceder no aprimoramento de processos eleitorais, que já é eletrônico em muitos países do mundo, inclusive no Brasil.
Outro registro importante a se fazer é que outros processos eleitorais já tiveram pequena margem de vantagem e se deu a vitória para a oposição venezuelana, como na eleição de Henrique Capriles por 45 mil votos (2%) para o governo do Estado de Miranda, em dezembro de 2012, ou na reforma constitucional de 2007, que foi rejeitada pelos venezuelanos por uma margem de menos de 1%. Nas duas ocasiões o governo reconheceu o resultado e a oposição – que foi vitoriosa – não questionou em nenhum momento o processo eleitoral e o CNE.
Então, porque a oposição insiste neste ponto: para desacreditar o sistema eleitoral, criar animosidade interna e jogar a opinião internacional contra a democracia na Venezuela. Além do mais, eles estão cumprindo um importante papel para garantir os interesses dos Estados Unidos na América Latina. Uma derrota do chavismo alteraria significativamente a correlação de forças na região, enfraquecendo as iniciativas de integração como Unasul, Celec e Alba. Há também todo o interesse estadunidense nas reservas de petróleo do país, que com o fim da revolução bolivariana poderia estar, novamente, privatizada por petroleiras internacionais.
País polarizado
A disputa política e ideológica na Venezuela se dá em um nível muito elevado e polarizado. Os meios de comunicação participam ativamente dessa disputa. A população é politizada e a maioria tem já uma posição bem definida. É um ambiente político altamente inflamável.
Mas, até quando a direita vai sustentar essa posição, é uma questão que ainda é cedo para responder. Vão criar uma crise e estão dispostos a chegar as vias de fato, dando um golpe contra o governo, como em 2002? Muitos especulam que este pode ser um desfecho, mas vale lembrar que as forças armadas venezuelanas estão do lado da revolução bolivariana e vão defender o mandato de Nicolás Maduro.
Também não parece que exista um apoio massivo dos eleitores de Capriles à tese de golpe. Claro, há uma militância mobilizada e todo um segmento descontente com o chavismo que está aproveitando o momento para expressar sua posição. Mas com o passar dos dias, ao que parece, deve se esvaziar a tensão, assim como o discurso da direita.
Neste momento, o governo está empenhado em mostrar unidade e iniciar o seu trabalho. Maduro já está conformando seu gabinete e agindo como presidente eleito. Diferente do que tem se especulado na mídia brasileira, o chavismo está unido para enfrentar os ataques da direita e não parece ser a hora de parar para fazer balanços e análises dos motivos que levaram a esta votação tão apertada.
E o principal está óbvio – Maduro não é Chávez e este ingrediente novo na política venezuelana e na condução da revolução bolivariana precisa ainda ser consolidado. Mesmo sem ser uma liderança interna – Maduro foi por seis anos ministro das relações internacionais – mesmo em meio a comoção pela morte de Chávez, mesmo com apenas 10 dias de campanha eleitoral e sob um ataque sem trégua da direita ele foi eleito. A revolução tem seus problemas, o Estado precisa ser aprimorado, os problemas econômicos precisam ser enfrentados e tudo isso deve ser levado em conta para avaliar o resultado.
Essa avaliação deve ser feita no dia a dia do novo governo, no aprimoramento da revolução e no fortalecimento da unidade entre os chavistas, não só dentro do Partido Socialista Unificado da Venezuela – PSUV, mas no interior do Gran Polo Patriótico.
*Renata Mielli é jornalista e integra, em Caracas, o coletivo ComunicaSul de comunicação colaborativa. O Vermelho integra o coletivo.