Em ato prestigiado, comunistas comemoram 91 anos
Há exatamente 91 anos, nove delegados cantavam, em baixíssimo tom, a Internacional Comunista depois de consagrar a fundação do Partido Comunista do Brasil. Cena diferente do ato, realizado hoje (25), na Câmara Municipal de São Paulo, onde os militantes entoaram em alto e bom som as palavras de ordem que enaltece a combatividade do partido mais antigo do país.
Publicado 26/03/2013 00:46 | Editado 04/03/2020 17:16
O proponente da sessão solene, o vereador e presidente estadual do PCdoB, Orlando Silva, escolheu o emblemático salão 1º de maio, que ficou lotado de jovens e trabalhadores, homens e mulheres que atentos ouviram as lideranças nacionais de diversos partidos que compareceram na comemoração.
O presidente nacional Renato Rabelo disse que a data é importante por ser o ano do 13º Congresso do Partido e, também, por marcar a entrada da legenda no decênio de seu centenário.
Duas faces da luta
Renato sublimou duas facetas da trajetória dos comunistas brasileiros. A primeira é a contribuição dos militantes para a construção do país e também o co-protagonismo do PCdoB no novo ciclo político aberto pela eleição de Luís Inácio Lula da Silva.
“O aporte do Partido Comunista do Brasil, a construção do nosso país, se exprime em ideias e realizações. Decorrem de um elenco de batalhas e grandes confrontos políticos, de sentido mudancista, que se manifesta na história geral do país, desde os primórdios do século XX ao início do século atual”, interviu Rabelo.
Tem a marca constante e coerente da luta pela emancipação nacional. Somente com a libertação nacional é possível a libertação social e esta, por sua vez, fecunda a libertação nacional.
Segundo o dirigente, em todo curso da luta em que foi forjado, o PCdoB sempre defendeu a liberdade política para os trabalhadores e a luta pelos seus direitos, o crescimento econômico com progresso social, a luta pela elevação da renda e do trabalho, redução das desigualdades e concretização da reforma agrária de um país de terras agricultáveis.
São lutas que formam o “DNA” do partido, como a luta pela a emancipação da mulher e garantias para a juventude; a defesa da cultura nacional e a elevação da consciência política do povo brasileiro; a defesa nacional do nosso território e das nossas riquezas; o fortalecimento das nossas estatais estratégicas e a indústria nacional; a luta persistente contra o domínio do nosso país pelas grandes potências; o princípio defendido com ardor pela paz e a solidariedade e cooperação entre os povos; contra a beligerância e hegemonismo do imperialismo.
“O Partido Comunista do Brasil sempre se norteou pelo avanço civilizacional, a construção de uma sociedade superior e mais avançada que o sistema capitalista. A conquista do socialismo nas condições da realidade do Brasil”, reforçou o presidente nacional comunista.
A segunda faceta anunciada por Rabelo foi o co-protagonismo do PCdoB na edificação do governo Lula e Dilma. O presidente relembrou que a legenda foi co-fundadora da Frente Brasil Popular e desde 1989 auxiliou com ideias programáticas, contribuindo com a vitórias da frente progressista em 2002. “João Amazonas foi idealizador e permanente defensor do projeto Lula Presidente da República Federativa do Brasil, infelizmente não chegou a ver a histórica vitória”.
Para Renato, “essa vitória abriu caminho para avançar em direção da construção de uma Nação soberana, democrática, justa e solidária com seus vizinhos e povos do mundo. É a sinalização de uma nova via de desenvolvimento”, salientou.
Em toda trajetória dos últimos dez anos, não fomos parceiros somente em momentos de glória, mas sem jactância nos empenhamos em defender o governo da ação desestabilizadora da oposição conservadora e reacionária.
Mensagem da Presidenta
A ministra da cultura, Marta Suplicy, representou a presidenta Dilma Rousseff na cerimônia. Na mensagem enviada pela líder política nacional, Dilma congratulou os 91 anos do PCdoB.
“Mais antiga legenda em atividade no Brasil, o PCdoB mantém, ao longo de sua história, a mesma cara, não mudou de lado. A prioridade do Partido sempre foi a defesa dos oprimidos, dos excluídos, dos mais necessitados e, em última análise, dos interesses nacionais”, leu Marta.
Na carta, a presidente ressaltou que o PCdoB sempre esteve ao lado do povo brasileiro e, por ficar ao lado do povo brasileiro, custou a vida de centenas de militantes ao longo desses 91 anos. “A essas mulheres e homens, presto hoje as minhas homenagens”.
“O PCdoB contribui decisivamente para o caráter democrático, progressista e popular ao meu governo, como fez com o governo de Luís Inácio Lula da Silva”, escreveu a presidenta do país.
Aliança progressista
Presente no ato, o ex-presidente Lula relembrou algumas batalhas travadas pelos comunistas e também sobre a atuação protagonista da bancada do Partido na Câmara e no governo federal. “O papel do PCdoB foi, tem sido e tenho certeza que continuará sendo fundamental”, falou.
Lula defendeu a aliança tática entre o Partido dos Trabalhadores e o PCdoB .“Muitos fizemos pelo Brasil nos últimos anos e hoje temos um país que alcançou um patamar nunca antes imaginado, mas ainda há muito a ser feito. O caminho para que o povo brasileiro viva com dignidade ainda é longo. A manutenção da nossa parceria, da nossa sintonia em torno de um objetivo comum é fundamental para que esse objetivo seja alcançado”, intercedeu o ex-presidente.
Roberto Amaral, vice-presidente nacional do Partido Socialista Brasileiro (PSB), componente da base de sustentação do governo Dilma, também citou a Frente Brasil Popular e seus ideólogos, João Amazonas e Miguel Arraes. “Essa mesa que o PCdoB reuniu aqui é a grande frente popular brasileira. E só o PCdoB poderia reunir”, declarou.
“Nós estamos completando os primeiros dez anos do governo centro-esquerda e para nós não é ponto de chegada é ponto de partida. Precisa avançar, mas este avanço não dependerá de nosso voluntarismo, mas da correlação de força que precisa se estabelecer na sociedade, mas acima de tudo, da unidade das forças progressistas”, defendeu Roberto Amaral.
Destaque para as mulheres
A vice-prefeita Nádia Campeão, que representou o prefeito Fernando Haddad, discorreu sobre a interpretação de “muitas pessoas de ter na maior cidade do país uma vice-prefeita comunista”.
“Uma das explicações está no fato do PCdoB desde a sua origem ter se veiculado aos trabalhadores e a luta da classe operária e São Paulo é o berço da luta operária no país, daqui se originaram lutas históricas e movimentos grevistas importantíssimos”, discorreu Nádia.
Outra explicação para a vice-prefeita está no fato do partido dar espaço e oportunidade para as mulheres. “Não estaria hoje nesta posição que ocupo, senão fosse a luta das mulheres do PCdoB, senão a confiança depositada pelo partido no papel das mulheres”.
A deputada Manuela d’Ávila, líder da bancada comunista na Câmara Federal, relembrou que a eleição de uma mulher para presidência do Brasil foi “tão ou mais difícil que eleger um operário”. Segundo a deputada gaúcha, ainda tem no país uma política machista e conservadora”.
“Nós temos uma militância diferente, que tem a maior parte da sua militância constituída por jovens e mulheres, que enfrentam a jornada dupla de trabalho, mesmo em um ambiente de desconstrução da política, isso é motivo para comemorar”, exaltou Manuela.
Outras lideranças também participaram do ato. Entre elas, o presidente nacional do PT, Rui Falcão, o presidente do PSD, Gilberto Kassab, o governador da Bahia, Jacques Wagner, o presidente municipal do PCdoB, Jamil Murad, o presidente da Câmara Municipal de São Paulo, José Américo, o prefeito de Jundiaí, que na mesa representou todos os prefeitos e vice-prefeitos comunistas, Pedro Bigardi, o deputado federal Protógenes Queiroz, os deputados estaduais, Alcides Amazonas e Leci Brandão, o presidente da União Nacional dos Estudantes, Daniel Ilescu, o presidente da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras, Wagner Gomes e o secretário de promoção e igualdade racial municipal, Netinho de Paula.
De São Paulo, Ana Flávia Marx