Divanilton Pereira: CGDC, Marcha das Centrais e os 0,9% do PIB
Os trabalhadores classistas apresentam como tática central a luta por um novo projeto nacional de desenvolvimento que valorize o trabalho. Convencemo-nos ainda mais dessa convicção ao examinar o pífio resultado do crescimento do PIB em 2012.
Por Divanilton Pereira*
Publicado 09/03/2013 17:04
O consumo cresceu 3,1% através dos gastos das famílias – leia-se poder aquisitivo – e do governo elevou-se em 3,2%. Já a indústria teve uma retração de 0,8%, acompanhada da agropecuária que caiu em 2,3%. O setor de serviços subiu 1,7%. Os investimentos – uma variável estruturante para quaisquer economias – continuam limitados (18,1% em 2012) sofrendo uma redução neste ano de 4% em comparação com a do ano passado.
Percebe-se aí que as políticas que incrementam a renda da trabalhadora e do trabalhador são eficazes e evitaram um rebaixamento ainda menor no nível do crescimento nacional.
Ilustro com esses números para também revelar que o Governo Dilma não deve continuar ouvindo apenas as demandas do setor produtivo no Brasil. Consideramos importante esse diálogo, mas não pode ser único, exclusivo e excludente.
CGDC: a Câmara da exclusividade
Desde a instalação, via Decreto 7.478 em 2011, da câmara de políticas de gestão desempenho e competitividade (CGDC), que o governo privilegia sua atenção aos empresários membros dessa instância. Jorge Gerdau, Abílio Diniz, Antônio Maciel Neto e Henri Reichstul estão dando o tom nos projetos que de lá saem e influenciam os caminhos do governo. Em seu conjunto, beneficiam seus segmentos, sem, no entanto, realizarem contrapartidas.
No que pese os acertos das medidas anticíclicas governamentais – com destaque para a redução da taxa básica de juros e a redução da tarifa elétrica – outras se caracterizam como paliativas e são apropriadas quase que exclusivamente pela contabilidade das empresas.
Mesmo recebendo inúmeros estímulos via desonerações fiscais e tributárias, o setor privado sequer retribui com sua parte, que seria no mínimo a garantia de mais investimentos. Os números acima comprovam esse descompromisso. Além disso, descumprem acordos e promovem demissões em algumas cadeias produtivas no país.
Por uma Câmara que valorize o trabalho
A retomada da marcha das centrais em Brasília no último dia 06 de março, em sua 7ª e vitoriosa sessão, que contou com mais de 50 mil entre trabalhadoras e trabalhadores, é uma comprovação que o governo não dialoga adequadamente com o movimento sindical. Não à toa, essa foi uma das reclamações que mais perpassou entre as opiniões das centrais sindicais realizadoras dessa manifestação (CTB, CUT, FS, NCST, UGT e CGTB).
A conquista de uma menor taxa de desemprego possível é muito importante para qualquer nação, mas não admitimos que as políticas públicas parem por aí.
A pauta do mundo do trabalho não deve estar restrita a essa conquista. Como dizem os Titãs, “A gente não quer só comida…”.
As principais reivindicações da marcha das centrais como a redução da jornada de trabalho sem redução salarial, o fim do fator previdenciário, 10% do PIB para a educação, contra a rotatividade da mão de obra e pela ampliação dos investimentos públicos, revelam o compromisso do movimento sindical brasileiro para muito além do que alguns nos generalizam como corporativistas e economicistas. Os classistas defendem um projeto de nação, mas que tenha como sua centralidade a valorização do trabalho.
Nessa direção, exigimos do governo Dilma mais trabalho e menos Gerdau. Trabalho não como realização física, mas como categoria em sua ampla dimensão.
A instalação de uma câmara que discuta e promova a valorização do trabalho é uma necessidade para e pelo Brasil. No entanto, para a sua instalação e realização, exige que não paremos a agenda mobilizadora da classe trabalhadora, pelo contrário. Para continuarmos disputando os rumos desse governo por um novo projeto nacional de desenvolvimento, e que valorize o trabalho, muito protagonismo político devemos exercer na luta política brasileira.
E para o cumprimento dessa perspectiva, a unidade de ação das centrais sindicais brasileiras tem caráter estratégico.
Mãos à obra.
Rio de Janeiro, 8 de março de 2013.
*Divanilton Pereira é membro da executiva nacional da CTB e da Federação Única dos Petroleiros (FUP)
Fonte: www.ctb.org.br