Mulheres do Araguaia: Traços comuns entre as comunistas

A Comissão da Verdade “Rubens Paiva” da Assembleia Legislativa de São Paulo realizou hoje (07) uma audiência pública para coletar informações sobre as mulheres paulistas que participaram da Guerrilha do Araguaia.

Mulheres do Araguia - ALESP
Entre todos os depoimentos foi possível pincelar alguns traços da personalidade das guerrilheiras, traços que também estão presentes nas mulheres militantes do PCdoB na atualidade. 

Leia também: 

Audiência ouve familiares de mulheres da Guerrilha do Araguaia
 
A herança é valorosa, afinal, não é qualquer partido político que tem em sua história a marca de protagonismo, entusiasmo, convicção, dedicação, serenidade, solidariedade, abnegação e consciência do papel que pode jogar para a construção de uma sociedade mais justa.

Maria Amélia de Almeida Teles, a Amelinha, que também foi presa pelas forças represssoras, abriu a audiência para relatar a dor que muitas mulheres passaram no período da ditadura militar.

Segundo Maria Amélia, as militantes apoiaram todos os tipos de protestos e manifestações, sendo eles armados ou não.

“Essas mulheres tiveram suas crianças na clandestinidade, nas prisões. Viram suas crianças expostas às sessões de tortura, ameaçadas ou mesmo torturadas. Elas sofreram abortos dolorosos”, ressentiu Amelinha.

Helenira Resende de Souza Nazareth

Pela tática arquitetada pelos dirigentes, havia mais de uma frente e, segundo a Criméia Alice Schmidt de Almeida, também atuante nas terras de Xambioá, Helenira ficou muito conhecida porque pertencia ao destacamento C, que foi o primeiro a ser atacado.

Helenira, que foi vice-presidente da União Nacional dos Estudantes, atuava no movimento estudantil da Universidade de São Paulo e auxiliou a formação do Centro Acadêmico de Letras (CAEL). Foi lá que conheceu a então estudante Cláudia de Arruda Campos.

“A primeira impressão que tive da Helenira foi: meu Deus, que mulher mais bonita. E a segunda foi a seguinte: que mulher inteligente”. As duas organizavam as lutas do Centro Acadêmico, “mas era Helenira que era a nossa figura pública”.

Protagonista e firme, Helenira formou gerações na universidade estadual. Antes de partir para o Araguaia, encontrou a irmã Helenalda Resende no dia do seu casamento.

“Ela estava escondida perto da porta e foi lá me ver, me deu um abraço e foi embora”, recordou-se Helenalda, que até hoje luta para que os documentos que retratam a morte da irmã tornem-se públicos, assim como onde está a sua ossada.

Crimeia lembrou dos traços da personalidade da combatente. “Ela era muito decidida, brincalhona, bonita e exigente. Ela tinha muita consciência da discriminação que sofria por ser mulher e negra. Ela tinha muito orgulho disso”, relembrou.

Helenira que chegou a usar o codinome Fátima, era conhecida na universidade como “Preta”.

Everaldo Gonçalvez, outro colega de universidade ressaltou as qualidades da guerrilheira como “uma pessoa muito vibrante e de decisão quando falava. Ela era sempre vibrante”.

Maria Lúcia Petit da Silva

Maria, como era chamada na ação de combate à repressão, era ainda uma menina quando ingressou na militância política. A sua porta de entrada foi o movimento secundarista paulista que conheceu quando estudava Instituto de Educação Fernão Dias, que fica bairro de Pinheiros. Depois de ser formar, cursou magistério e passou a dar aulas para crianças em uma escola da zona norte da capital. Paciente e serena, ela se “entusiasmava com a sua experiência com as crianças”.

Um traço marcante dos comunistas, principalmente dos jovens é a fé no ser humano. Talvez, seja por isso que Maria não desconfiou de João Coioió, camponês infiltrado que armou a emboscada para a sua morte.

A matriarca da família Petit teve mais dois filhos mortos pela ditadura, Jaime e Lúcio Petit. “Ela morreu sem saber o paradeiro da filha e chegou presumir que os filhos estavam exilados e justamente por isso, não podiam entrar em contato com os parentes”, informou Laura Petit, irmã de Maria Lúcia.

Luiza Augusta Garlippe

Luiza veio do interior do estado de São Paulo para estudar enfermagem na Universidade de São Paulo. Chegou a ser enfermeira-chefe e ajudou a construir a Associação dos Funcionários do Hospital das Clínicas (HC).

Seu irmão Saulo Garlippe, que também era do PCdoB naquela época, a viu pela última vez em um encontro marcado, em frente ao Cine Jóia, no centro da cidade. A maior preocupação de Luiza antes de ir para a guerrilha era com a sua família.

“Ela me falou que estava indo fazer um trabalho militante no Araguaia, mas me pediu para eu cuidar da nossa família”. A militante pediu para o irmão inventar uma mentira sobre a sua ausência para não preocupar e expor a sua família.

Suely Yumiko Kanayama

A estudiosa e descendente de japonês Suely Yumiko Kanayama passou com louvor entre os vinte primeiros colocados no vestibular da USP para cursar língua portuguesa e germânica.

A Pequenina Suely foi a última a chegar na região do Araguaia. A sua estatura e físico chegou a preocupar os militantes que já estavam lá. “Ela era mesmo muito pequenininha, era a tradicional figura de uma nissei”, disse Cláudia Arruda que foi a “recrutadora” da estudante de letras.

Segundo Cláudia, Suely era muito carinhosa e amiga. “Eu ficava brincando de pegar o pézinho dela e a gente ria dessa brincadeira”.

Conhecida como “Chica”, a militante do destacamento B da Guerrilha é lembrada como uma mulher decidida. Cláudia citou uma frase que ouviu a respeito de Suely: “Ela era como um samurai, que nos orgulhou com a sua firmeza e ultrapassou todos os seus limites para defender aquilo que ela acreditava”, rememorou a colega.

De São Paulo,
Ana Flávia Marx