José Borzacchiello da Silva: De volta ao Centro de Fortaleza
O Centro é o bairro com mais praças, equipamentos culturais e edifícios de prestígio. O Centro reafirma sua importância nas áreas de saúde e educação. Veja o número de colégios, cursinhos, faculdades, hospitais, clínicas. Contorne o Centro e veja a quantidade de novas edificações prontas ou em fase de construção. Vivemos a fase do retorno ao Centro.
Publicado 16/01/2013 16:31 | Editado 04/03/2020 16:28
O Centro de Fortaleza não pára. Uma breve caminhada revela um perfil urbano renovado. São vários os empreendimentos de grande porte que se aproximam do tradicional núcleo da cidade – evidências de um movimento de volta, de uma redescoberta das vantagens que o Centro oferece. Basta ver os canteiros de obras nas vias paralelas às avenidas Dom Manuel, Heráclito Graça/Duque de Caxias e Imperador. São áreas que formam um anel periférico imediato ao Centro, contendo a Aldeota Centro, Joaquim Távora, Piedade, parte do bairro de Fátima, Jacarecanga, entre outros.
Fortaleza cresceu junto ao riacho Pajeú, protegida pela fortaleza de Nossa Senhora da Assunção. Ruas retas e estreitas organizadas em forma de tabuleiro de xadrez davam lugar a casas baixas construídas em lotes estreitos. O Centro consolidou-se, era a própria cidade, atendia as demandas comerciais, administrativas, de serviços e de entretenimento, tornando-se excepcional polo de trabalho e lazer e ponto de encontro de diferentes classes sociais. Sua dinâmica era o termômetro do maior ou menor vigor da economia cearense.
A cidade cresceu, avançou em várias direções. A partir dos anos 70 do século XX o Centro viu-se relegado com o surgimento de bairros modernos com ruas largas e lotes maiores. É tempo de consolidação da ocupação da Aldeota, Parquelândia, Fátima, Cidade dos Funcionários… Não tardou e o Centro viu-se esvaziado de importantes funções, inclusive, a administrativa. A sede do governo é transferida para o Palácio da Abolição, na Aldeota. A Assembleia Legislativa se instala no Dionísio Torres. A Câmara segue o caminho da Aldeota e depois do Luciano Cavalcante. O Fórum foi para a Água Fria.
Novas e grandes estruturas como shoppings provocam a fuga parcial do comércio e de serviços especializados como os de saúde. Entretanto, esta dispersão não impede a permanência e garra do centro tradicional de Fortaleza.
O Centro se transforma, torna-se o polo preferencial de um vasto território metropolitano. Os novos usuários garantem uma dinâmica excepcional àquele setor da cidade. A visível decadência da infraestrutura e do mobiliário urbano é compensada pela animação mantida por diferentes funções, coroadas por um clima de confraternização que se estende do amanhecer ao entardecer quando calçadões e vias transformam-se em locais de encontro. Donos de bares e restaurantes garantem a festa com a alocação de mesas, cadeiras e som.
Enquanto isso, a cidade em sua ávida dispersão, afasta-se cada vez mais de seu centro, até constatar que alcança seu limite. A dispersão acentuada revelava desvantagens locacionais como distância e difícil mobilidade e acessibilidade. Pouco a pouco as construtoras redescobrem as vantagens do Centro e do entorno. O Centro é o bairro com mais praças, equipamentos culturais e edifícios de prestígio. O Centro reafirma sua importância nas áreas de saúde e educação. Veja o número de colégios, cursinhos, faculdades, hospitais, clínicas. Contorne o Centro e veja a quantidade de novas edificações prontas ou em fase de construção. Vivemos a fase do retorno ao Centro.
José Borzacchiello da Silva é Geógrafo e professor da Universidade Federal do Ceará
Fonte: O POVO