Participações em governos são grandes alavancas políticas
Em 2012 o PCdoB elevou sua atividade eleitoral e tem agora maiores responsabilidades institucionais. Os 52 prefeitos (no fim de 2012 foi confirmado mais um, na cidade de Arcos no Centro-Oeste mineiro, com cerca de 30 mil habitantes) e 85 vice-prefeitos já empossados o atestam, mormente alguns deles em grandes municípios como Contagem, Jundiaí, Belford Roxo, além de Olinda. Vice-prefeitos em São Paulo, Recife, Rio Branco, entre as capitais, igualmente.
Por Walter Sorrentino*
Publicado 07/01/2013 16:26
Tais vitórias são expressão da vontade majoritária dos eleitores, que aprovaram nas urnas um programa de governo e esperam que os eleitos o realizem e governem para todos. Há, desse modo, um grau de autonomia relativa entre os eleitos e o partido, imbricados porém no sucesso da gestão e promoção do prestígio dos comunistas.
Outra é a situação – mas também muito importante, pelas dimensões – da participação de comunistas em várias centenas de administrações alcançadas com o apoio do PCdoB. Trata-se também, muitas vezes, de grandes municípios do país. Integrar o secretariado tem suas particularidades. É expressão do vigor e prestígio do PCdoB pelas indicações, além dos méritos dos indicados. Entretanto, nessas funções, é mais indireta a representação das posições partidárias, pois se representa e defende o programa de governo aprovado nas urnas, e se integra equipe liderada pelo chefe do Executivo eleito. É certo, de todo modo, que conferem força ao partido na medida da capacidade de gestão, correção com a coisa pública, e em servir aos interesses do povo.
O que é preciso salientar é que nessas funções se alcançam relações político-sociais de grande largueza e profundidade. Mergulha-se a fundo na realidade socioeconômica, política e cultural dos munícipes. Nessa dimensão, pode-se supor que têm igual ou maior alcance do que os próprios vereadores que, se de um lado representam mais diretamente as posições partidárias, de outro têm o mandato como expressão proporcional de parcelas da sociedade, de uma base social e eleitoral determinada. Compreende-se que os graus de autonomia na atividade que desempenham, num e noutro caso, com relação ao governo e ao próprio partido, são diferenciados.
Tudo somado – governos conquistados, participações em governos aliados (e mesmo governos do PCdoB) e vereadores eleitos –, a questão é que há uma multiplicidade de agentes políticos comunistas novos, em condições privilegiadas de serem grandes alavancas políticas para aprofundar relações com a sociedade. Estimativamente, alcançam cerca de dois mil quadros nessas condições.
A ideia é que as direções partidárias não descurem de dar sentido a esse complexo de ação política institucional, seja qual for a forma que assume. Descurar seria permitir autonomização nos cargos, falta de acompanhamento e sistematização frequentes do trabalho realizado, deixar predominar interesses particularistas – locais ou pessoais –, disputas despolitizadas, falta de horizonte.
A questão central é a de unificar as participações sob o signo de um projeto político-partidário claro. Nas condições concretas de cada situação e correlação de forças, mas no âmbito mais geral da essência da política, isto é, da sua lei geral que é a hegemonia, a qual hoje é disputada pela via eleitoral-institucional, compreende-se que o projeto político encontra seu vértice concreto no projeto eleitoral 2014, como síntese de múltiplas determinações que não desconhecem a luta social e a luta de ideias. Portanto, o modo mais grave de descurar na direção da frente política institucional será a falta de um projeto político coletivo, bem definido e concreto, que incorpore e subordine o trabalho institucional partidário, em especial quanto ao papel de secretários municipais em governos aliados, visando ao projeto eleitoral para 2014.
Se já temos mais experiência com os cargos proporcionais, em governos (não hegemonizados por comunistas) essa experiência existe mas não é tão antiga e cristalizada assim. Data da década de 1990 a virada de uma parte da esquerda no Brasil e na América do Sul para a ênfase na atividade institucional visando acumular forças – o PT deliberou em seu 1º congresso, em 1991, uma estratégia que ampliava espaço para a luta institucional, dado o descenso da luta popular e a queda do Muro de Berlim. No caso do PCdoB isso tardou até meados da década de 2000. Há que recuperar esse atraso relativo, mantendo as características de um partido responsável, isto é, que combina sua política programática e o fortalecimento eleitoral da legenda, este derivado daquela.
Daí a insistência: as participações em secretariados de governos aliados serão tão numerosas quanto os vereadores eleitos e, embora em grau relativo menor de autonomia, têm no mínimo tanta importância quanto aqueles para alavancar o projeto político partidário, ao lado do êxito dos governos liderados por comunistas. E a prova dos nove para tais participações são os êxitos nas gestões – a ser conferidos em 2016 – antecedidos pelo êxito do projeto eleitoral para 2014, que compreende a continuidade do atual ciclo político dominante e o fortalecimento dos comunistas no Congresso e governos estaduais.
*Walter Sorrentino é secretário de Organização do PCdoB