César Barreira: O legado de um guerreiro

Por *César Barreira

Dia 26 de novembro recebi com muita tristeza a notícia do falecimento, em Brasília, de Sérgio Miranda, ou simplesmente Zó, como era carinhosamente tratado este grande defensor das liberdades democráticas.

Como estudante do Curso de Matemática da UFC, nas lides de 1968, ganhou destaque no movimento estudantil, nas lutas pelas liberdades políticas e sociais e na defesa da universidade publica e de qualidade. Sérgio destacou-se como excelente aluno de matemática, dom este que lhe foi muito útil na missão como parlamentar em discussões sobre finanças e orçamentos.

Com o AI 5 de1968, Sérgio Miranda, como militante do PCdoB, foi forçado a entrar na clandestinidade, tendo sido expulso do curso de Matemática. Havia duas possibilidades: ir para a guerrilha do Araguaia ou continuar suas atuações nas articulações do partido. Sérgio fez esta segunda opção, o que lhe custou uma longa trajetória na clandestinidade, lutando por um Estado Democrático de Direito, até o final de 1970. Em 1993 foi eleito, pelo PCdoB, como deputado Federal por Minas Gerais e reeleito por mais três mandatos. Foi vereador por Belo Horizonte entre 1988 e 1992.

Além da sua postura firme e sempre muito coerente na defesa de uma sociedade mais justa e democrática e na preservação das conquistas sociais, foi um defensor intransigente dos direitos dos aposentados e pensionistas. Sérgio ganhou destaque na Câmara Federal, também pela sua participação inteligente, criteriosa e firme nas comissões de orçamento, da previdência e trabalhista. Teve a ética e o idealismo como marcas da sua atuação política. Em 2005 deixou o PCdoB, o qual militou durante 43 anos e entra para o PDT.

Quando penso em Sérgio e, provavelmente todos os seus amigos e familiares iriam concordar comigo, visualizo a frase do Che Guevara “Hay que endurecerse, pero sin perder la ternura jamás”. Ele encarnou como ninguém esta máxima, pois foi uma pessoa doce, firme e com tempo para brindar os amigos com uma frase carinhosa.

A sua postura de vida foi a indignação diante de práticas que considerava fora de um princípio ético. Concordava com a ideia de que a indignação deveria vigiar as injustiças do mundo e criar formas de resistência.

Ao nos deixar, Sérgio junta-se a outros companheiros que já se foram, como Dower Cavalcante, Bergson Gurjão, Chico Passeata, Ângela Albuquerque e tantos mais que transformaram a vida breve, em longuíssima contribuição para melhoria do mundo.

*César Barreira é sociólogo, professor titular em sociologia da UFC

Fonte: O Povo

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