Dirceu: Arquivo de coronel morto pode elucidar crimes da ditadura
Como vocês acompanham, sempre escrevo aqui no blog que não adianta protelar por mais tempo a tentativa de esconder os assassinatos, torturas, desaparecimento de corpos de adversários e outros crimes cometidos pela repressão durante a ditadura militar.
Por José Dirceu, em seu blog
Publicado 21/11/2012 09:56
A verdade virá à tona um dia, é inevitável, inclusive por confissões e documentos fornecidos pelo lado que reprimiu, sejam agentes da repressão ou seus familiares. É o que acontece agora, com esta reportagem de hoje [terça-feira, 20] do Rubens Valente na Folha de S.Paulo sobre o assassinato de um coronel do Exército e o fornecimento, por seus familiares, de parte dos documentos de seu arquivo à polícia gaúcha.
No início deste mês, num assassinato a tiros ainda sob investigação e sobre o qual ainda não há conclusões, foi morto em Porto Alegre o coronel da reserva do Exército, Júlio Miguel Molinas Dias. Ele foi comandante do DOI-Codi-Rio em 1981, quando do desaparecimento do ex-deputado Rubens Paiva em janeiro e do atentado no show comemorativo do 1º de maio no Riocentro naquele ano.
Arquivos falam do Riocentro e de Rubens Paiva
Menos de um mês depois de sua morte, a família do oficial entregou documentos de seus arquivos à Polícia Civil gaúcha. Entre estes documentos há um relato manuscrito do coronel sobre o Riocentro e duas guias de entrada e saída de material explosivo do Exército na época do atentado.
E mais: há um termo do Exército que confirma apreensão de objetos pessoais de Rubens Paiva no DOI-Codi-Rio. A parte da documentação sobre Rubens Paiva pode apontar até os últimos agentes da repressão que mantiveram contato com ele ainda em vida.
São os primeiros documentos do gênero mostrando vinculações do Exército com o Riocentro e com o desaparecimento de Rubens Paiva que podem vir a público no país. O governador do Rio Grande, Tarso Genro (PT) já mandou sua polícia transferir os documentos à Comissão Nacional da Verdade.
Repito o nosso bordão. Enquanto a verdade, ainda que não no ritmo ideal, começa aparecer, persiste o erro das Forças Armadas, já há 48 anos, de não virem a público, não assumirem e nem informarem sobre os crimes cometidos inclusive por alguns de seus integrantes naquele período.
Elas insistem no erro de não se desculpar perante à nação e de não assumirem sua responsabilidade por um dos períodos mais nefastos da nossa história, o da ditadura militar. Insisto: por mais que demore, a verdade inexoravelmente virá à tona.