Governadores tentam minimizar onda de violência em SP e SC

Apesar de os governadores de São Paulo e de Santa Catarina negarem que há uma crise de segurança pública em seus respectivos estados, os números da violência não param de subir. Dez veículos foram incendiados, três mortes e dez pessoas presas em Santa Catarina, entre a noite de quinta e a madrugada desta sexta-feira (16). Em São Paulo, a onda chegou ao interior. Depois de Araraquara, Bauru registrou três mortes em menos de 10 horas.

No total, dez cidades paulistas foram alvo de ataques criminosos entre a noite de anteontem e ontem, com 14 mortos, veículos queimados e atentados contra prédios públicos, inclusive uma creche.

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Os três homicídios em Bauru foram cometidos com arma branca (faca). A polícia investiga se dois dos casos estão relacionados. José Augusto Generoso, 24 anos, foi morto com um golpe de faca por volta das 20h30, na Vila Santista. O golpe foi fatal na região do pescoço e a vítima morreu na hora. De acordo com a polícia, Generoso era usuário de drogas e o autor do crime ainda não foi localizado.

Na madrugada desta sexta, um homem foi morto dentro de um condomínio fechado no Jardim Europa, atingido por golpes no abdômen. A polícia trabalha com a possibilidade da autora do crime ser uma mulher. Ainda na madrugada, outro homem foi encontrado morto. A vítima ainda não identificada teria levado quatro facadas. A suspeita é que tenha sido um acerto de contas com traficantes.

Um homem de 34 anos também morreu esfaqueado no centro de São Paulo. Ele chegou a ser socorrido no Terminal Parque dom Pedro II, mas não resistiu. Uma criança de um ano e oito meses morreu por volta das 22h20 de quinta-feira (15) por um dos tiros disparados contra o carro onde estava com a mãe e o padrasto, na Estrada Galvão Bueno, em São Bernardo do Campo, no ABC paulista. Outras cinco pessoas morreram e um ônibus foi incendiado também na quinta-feira, na Ponte Rasa, zona leste.

Declarações deixam moradores irritados

As declaração do governador de Santa Catarina, Raimundo Colombo (DEM), de que as autoridades de segurança teriam a "situação sob controle" acabou repercutindo entre os moradores de Florianópolis após mais uma noite com ataques e incêndios a ônibus e carros particulares. Treze cidades foram alvo de ataques.

O estado vem sendo alvo de ataques desde a segunda-feira (12). Uma funcionária de empresa de administração prisional recebeu uma mensagem no celular avisando sobre os ataques, que seriam uma represália a supostos maus tratos ocorridos dentro da penitenciária de São Pedro de Alcântara.

"Está sob o controle de quem? Acho que não é do governo", disse o advogado José Paulo Ferreira, 41 anos. "Só foi mais tranquilo porque era feriado com muita chuva e tinha pouca gente na rua".

Na opinião do empresário Mateus Pavanelli, 27 anos, a situação ainda estaria muito "longe" de estar sob controle. Morador da região norte de Florianópolis, ele disse que evitou sair de casa. "Essa madrugada foi terrível. A gente que acaba se sentindo preso por não poder sair de casa", disse. "Tenho medo pois não sei onde isso vai parar".

Ainda na quarta-feira, as autoridades catarinenses rebateram acusações de que o governo estaria "inerte". "Estratégia não significa que estamos passivos com o que está acontecendo", chegou a afirmar durante coletiva realizada em sua residência oficial.

O caso já repercutiu na Assembléia Legislativa: a deputada Ana Paula Lima, do PT disse lamentar os atentados e cobrou uma posição mais "rígida" do governo. "A situação estar sob controle é o que realmente a sociedade espera do Governo de Santa Catarina. Lamento, profundamente, o que tem acontecido nas cidades catarinenses, com a população amedrontada devido a essa onda de ataques", disse.

"Espero que, realmente, a afirmação do governador corresponda à realidade e que a população possa contar com segurança, que é uma atribuição do Estado."

A deputada também criticou outros pontos que não estariam sendo observados pelo governo estadual. "A população elegeu um governo que fez propaganda dizendo que iria melhorar a vida das pessoas", afirmou. "No entanto, a educação enfrenta sérios problemas, há greve na saúde ,o sistema prisional está falido e a população está com medo diante da onda de ataques".

Governo tucano

Na manhã de quinta, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) disse em Parelheiros, extremo sul da capital, que não há crise na segurança. Na mesma região, uma das mais violentas da capital, dois policiais foram baleados na noite de ontem. Um investigador foi baleado por homens em uma moto em Pedreira, enquanto um PM levou tiros em Cidade Ademar. Na Penha (zona leste), outro PM foi baleado.

Os ataques de ontem e as 94 mortes de policiais militares desde o início do ano levaram quase 200 familiares de PMs à avenida Paulista em protesto contra o governo. Eles exigiram segurança para a população e para a polícia.

O movimento negro e as organizações de juventude, reunidas no Comitê Contra o Genocídeo da POpulação Pobre e Negra está convocando audiências públicas e atos na semana da Consciência Negra. Eles já enviaram cartas convocando o governador Geraldo Alckmin e o ministro da Justiça José Eduardo Cardozo para darem explicações sobre as mortes de jovens negros . Nos últimos 25 dias, até a segunda (12), 150 civis foram mortos.
 
Com agências

(foto: chacina em Araraquara / Fernando Martins/Tribuna Impressa)