Miguel Urbano: Obama dará continuidade à sua estratégia belicista
A reeleição de Barack Obama foi recebida com simpatia pelos seus aliados europeus. Sobre ele chovem elogios. Mas a sua campanha eleitoral não transcorreu na atmosfera triunfalista da anterior. O presidente não cumpriu as promessas sintetizadas no slogan "sim, nós podemos!", que em 2008 entusiasmou milhões de compatriotas que acreditaram numa "mudança".
Por Miguel Urbano Rodrigues, em Brasil de fato
Publicado 07/11/2012 15:39
O país continua mergulhado numa crise profunda. A dívida pública interna aumentou para um nível astronômico. A divida externa é a maior do mundo. O defícit da balança comercial é colossal. Os EUA são hoje um estado parasita que consome muito mais do que produz e mantém a hegemonia mundial em consequência do seu enorme poderio militar. A política financeira de Obama, concebida para favorecer as grandes transnacionais e a banca, contribuiu para agravar o desemprego e manteve na miséria dezenas de milhões de famílias.
Romney com o seu programa assustou os negros, os latinos e um amplo setor da pequena burguesia branca. No início, o seu discurso era tão reacionário que o modificou, deslocando-se da direita cavernícola para o centro.
Nos debates televisivos que encerraram o grande circo milionário da campanha eleitoral ele e Obama coincidiram praticamente nas questões fundamentais.
A mídia apresentou a política internacional do presidente como o grande êxito do seu mandato; Romney não a criticou. Essa coincidência dos candidatos é por si só reveladora do nível de alienação do eleitorado da grande república.
É difícil encontrar precedente na história dos EUA para uma politica exterior que tenha configurado para a humanidade uma ameaça comparável à desenvolvida por Barack Obama.
No Iraque, vandalizado pela ocupação militar, permanecem milhares de oficiais e dezenas de milhares de mercenários e a violência é um flagelo endémico. No Afeganistão, a guerra está perdida. A maior parte do pais encontra-se sob controle das forças que combatem a ocupação dos EUA e da Otan, e o governo fantoche de Karzai é odiado pelo povo.
A utilização dos aviões sem piloto, os drones, substituiu progressivamente os bombardeios da força aérea tradicional. O presidente Obama elogiou repetidamente durante a campanha o recurso a essa nova modalidade criminosa de guerra. É ele pessoalmente quem seleciona os "inimigos" a abater em listas elaboradas pela CIA, submetidas à sua aprovação. Mas nesses bombardeios "cirúrgicos" a aldeias do Paquistão milhares de camponeses, como reconhece o próprio New York Times, têm sido mortos.
Durante a campanha, Obama evitou o envolvimento dos EUA em novas guerras de agressão. Mas, reeleito, a sua estratégia belicista de dominação mundial vai ser retomada. O ataque à Síria será o próximo objetivo. A decisão será americana, muito embora Washington incumba dessa tarefa a Turquia e provavelmente a França e a Grã-Bretanha.
Resolvida "a questão síria", os EUA, em parceria com Israel, intensificarão a campanha mundial que visa a destruição do seu grande "inimigo" na região, o único grande Estado islâmico que não se submete à sua estratégia imperial: o Irã.
A atual política para a América Latina, que através de golpes de Estado atípicos – Honduras e Paraguai – afastou presidentes incômodos, terá continuidade. Washington sofreu uma derrota importante com a reeleição de Hugo Chávez, mas a guerra não-declarada contra a Revolução Venezuelana vai prosseguir.
A prioridade na estratégia belicista da nova Administração será contudo a China. Obama foi transparente quando anunciou que dois terços do poder aeronaval dos EUA vão ser concentrados na Ásia Oriental. É por ora imprevisível o estilo que assumirá a política anti-chinesa (e anti-russa) de Barack Obama. Mas pode-se antecipar que o seu segundo mandato será para a humanidade tão negativo ou mais do que o primeiro.
Cabe perguntar: como foi possível atribuir a tal homem o Prêmio Nobel da Paz?
Fez uma chuva de novas promessas, mas elas serão engavetadas tal como as do primeiro mandato.
* Miguel Urbano Rodrigues é jornalista e escritor português.