IGP-M recua 0,02%; Soja e milho oscilam e pressionam IPA

A forte descompressão nos produtos agropecuários foi o principal vetor de desaceleração do Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M) entre setembro e outubro e provocou seu maior recuo mensal desde março de 2009.

Entre a medição passada e a atual, o indicador calculado pela Fundação Getulio Vargas (FGV) passou de 0,97% para 0,02% – redução de 0,95 ponto percentual, somente comparável à queda de um ponto na passagem de fevereiro para março de 2009, quando o IGP-M deixou alta de 0,26% para deflação de 0,74%.

Em outubro, a soja caiu 6,5% no IGP-M, após aumento de 4,7% em setembro, enquanto o milho saiu de elevação de 0,11% para recuo de 3,8%, as duas maiores influências negativas sobre o Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA) agrícola, que na mesma comparação passou de elevação de 2,7% para deflação de 0,57%. Economistas apontam que o repasse desse movimento aos alimentos industrializados já aconteceu e vai chegar ao varejo a partir de outubro, o que pode dar um pequeno alívio ao Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) no fim do ano, insuficiente, no entanto, para revisões relevantes em suas projeções.

Para Salomão Quadros, coordenador de análises econômicas da FGV, o choque de commodities já teve seu impacto de alta sobre produtos intermediários e finais concluído, grupos que, assim como os grãos, também passam agora por normalização de preços. Na passagem de setembro para outubro, o IPA industrial deixou alta de 0,65% para recuo de 0,05%, puxado principalmente por deflação de 5,9% no minério de ferro. À exceção da commodity metálica, no entanto, quase todos os demais itens em desaceleração são derivados de matérias-primas agrícolas.

No subgrupo de bens intermediários, que desacelerou de 0,90% para 0,41% entre a medição passada e a atual, Quadros destacou a queda de 6,2% no farelo de soja, após taxa positiva de 3,5% em setembro, o recuo de 5,9% para 2% na farinha de trigo e a perda de fôlego em rações, que cederam de 4,8% para 1%. Na parte de bens finais, que subiram apenas 0,07% em outubro, ante elevação de 0,99% no mês anterior, o economista ressaltou a influência das carnes bovinas, que recuaram de 6,1% para 0,47%.

Além desse item, também tiveram descompressão em seus preços aves abatidas e frigorificadas (8,7% para menos 0,26%), carne suína (7,2% para 1,6%), farinha de milho e derivados (3,6% para menos 0,8%) e óleo de soja refinado (5,1% para 2,7%), entre outros.

Na contramão da inflação no atacado, o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) que compõe o IGP-M avançou de 0,49% para 0,58% entre setembro e outubro, puxado principalmente por preços maiores em habitação, vestuário e saúde e cuidados pessoais. O grupo alimentação, no entanto, mostrou leve recuo, ao passar de 1,18% para 1,08% no período, trajetória que Quadros associa ao movimento de recuo no atacado e que, segundo ele, deve se acentuar em novembro. O IPC tem peso de 30% no IGP-M, diante de 60% do IPA.

Thiago Carlos, economista da Link Investimentos, reduziu marginalmente, de 5,5% para 5,43%, sua estimativa para a alta do IPCA em 2012, tendo em vista preços de alimentos um pouco menos pressionados nos meses finais do ano.

Mais pessimista, o superintendente de tesouraria do Banco Indusval & Partners (BI&P), Daniel Moreli Rocha, avalia que os alimentos só têm fôlego para desacelerar no varejo até meados de novembro. A partir daí, diz, a trajetória esperada para esse grupo é de ascensão, devido a pressões sazonais de demanda e também à entressafra do gado.

Mesmo com a desaceleração prevista para os alimentos, Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados, também não vai mudar sua projeção de 5,5% para o IPCA neste ano.

Fonte: Jornal Valor Econômico