O caso Soninha mostra a falta de transparência do governo de SP
Quantos funcionários públicos não concursados como as filhas de Soninha são pagos pelo contribuinte paulista? Queremos fazer um jornalismo diferente do que está aí. Melhor: faremos.
Por Paulo Nogueira*, em seu blog
Publicado 23/10/2012 15:03
Um jornalismo que ajude o leitor a entender os fatos, no matter what, como gosta de dizer meu amigo Scott Moore.
Falo como editor, e como leitor também.
Fiquei confuso, ontem, quando meu irmão Kiko comentou comigo a fúria de Soninha contra Haddad. Bom jornalista que é, Kiko logo entendeu que havia ali um artigo a escrever.
Seu texto, aliado a comentários de leitores que como de hábito contribuíram para o debate, e aqui agradeço particularmente Frank, me fizeram ver o óbvio.
A partir disso tudo, fiz o que costumo fazer: pesquisei.
Bem.
Soninha tem interesse pessoal na permanência do PSDB no poder em São Paulo. Mãe e filhas têm bons empregos públicos no governo paulista conquistados sem concurso. Ela própria também tem vantagens concretas. Recebe dinheiro para participar de reuniões de diretoria na Cetesb, da qual é conselheira.
Falta aí, mais que tudo, transparência. O eleitorado tem que saber disso amplamente. O partido de Soninha apoia o PSDB. Pode ser que o apoio seja por convicções. Mas também pode ser por razões menos nobres. A transparência ajuda o cidadão a formar sua opinião.
E aí vou para a mídia. Caberia a ela trazer essa transparência ao tema. Isso foi parcialmente feito. Em minha pesquisa, vi que o Jornal da Tarde publicou há alguns meses uma reportagem de Fabio Leite sobre as relações profissionais de Soninha e família com o governo paulista.
Na reportagem, você lê que o governo justificou a contratação de uma filha de Soninha com sua fluência em várias línguas. O repórter descobriu, no site da USP, que não tem fluência em nenhuma.
O que fez a Folha de S. Paulo, por exemplo? Em minha pesquisa, e se estou enganado me avisem por favor, não encontrei uma única reportagem sobre um tema de grande interesse público no estado que ela carrega no nome.
Como paulista, pensei o seguinte. Quantos casos iguais aos de Soninha não existem no governo de São Paulo? Quantos empregos do mesmo gênero não são sustentados pelo contribuinte paulista? Essa é a famosa qualidade de gestão do PSDB, um partido no qual votei pela maior parte de minha vida adulta?
O assim chamado aparelhamento do estado pelo PT é citado ubiquamente pela mídia. O que é este caso senão um sinal de que o PSDB de São Paulo faz um aparelhamento a seu estilo, fora da vigilância da mídia que deveria funcionar como fiscal?
O diário quer ajudar a trazer luz para os debates na sociedade brasileira. Má conduta no PT e no PSDB e onde mais for será tratada do mesmo modo, no interesse público.
A mídia tradicional está trazendo apenas a luz que lhe convém – e o Brasil merece muito mais que isso.
*Paulo Nogueira é jornalista. Ex-diretor de Exame e da Editora Globo, ele é responsável pelo site Diário do Centro do Mundo, onde este artigo foi originalmente publicado. Reproduzido do jornal Brasil 247