Conflito na Síria reedita disputa entre Oriente e Ocidente

Participantes de mesa-redonda que discute o papel do Brasil no Oriente Médio, nesta quarta-feira (17), em evento promovido pela Comissão de Relações Exteriores da Câmara, afirmaram que o conflito na Síria só se resolverá se houver entendimento entre todos os atores políticos envolvidos. Para o assessor internacional do Superior Tribunal de Justiça (STJ), Hussein Ali Kalout, a questão síria “é uma nova versão do embate Oriente-Ocidente.”

“A questão síria só se resolverá com a inclusão de mediadores confiáveis de todos os lados. Não há como levar um processo de pacificação sem a participação de Irã, Arábia Saudita, Rússia e Estados Unidos”, comentou Ali Kalout, para quem a questão síria extrapola a chamada Primavera Árabe (onda de revoluções contra governos autoritários no mundo árabe e no norte da África que tiveram início no fim de 2010), por envolver diversos interesses.

“Ela vai além da disputa por liberdade e democracia. É uma nova versão do embate Oriente-Ocidente em um formato contemporâneo”, avalia Ali Kalout no debate, solicitado pela presidenta da Comissão, deputada Perpétua Almeida (PCdoB-AC).

Ele explicou o tabuleiro político no conflito na Síria, dizendo que a mudança de regime na Síria representa interesses diversos na região. O interesse de Israel choca-se com o da Arábia Saudita, que disputa a hegemonia regional com o Irã e tenta quebrar “a espinha dorsal” entre Síria, Irã, Iraque, Barein e Líbano. “Se você derrubar o Estado sírio, você encurrala o Irã no Oriente Médio. Mas o risco é que se pode levar ao poder um regime hostil a Israel.”

Também a Rússia tem interesse em defender a Síria, acrescentou o assessor, em razão de o país do Oriente Médio representar o último bastião que a antiga União Soviética preservou na região. “A Rússia joga a mesma cartada que os Estados Unidos na situação israelense”, afirmou.

Posição brasileira

Segundo o representante brasileiro para os assuntos do Oriente Médio, embaixador Cesário Melantonio Neto, o Brasil tende a apoiar a missão das Nações Unidas na Síria e de seu enviado especial, Lakhdar Brahimi. "O Brasil, como todo país emergente, tem interesse natural e legítimo em acompanhar a questão de perto."

Na opinião de Hussein Ali Kalout, o Brasil até pode colaborar na mediação do conflito, mas não há garantias de que os países da região aceitem a participação brasileira. Segundo Melantonio Neto, o Brasil atuaria como facilitador, não sozinho, mas em conjunto com outros países.

A deputada Perpétua Almeida lembrou que o Brasil tem marcado a sua atuação no cenário internacional pela defesa da solução pacífica dos conflitos e pelo respeito à diversidade cultural, ética e religiosa que caracterizam as diferentes regiões do mundo. “A Comissão de Relações Exteriores, atenta a isso, quer reunir subsídios sobre como o País pode atuar de forma concreta”, completou.

Da Redação em Brasília
Com Agência Câmara