Os Estados Unidos não têm a menor autoridade para julgar Cuba
O ministro das Relações Exteriores de Cuba, Bruno Rodriguez, pronunciou-se nesta segunda-feira (1º/10), no debate geral do 67º período de sessões da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas. O chanceler da Ilha socialista condenou o cruel bloqueio imposto ao país pelo imperialismo estadunidense e fez uma abrangente análise da conjuntura internacional, reafirmando as posições de Cuba em defesa da paz, da soberania das nações e povos e da justiça.
Publicado 02/10/2012 10:10
Rodriguez comemorou o novo ambiente de unidade entre os países latino-americanos e caribenhos: “Nunca antes, a América Latina e o Caribe tinham se expresado com tanta força e unidade como na chamada “Cúpula das Américas”, que novamente excluiu Cuba por imposição do governo dos Estados Unidos, realizada em Cartagena de Índias (Colômbia)”.
Um dos exemplos disso, na sua opinião, foi a posição tomada sobre a questão das Ilhas Malvinas e a condenação do bloqueio a Cuba. “A soberania argentina das Malvinas, que nosso país apoia com fervor, e o fim do bloqueio a Cuba foram os eixos de um pronunciamento que demostrou que a Pátria Americana de Bolívar, ‘Nossa América’ de Martí, entrou em uma nova época, no século de sua definitiva independencia”.
O representante do governo cubano relembrou que meses antes, precisamente en Caracas, tinha ocorrido a constituição da Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos (Celac), citando a opinião do líder da Revolução cubana, Fidel Castro: “Nenhum outro fato institucional de nosso hemisfério durante o último século reflete similar transcendêcia”.
Cuba não alimenta nenhuma ilusão com a política dos Estados Unidos para a América Latina, deixou claro Bruno Rodriguez, para quem, seja com governos democratas ou republicanos, esta política “é em essência, a mesma”.
O chanceler cubano desmascarou a suposta mudança da política global norte-americana, que continua uma política de força. “Embora se fale de ‘poder inteligente’ e sejam utilizadas novas e fabulosas tecnologias, prevalecem o enfoque de segurança e a arrancada militar, em vez de uma relação democrática e de benefício mútuo entre Estados soberanos e iguais. Em circunstâncias de crise econômica global, esgotamento de recursos e nova divisão do mundo, a Otan continua percebendo nossa região como periferia euro-atlântica, onde se pode intervir para assegurar interesses, inclusive ilegítimos”.
Fato da maior transcendência, as eleições presidenciais na Venezuela do próximo domingo, 7 de outubro, foram mencionadas pelo ministro cubano, segundo o qual estas eleições “serão decisivas para o destino comum da região”. Rodriguez expressou plena solidariedade ao povo venezuelano e a seu líder, o presidente Chávez, e advertiu para os intentos de desestabilização que se observam contra a República Bolivariana.
Rodriguez lembrou também a contribuição de Cuba ao proceso de diálogo para a paz na Colômbia.
A Assembleia Geral da ONU conheceu as posições de Cuba sobre o conjunto da situação internacional. “O mundo de hoje não se parece àquele que auguravam os redatores da Carta das Nações Unidas, sobre as cinzas da Segunda Guerra Mundial, quando resolviam preservar nossas gerações do flagelo da guerra, proteger os direitos fundamentais do ser humano e a igualdade entre nações grandes e pequenas; fomentar a justiça, a dignidade e o progresso social. Agora se promove sem disfarce a derrocada de governos mediante o uso da força e da violência, impõe-se a ‘mudança de regime’ a partir de Washington e outras capitais da Otan e são feitas guerras de conquista pelo controle de recursos naturais e regiões de importância estratégica”.
O chanceler cubano expressou com firmeza a opinião de seu governo sobre a crise na Síria: “O governo dos Estados Unidos e alguns da Europa decidiram derrubar o governo sírio, para o que armaram, financiaram e treinaram os grupos da oposição, inclusive o uso de mercenários”. Ressaltou que foi graças, fundamentalmente, à firme oposição da Rússia e da China, que não foi possível manipular o Conselho de Segurança, para impor a fórmula intervencionista aplicada em aventuras bélicas recentes.
O governo cubano reafirmou na Assembleia Geral da ONU o direito do povo sírio ao pleno exercício da autodeterminação e à soberania, sem ingerência nem intervenção estrangeira de nenhum tipo. Bruno Rodriguez propôs que cessem a violência, os massacres e os atos terroristas que ocasionaram um alto número de perdas de vidas inocentes. E disse que é preciso terminar também o abastecimento com armas e dinheiro aos grupos insurgentes e a vergonhosa manipulação midiática da realidade.
“Cabe à Assembleia Geral usar todas as suas faculdades para promover uma solução pacífica à situação que dilacera a nação árabe e impedir que se desencadeie uma agressão militar estrangeira com graves consequências para todo o Oriente Médio”, defendeu.
Cuba expressou a sua posição em apoio à causa do povo palestino: “A Assembleia Geral deve atuar resolutamente no reconhecimento do Estado palestino, como membro pleno da Organizção das Nações Unidas, com suas fronteiras anteriores a 1967 e sua capital em Jerusalém Oriental; e há de fazê-lo já, com ou sem o Conselho de Segurança, com ou sem o veto estadunidense, com ou sem novas negociações de paz”.
A crise econômica global também foi objeto de considerações por parte do chanceler cubano. Para ele, esta crise reflete a incapacidade dos governos e das instituições para resolver um problema que requer repensar os fundamentos do atual sistema de relações econômicas internacionais que só serve para espoliar os países subdesenvolvidos.
Rodriguez foi claro na denúncia das políticas dos países capitalistas desenvolvidos: “As duras consequências da crise no mundo desenvolvido e das falidas políticas até agora adotadas para tentar detê-la, continuam sendo descarregadas sobre os trabalhadores, a crescente massa de desempregados, os imigrantes e os pobres, cujos movimentos de protesto são brutalmente reprimidos”.
O chanceler cubano também se referiu à crítica situação de insegurança alimentar mundial e à destruição do meio ambiente.
O pronunciamento cubano na Assembleia Geral da ONU contemplou também uma crítica ao militarismo. “Diante desses colossais desafios”, – disse o chanceler – , “caberia perguntar-se o que pode justificar que, vinte anos depois de encerrada a chamada ‘Guerra Fría’, o gasto militar tenha quase duplicado para alcançar a astronômica cifra de 1.74 trilhões de dólares. Como advertiu o presidente Raúl Castro Ruz, contra que inimigo serão usadas essas armas? Elas servirão para eliminar as massas de pobres que não suportem mais sua pobreza ou para enfrentar incontíveis migrações de sobreviventes?”
Tema que preocupa todas as nações que lutam por uma orden internacional equilibrada, a ONU também foi enfocada pelo chanceler cubano. “Nestas circunstâncias, urge salvar a Organização das Nações Unidas e, ao mesmo tempo, submetê-la a profunda reforma para que esteja a serviço de todos os Estados igualmente soberanos e afastá-la das arbitrariedades e dos padrões duplos de uns poucos países industrializados e poderosos. É necessário fazer prevalecer com determinação o Direito Internacional e os Propósitos e Princípios da Carta, restabelecer o papel central da Assembleia Geral e refundar um Conselho de Segurança democrático, transparente e verdadeiramente representativo”.
Recentemente realizada em Teerã, a Reunião de Cúpula do Movimento dos Países Não Alinhados foi elogiada pelo ministro cubano. Segundo Rodriguez, os países não alinhados reafirmaram suas posições “em defesa da paz, da independência e da igualdade soberana dos Estados, da justiça, do direito ao desenvolvimento, à soberania sobre os recursos naturais, do desarmamento geral e completo, em particular o desarmamento nuclear; assim como do direito ao uso da energia nuclear com fins pacíficos”.
As considerações finais do chanceler cubano Bruno Rodriguez na Assembleia Geral da ONU foram dedicadas às complexas e difíceis relações bilaterais com os Estados Unidos, tópico em que foram reafirmadas as justas posições de principios da República de Cuba.
“Em 31 de julho último, o Departamento de Estado dos Estados Unidos incluiu novamente Cuba em sua lista unilateral e arbitrária de Estados patrocinadores do terrorismo internacional”.
Para Rodríguez, o verdadeiro propósito de manter Cuba nessa lista espúria “é fabricar pretextos para endurecer a perseguição de nossas transações financeiras e justificar a política de bloqueio, que provocou danos humanos e econômicos da ordem de um trilhão de dólares, ao valor atual do ouro”.
Claro, sereno e enérgico, o chanceler cubano declarou: “Os Estados Unidos não têm a menor autoridade moral nem política para julgar Cuba”.
Istro porque, segundo ele, “o governo norte-americano utilizou o terrorismo de Estado como uma arma de sua política contra Cuba, que provocou 3.478 mortes e 2.099 inválidos entre nossos compatriotas, ao tempo em que abrigou dezenas de terroristas, alguns dos quais ainda hoje vivem livremente nesse país, enquanto mantém em prolongado e desumano encarceramento ou retém cruel e arbitrariamente em seu território os cinco lutadores antiterroristas cubanos”.
Rodriguez finalizou seu discurso afirmando que Cuba “rechaça energicamente a utilização de um tema tão sensível como o terrorismo com fins políticos e demanda que o governo dos Estados Unidos deixe de mentir e ponha fim a este vergonhoso exercício, que ofende o povo cubano, a comunidade internacional e desacredita a causa da luta contra o terrorismo”. E reiterou aos Estados Unidos, às vésperas de suas eleições, a “nossa indeclinável vocação de paz e o interesse de avançar para a normalização das relações mediante o diálogo, em pé de igualdade e com pleno respeito a nossa independencia”.
Fonte: Blog da resistência www.zereinaldo.blog.br