USP recebe críticas por ausência de política de cotas
O coordenador-geral da Educafro, rede de pré-vestibulares comunitários voltada para jovens pobres e negros, frei David Santos, criticou nesta quarta-feira (26) a atuação do Conselho Universitário da Universidade de São Paulo (USP), durante o debate sobre cotas universitárias. Para ele, a instância não leva a sério a inclusão.
Publicado 26/09/2012 17:38
Em reunião na tarde de terça-feira (25), os conselheiros não definiram se a instituição adotará ou não cotas raciais e sociais no seu vestibular, sob alegação de que é necessário aprofundar a discussão, e sugeriu que se promovam debates e seminários sobre o tema.
Frei David considera que a indefinição comprova o pensamento dominante na USP, segundo o qual a universidade não deve ser para todos. Para ele, a proposta de debates e seminário é uma atitude de desrespeito ao povo.
“Há 13 anos esse assunto é debatido no Brasil. Ele foi intensamente debatido no Senado, no Supremo Tribunal Federal (STF), no rádio, na TV, na sociedade, e as USP teve a ousadia de ficar todo esse tempo fora do debate. E agora que está sendo pressionada ela diz que vai começar o debate. Isso, para nós, é um sinal evidente da irresponsabilidade”, explica o frei.
Durante a reunião do Conselho, um grupo de manifestantes realizou um ato exigindo a adoção das cotas. Portando faixas e cartazes, os manifestantes fizeram panfletagem, tocaram e cantaram na entrada da reitoria. Em entrevista para a TVT, a diretora do Diretório de Estudantes da USP Letícia Pinho, o Inclusp, programa de inclusão social da universidade, é insuficiente. “A nossa expectativa é que a USP supere esse retrocesso em que ela se encontra. O Inclusp não inclui de fato, pois é ínfima a participação de alunos de escolas públicas e de estudantes negros”, afirma Letícia.
No entanto, a pressão não surtiu o efeito esperado e os conselheiros terminaram a reunião sem uma definição da questão das cotas. Frei David afirma que houve falta de sensibilidade ao deixar a questão como último item da pauta. “O Conselho quis vencer o povo pelo cansaço. Sabendo que havia uma manifestação do lado de fora e que eles só queriam saber deste ponto, os conselheiros maldosamente deixaram as cotas para o final, esperando o esvaziamento do ato para se colocar”, disse.
O coordenador da Educafro promete uma série de ações para pressionar a USP. Entre as ações estão a intensificação das reuniões dos conselhos pró-cotas da USP e a abertura de um processo contra a universidade, sobre a obrigação desta em estabelecer cotas a partir da definição favorável tomada pelo STF. A organização deste processo e das outras ações serão discutidas nos próximos dias.
Além disso, frei David comentou que o processo iniciado pela Educafro em 2004, demonstrando que o vestibular da USP elimina consciente e injustamente os jovens pobres e negros, foi acatado pelos desembargadores da 3ª Câmara de Direito Público do Tribunal de Justiça de São Paulo, que convocarão a instituição para uma audiência de conciliação com a comunidade negra. O objetivo será encontrar uma solução eficaz para a inclusão dos jovens pobres e negros. Ainda não há data definida para a audiência.
A Universidade de São Paulo manifestou-se por meio de uma nota publicada em seu site, informando que os conselheiros decidiram promover debates sobre inclusão social na USP e realizar um seminário para discutir a questão com maior profundidade junto à comunidade universitária.
Fonte: Rede Brasil Atual