Publicado 26/08/2012 09:14 | Editado 04/03/2020 16:29
No dia 21, há menos de uma semana, teve início o período da propaganda eleitoral gratuita no rádio e na televisão. Foi aberta oficialmente a temporada das promessas de campanha. Isso me remete à disputa de 1962 entre Murillo Borges x Moura Beleza. Em debate pelo rádio, o primeiro, após desfiar várias promessas, arrematou: “E tem mais: eu vou asfaltar toda a Fortaleza”. E o segundo não se conteve: “E para onde vai a água da chuva, general? Fortaleza não tem esgoto”.
O general, eleito, se não cumpriu a promessa na totalidade, realizou o notável feito de asfaltar a Bezerra de Menezes. Na noite de inauguração da obra, foi uma apoteose. Quase toda a cidade lá presente, e os moradores, exultantes, recebiam convidados, servindo comes e bebes em mesas nas calçadas ao longo de toda a avenida.
Fortaleza, à época, além de saúde e educação, era muito carente em água, luz, calçamento… Mas se media o progresso pelo asfalto. Hoje, Fortaleza está quase toda asfaltada, embora o esgoto seja insuficiente; tem água e luz, mas saúde e educação continuam como as grandes promessas.
Já o avançado se chama parque tecnológico, que irá estimular o desenvolvimento de uma rede de conhecimento, tecnologia e inovação. Moura Beleza, vanguardeiro que era, certamente, aprovaria a ideia, ponderando: “Já temos massa crítica para isso? Se não, vamos buscá-la”. Mesmo guardadas as proporções no tempo, trata-se de uma proposta bem mais evoluída do que o asfalto do general.
Mas não podemos nos guiar apenas por promessas. Antes, a cidade pequena, as demandas saltavam à vista. Agora, crescida e espalhada, encomendam-se pesquisas para saber com precisão o que o eleitor deseja ouvir e, assim, não há mais diferença entre as propostas em jogo. O que muda é a embalagem delas, em função do orçamento da campanha, da empatia do candidato e dos minutos de que ele dispõe no rádio e na televisão. Que fazer então para separar o joio do trigo?
Hélio Beltrão era planejador – coordenou o Plameg, o primeiro plano de governo do nosso Estado –, mas ficou conhecido como ministro da Desburocratização. Candidato à presidência da República nas eleições indiretas de 1984, em debate no Centro Industrial do Ceará (CIC), indagado sobre o seu plano de governo, saiu-se com esta: “O plano do candidato é o passado do candidato”.
Fiquei intrigado com aquele dito espirituoso e procurei uma brecha para contrariá-lo. Ao término do debate, disparei: “Ministro, e se o candidato for jovem e não tiver sido ainda devidamente testado?” Aí, ele, de pronto, rebateu: “Nesse caso, o plano do candidato é o passado de quem apadrinha o candidato”.
Fortaleza, enfim, precisa eleger um candidato capaz de cumprir as promessas em áreas desde sempre críticas como saúde e educação, bem como de solucionar o caos do trânsito e aproveitar o enorme potencial de mercado da cidade, que são os mais 20 milhões de consumidores da sua área de influência – a terceira do País, depois de São Paulo e Rio de Janeiro –, um manancial ainda pouco explorado de emprego e renda para a nossa população.
*Claúdio Ferreira Lima é Economista
Fonte: O Povo