Com um ano de governo, aprovação de Humala despenca

O presidente do Peru, Ollanta Humala, completa neste sábado (28) um ano de mandato com o pior índice de aprovação desde que assumiu. Eleito com a promessa de manter o vigor da economia dando atenção ao lado social, o ex-militar enfrenta uma escalada dos conflitos sociais que vem afetando diretamente seu governo: na segunda-feira (23), anunciou o terceiro presidente do Conselho de Ministros de sua administração, após receber carta de renúncia de todo o gabinete.

Apostas em ministros que acirraram os conflitos, falta de quadros técnicos no Partido Nacionalista Peruano (PNP), de Humala, e a descrença da fragmentada população na política peruana estão por trás das dificuldades de Humala em manter uma equipe de governo coesa. Por outro lado, a economia do país segue como uma das mais sólidas do continente, sem apresentar sinais de que está sendo afetada pelo cenário político, que deve ficar menos tenso após as mudanças.

A causa maior do desgaste da imagem de Humala – e que levou à renúncia do gabinete – está ligada à principal atividade econômica peruana. Avaliado em US$ 4,8 bilhões, o projeto Conga, uma mina de cobre e ouro na região de Cajamarca, no noroeste do país, vem sendo alvo de protestos desde o fim de 2011 por seu impacto no ambiente e nas condições de vida da população local, como cobrança pelo uso da água. Nos últimos meses, os confrontos entre forças do governo e manifestantes se intensificaram. Só em julho, cinco pessoas morreram nos protestos.

Cajamarca

Juan Jimenez, ex-ministro da Justiça e novo presidente do Conselho de Ministros, tem perfil mais conciliador do que o antecessor, Oscar Valdés. Após assumir o cargo em dezembro, o ex-militar adotou postura mais dura frente aos opositores do projeto Conga para dar mais celeridade à construção da mina. Também houve trocas nos ministérios de Justiça, Saúde, Defesa, Interior e Agricultura.

A mina em Cajamarca é um símbolo da escalada das tensões no país andino. Em junho, a Defensoria do Povo havia mapeado 169 conflitos sociais ativos no país, com 60% sendo motivados por questões socioambientais, contra 141 em agosto de 2011. No início do mês, o governo decretou estado de emergência em três Províncias.

O acirramento dos conflitos fez a aprovação a Humala cair a 36% na última pesquisa divulgada sobre o tema, enquanto os peruanos que desaprovam o primeiro ano do presidente são 55%. A principal queixa, para 72% dos entrevistados, é que ele não está cumprindo as promessas de campanha.

A inexperiência de Humala é um dos pontos fracos do governo na área social, segundo o historiador Antonio Zapata, pesquisador do Instituto de Estudos Peruanos (IEP) e professor da Pontifícia Universidade Católica do país andino. Criado em 2006, o partido do presidente teve dificuldades para encontrar quadros para compor o governo. "Isso comprometeu a gestão e a eficiência de alguns ministérios, principalmente aqueles ligados à área social, que estão mais pressionados. Além disso, em dezembro, na segunda troca, o Humala adotou uma linha mais repressiva. Não souberam dialogar e geraram mais conflitos", afirma.

Para Zapata, porém, as mudanças recém-promovidas trazem interlocutores com mais credibilidade para dialogar com os manifestantes. A estabilidade econômica, segundo ele, também é um trunfo que ajuda na governabilidade.

Com Valor Econômico