México: após evidências de fraude, votos serão recontados
Após evidências de que as eleições no México foram fraudadas e intensa mobilização social no país, o Instituto Federal Eleitoral (IFE), aceitou as denúncias de López Obrador (PRD), que ficou em segundo lugar nas votações derrotado com uma diferença de 6,51 pontos percentuais com relação ao primeiro colocado, Enrique Peña Nieto (PRI).
Publicado 04/07/2012 09:44
A recontagem terá início a partir desta quarta-feira (4). Cerca de 55 mil urnas serão revisadas, das 143 mil instaladas em todo o país.
“Estamos oferecendo estimativas; falando em termos gerais de um terço da eleição presidencial. Hoje, diferentemente de outros processos eleitorais, se houver uma única inconsistência na ata, derivada de um erro na captura (do voto), de um mesário, ou de qualquer processo de consistência da ata, isso terá que ser resolvido pelo IFE diante dos cidadãos”, declarou o conselheiro do Instituto Federal Eleitoral (IFE) Alfredo Figueroa.
Obrador, no entanto, considera que todas as urnas deveriam ser recontadas: “Vamos pedir que limpem essas eleições e as tornem transparentes. Pelo bem da democracia e pelo bem do país, deve-se recontar todos os votos para que não haja dúvidas. Vamos seguir dentro dos trâmites legais”, pediu o representante da esquerda, que diz ter provas concretas de compra de votos pelo adversário.
Peña Nieto obteve 38.15% dos votos, segundo a contagem preliminar oficial, enquanto López Obrador ficou com 31.64%. As denúncias foram feitas não só pelo representante do partido de esquerda, mas também pelo governista Partido Ação Nacional (PAN), cuja candidata Josefina Vázquez Mota ficou em terceiro lugar.
Pela lei eleitoral promulgada em 2007, as urnas passíveis de recontagem são as que registraram uma diferença igual ou menor a 1% entre o primeiro e o segundo colocados; aquelas em que os votos nulos são maiores à diferença entre o ganhador e o segundo lugar e, ainda, as suspeitas de terem recebido cédulas com erros.
Compra de votos
Na Cidade do México, o clima de desconfiança foi reforçado pelo surgimento no mercado mexicano de vale-compras — distribuídos supostamente pelo PRI de Peña Nieto. Nesta terça-feira (3), milhares de pessoas foram trocar cartões pré-pagos – supostamente distribuídos pelo Partido Revolucionário Institucional – em supermercados de bairros pobres da periferia da Cidade do México, aumentando as acusações de que as eleições foram marcadas por fraudes.
Alguns dos donos dos cartões queixavam-se de que não receberam tanto quando lhe haviam prometido, ou de que alguns nem sequer funcionavam. Os vizinhos de uma das lojas falavam de uma multidão de clientes, muito maior do que o normal. Muitos usavam gorros e camisetas vermelhas, com o nome de Peña Nieto em letras brancas.
María Salazar, estudante universitária de 20 anos, foi com seu pai, Antonio Salazar, de 70 anos, trocar um dos vales.
“Nos deram em nome do PRI e do ‘deputado’ Hector Pedroza (candidato do partido ao Congresso), e nos disseram que contavam com nosso voto”, disse María já fora da loja, enquanto levava bolsas de plástico cheias de papel higiênico, azeite, arroz, biscoitos e sopas instantâneas. Seu pai e seu sobrinho de oito anos também levavam uma bolsa cada um.
De acordo com o jornal mexicano La Jornada, a entrega dos cartões começou na sexta-feira (29) à noite, nos limites da Cidade do México e no município de Nezahualcóyotl. Os cartões eram identificados pela rede de lojas Soriana como “vale-presentes entregues pelo PRI para que Peña Nieto ganhasse”.
No início da campanha, cada voto custava cerca de 100 pesos, mas o valor aumentou conforme se aproximava o dia das eleições, segundo alguns eleitores.
“No domingo, você ia a uma sessão eleitoral, votava, tirava uma foto com a cédula marcada a favor do PRI e te entregavam o vale”, disse Rocío Ugalde.
“Vimos um esforço substantivo e sistemático de mobilização de eleitores comprometidos. Detectamos a entrega de vales de gasolina, crédito de celular e cartões de débito, mas não sabemos com precisão de quanto foi a soma de recursos”, explica ao jornal espanhol El País Javier Osorio, diretor da “Más Democracia”, organização que monitora o processo eleitoral.
Com informações de O Globo