Em diálogo com brasileiros, iraniano defende humanismo
O presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad manteve na manhã desta quinta-feira (21), no Rio de Janeiro, um encontro amistoso com numeroso grupo de dirigentes políticos, ativistas sociais e intelectuais brasileiros. Ahmadinejad veio ao Brasil para participar da Conferência das Nações Unidas pelo Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20.
Publicado 21/06/2012 22:09
Na véspera, o líder da República Islâmica do Irã falou no plenário da Rio + 20, onde defendeu uma visão holística e humanista em contraposição à injustiça e à opressão.
No café da manhã desta quinta-feira, oferecido pela Embaixada iraniana, em um hotel da Zona Sul carioca, o líder da República Islâmica teve a oportunidade manter um diálogo fraterno e agradável, durante três horas, quando ouviu a palavra amistosa e solidária de brasileiros que em suas áreas de atuação fazem o bom combate ao imperialismo e lutam pela paz mundial.
Frente anti-imperialista
O jornalista Beto Almeida, diretor da Telesur no Brasil, deu as boas vindas ao líder iraniano e defendeu a criação de uma frente anti-imperialista mundial, para impedir que ocorra na Síria o que aconteceu na Líbia.
Falando em nome do Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz (Cebrapaz) e do Conselho Mundial da Paz (CMP), Socorro Gomes disse que os lutadores pela paz do Brasil se somam a todas as pessoas progressistas que desejam ao presidente Ahmadinejad saúde, força e êxitos à frente do Irã, na resistência e na luta anti-imperialista e antissionista, pelo progresso e a justiça. “O povo brasileiro tem respeito, admiração e manifesta toda a solidariedade ao povo iraniano em sua luta pela paz e a soberania nacional”, agregou.
A líder do movimento pela paz expressou sentimentos de solidariedade ao povo iraniano. “Sinto-me irmanada a este povo em seus esforços para construir uma vida gloriosa, bela e humana, que o imperialismo norte-americano, no plano mundial, e Israel, no Oriente Médio, tentam impedir”.
Socorro Gomes fez uma vigorosa denúncia das potências imperialistas e seus aliados: “Estados Unidos e Israel cometem crimes e ainda querem destruir o espírito das palavras, destituindo governos, cometendo magnicídio, invadindo países, provocando matanças de civis, em nome dos direitos humanos e da democracia”, asseverou.
A presidenta do movimento pela paz concluiu sua saudação ao líder iraniano dizendo que “é necessário despertar a vontade da grande maioria da humanidade para derrotar este sistema imperial, formado por um pequeno grupo de países que pretende dominar o mundo e agredir os povos”. A dirigente estava acompanhada pelo membro da direção nacional do Cebrapaz, Marcos Tenório.
PCdoB e PSB
O ex-deputado federal e ex-diretor da Agência Nacional de Petróleo, Haroldo Lima, e o secretário de relações internacionais do Partido Comunista do Brasil, Ricardo Abreu, falaram em nome da organização, que não tem poupado sua solidariedade ao povo iraniano e seu governo. Lima acentuou que o Irã “representa um país emergente, soberano, digno, que tem sido alvo de calúnias e de uma extraordinária ofensiva imperialista”.
Ressaltou ainda o potencial iraniano como grande produtor de petróleo e gás e o papel geopolítico que desempenha.
Por seu turno, Abreu reiterou “o compromisso do PCdoB com a luta anti-imperialista e a solidariedade ao povo iraniano”. Na comitiva da secretaria de Relações Internacionais do PCdoB estavam presentes também Rubens Diniz, Aldo Arantes e Adalberto Monteiro.
Outra voz credenciada da esquerda brasileira a se fazer ouvir foi a do cientista político e escritor Roberto Amaral, vice-presidente nacional do Partido Socialista Brasileiro, que se somou a todos os que manifestaram sua solidariedade ao povo iraniano e seu líder.
Intercâmbios universitários
O filósofo e poeta João Vicente Goulart discursou sobre o saque das riquezas nacionais dos países dependentes e destacou a permanência da luta anti-imperialista e pelas reformas de base no Brasil. Ele lembrou que a luta por reformas de base se iniciou há mais de 50 anos e foi temporariamente interrompida pelo golpe militar de 1964.
Dentre os muitos acadêmicos presentes, o sociólogo Emir Sader, da Confederação Latino-americana de Ciências Sociais, Beatriz Bissio, jornalista da Organização Não Governamental Diálogos do Sul e professora de História da UFRJ, e Salem Nasser, professor de Direito Internacional da Fundação Getúlio Vargas, destacaram a necessidade de maior difusão da realidade e da cultura iraniana no Brasil, e de promover intercâmbios acadêmicos entre ambos os países, com a realização de visitas mútuas de professores e estudantes.
O movimento estudantil também prestou solidariedade ao Irã, por meio de Mateus Fiorentini, da Direção Nacional Executiva da União Nacional dos Estudantes (UNE) e da Organização Continental Latino-americana e Caribenha de Estudantes (Oclae). Ele relatou a luta da juventude estudantil em favor de políticas educacionais que favoreçam as grandes maiorias e destacou que os estudantes brasileiros e latino-americanos estão ativos na luta anti-imperialista.
Também participaram do encontro com o presidente iraniano a Central de Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), a Central Única dos Trabalhadores (CUT), a União Geral dos Trabalhadores (UGT), a União da Juventude Socialista (UJS), a União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes) e o Movimento pela Democracia Direta (MDD).
A luta pela justiça
Com voz baixa, fala mansa, gestos contidos e palavras polidas, o que é um desmentido a mais dos estereótipos inventados pela mídia a serviço do sionismo e do imperialismo, o presidente iraniano agradeceu a acolhida que teve no país, destacando que “o povo brasileiro é caloroso, simpático e está em busca da justiça”.
O presidente do Irã respondeu com precisão a pergunta do jornalista Beto Almeida. Concordou com a necessidade de criar uma frente mundial anti-imperialista, ressalvando que os governos progressistas são importantes. Para ele, não são necessariamente os governos os protagonistas dessa frente. “O mais importante – disse – é criar uma frente de nações e povos, unir a vontade e a determinação dos povos”. Otimista, enfatizou: “Se conseguirmos isso, a frente anti-imperialista é invencível”.
Dirigindo-se à presidenta do Conselho Mundial da Paz, o líder iraniano afirmou: “Concordo com a senhora Socorro Gomes, a nossa luta é abrangente e constante, pela afirmação do destino da humanidade, enquanto que a minoria que domina faz todo o esforço para impedir. Com a solidariedade e a resistência, a vitória será dos povos. Será a vitória da justiça, da compaixão e da ternura”.
Princípios humanistas
O líder da República Islâmica reiterou os princípios humanistas do seu governo: “O ser humano é o mais importante e estamos aqui para servir à humanidade. O ser humano tem talento e capacidades, deve viver melhor e sem pobreza. Nossa luta é para que exista justiça em qualquer parte do mundo, para criar uma vida bela e justa, um mundo glorioso e humano, extinguir as fronteiras artificiais e tudo o que separa e divide a humanidade”, declarou.
Anti-imperialismo
Ahmadinejad deixou claro seu posicionamento político no campo das forças anti-imperialistas. Referiu-se à situação na região latino-americana. “O imperialismo está zangado porque na América Latina os povos estão lutando por sua independência”.
Analisou o processo histórico, ressaltando que o combate ao imperialismo tem duas etapas principais. “Há momentos de resistência e há momentos de luta, se um ladrão ameaça entrar em sua casa, você resiste, se a invade, você luta para expulsá-lo. É o caso do povo Palestino, cujo território foi invadido”, exemplificou.
Concluiu reafirmando os princípios de justiça e a luta contra a opressão que regem a República Islâmica do Irã e defendendo a unidade de todos aqueles que lutam por esses princípios e estão insatisfeitos com a condição atual do mundo. “Independentemente de nossas diferenças, devemos nos unir”, disse.
Ahmadinejad despediu-se com emocionantes palavras de afeto por nosso povo: “Todos os brasileiros vivem nos corações dos iranianos”.
O Portal Vermelho e o líder do Irã
O Portal Vermelho acompanhou todo o encontro do presidente Ahmadinejad com os intelectuais e formadores de opinião brasileiros nesta quinta-feira.
Este jornalista foi honrado com o convite do embaixador do Irã no Brasil, Mohammad Ali Ghanezadeh. Mais do que um dever de ofício, participei do colóquio com o líder iraniano como militante da luta de ideias, que exerço como jornalista e membro do coletivo dirigente do Cebrapaz.
Foi um desses momentos pedagógicos e edificantes. Na cena política atual não faltam exemplos de figuras nefastas para a luta dos povos. Há exemplos de capitulações, traições, conciliação com inimigos dos povos, apoio de ex-esquerdistas a guerras de agressão, pregoeiros da rendição que igualam a ira sagrada dos povos ao apocalipse. “Não descarto a intervenção armada na Síria, desde que decidida junto com o Conselho de Segurança da ONU”, declarou o socialista (sic) François Hollande logo depois de empossado.
Quanto contraste com as convicções do presidente Ahmadinejad, quando se refere à luta pela justiça, contra a opressão, pela independência dos povos e nações e a defesa das suas riquezas.
É em momentos como este que um militante compreende melhor que vale a pena lutar, que há razões para lutar, porque o imperialismo pode ser forte, mas não é invencível, será derrotado, enquanto o combate despertar a consciência dos povos e criar lideranças dispostas a enfrentá-lo.
José Reinaldo Carvalho, do Rio de Janeiro, para o Vermelho