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Elza Campos (PR): Avanços e desafios da corrente emancipacionista

Avanços e desafios atuais no rumo do fortalecimento da corrente emancipacionista. 

Por Elza Maria Campos*

Nos marcos do nonagésimo aniversário do PCdoB, dos 80 anos da conquista do voto feminino no Brasil e dos 102 anos da celebração do 8 de Março, a realização da II Conferência Nacional do PCdoB sobre a Emancipação da Mulher reveste-se de especial importância e contornos novos.

Com quase 24 anos de existência, a corrente feminista emancipacionista defendida pela UBM vem superando desafios e ampliando sua atuação tanto dentro como fora do Partido.

Este texto tem como objetivo apresentar um balanço mais recente da atuação da entidade, quando da eleição da atual direção bem como evidenciar desafios que persistem para que a corrente emancipacionista goze de maior prestígio no Partido e na sociedade.

Em um primeiro momento destacamos as diversas conquistas que alcançamos, muitas vezes com esforço pessoal e solitário das dirigentes da UBM, no sentido de superar dificuldades tanto da estruturação interna como de conferir maior visibilidade no contexto dos movimentos feminista e social.

O balanço de atuação da UBM é positivo, demonstra que houve empenho militante de várias dirigentes para intervir no movimento real. Isso foi realizado em meio a imensas dificuldades, entre elas a de ordem infra-estrutural e a relativa ao fato de que nenhuma dirigente da Executiva da UBM dispõe de tempo exclusivo ou razoável tempo livre para atuar na entidade. Sempre é preciso recordar a condição da mulher trabalhadora na sociedade capitalista, com sua dupla jornada de trabalho na esfera privada e na esfera pública. Sem dúvida, são imensas as barreiras a ser enfrentadas diariamente para vencer os valores e a exploração impostos pelas classes dominantes há séculos no país e no mundo. Na maioria das famílias, por exemplo, apesar da importante conquista da Lei Maria da Penha, muitas mulheres ainda permanecem submetidas à escravidão doméstica, assumindo sozinhas a educação dos filhos e as desgastantes obrigações como lavar, passar e cozinhar; com o crescimento da exploração capitalista e o empobrecimento da população, vêem-se obrigadas cada vez mais a trabalhar fora de casa, e, com isso, assumir uma pesada dupla jornada de trabalho. A situação de opressão em que vivem as mulheres é evidente obstáculo a dificultar, quando não impedir de todo, que elas participem efetivamente das lutas sociais e políticas.

O ano de 2011 foi palco de muitas lutas para a UBM. Da posse da presidenta Dilma Rousseff, em janeiro, à III Conferência de Políticas para as Mulheres de dezembro de 2011, muitas ações políticas contribuíram para o fortalecimento da entidade e da luta das mulheres.

2012 começou com mobilizações desde a participação da UBM no Fórum Social Temático em Porto Alegre, no 8 de março, à participação nas discussões da Conferência Rio+20, no Congresso da Federação Democrática Internacional de Mulheres (FDIM), ocorrido de de 8 a 12 de abril, até a realização do Seminário Nacional de Meio Ambiente da UBM nos dias 27 e 28 de abril. São momentos reveladores da presença de nossa Entidade em lutas concretas do povo e das mulheres.

No Fórum Social Mundial de 2011 (no Senegal), a UBM foi representada pela coordenadora de Relações Internacionais da entidade, Maria Liège Santos Rocha. Durante a Assembleia de todas as Mulheres, 200 ativistas de diversos países deram seus testemunhos sobre as lutas em seus países no enfrentamento de variadas formas de violência. Ao final daquele evento, que reuniu milhares de organizações sociais de 139 países, Liège (também membro do Comitê de Direção da FDIM) participou da plenária da Assembleia dos Movimentos Sociais.

No segundo semestre de 2011, a UBM marcou presença na 4ª edição da Marcha das Margaridas, evento realizado em Brasília que contou com a adesão de mais de 70 mil mulheres. A UBM – e mais de 50 lideranças nacionais das trabalhadoras rurais e de entidades parceiras – fez parte da organização deste movimento que, sob a coordenação da Secretaria de Mulheres da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), reuniu mulheres do campo e da floresta. Da elaboração do Caderno de Textos à participação na direção da caminhada ao som da música “Mulher Campeira” (uma composição da dirigente ubemista Maria Isabel Corrêa) e nas mesas de abertura e de encerramento, a UBM reafirmou a sua atuação neste movimento, sendo reconhecida pelas demais forças. Também deve ser registrada a participação em um dos painéis, através da companheira Eline Jones, que faz parte da Executiva Nacional da entidade, e a ocupação de espaço com estande próprio, sob a responsabilidade da companheira Estela Cardoso (coordenadora da UBM-SC e da UNEGRO). A participação como integrante da coordenação em todos os estados do Brasil, na mobilização e articulação política, deu mais visibilidade à UBM nesse movimento de grande significado no Brasil e na América Latina.
Tem sido corrente nas atividades do 8 de março adotarmos a temática 'Mulheres nos espaços de poder', uma postura que vem desde a fundação da UBM, naturalmente reforçada pelo fato da eleição da primeira presidenta no Brasil. Vale lembrar que, em 2010, a UBM foi a primeira entidade nacional que decidiu apoiar Dilma já no primeiro turno. À época lançou dois manifestos de apoio e um de definição de reivindicações, ocupando as ruas para divulgá-los e fortalecer a campanha vitoriosa de Dilma.

Em junho, realizamos nosso 8º Congresso Nacional da UBM, que reuniu quase 400 mulheres e mobilizou cerca de 10 mil nas etapas estaduais e municipais precedentes. O congresso foi vitorioso, as ubemistas saíram animadas com a perspectiva de fortalecimento da UBM. Houve participação de vários segmentos de mulheres – jovens, idosas, negras, lésbicas, índias, mulheres com deficiência, mulheres do campo, da cidade e da floresta e, dentre outras, sindicalistas trabalhadoras vinculadas à Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB). Elaboramos uma plataforma de lutas com as discussões dos subtemas que permearam o debate, tais como: os desafios das mulheres no enfrentamento das desigualdades sociais, a participação política, a luta pela valorização do trabalho, a saúde e os direitos sexuais e reprodutivos, a luta contra a violência doméstica e familiar contra as mulheres, reforma urbana e meio ambiente e, ainda, cultura, gênero e mídia. Avançamos no debate acerca da atuação da UBM no movimento de mulheres lésbicas e de juventude. Ainda no congresso, a UBM teve a oportunidade de homenagear a artista plástica Edíria Carneiro, falecida em dezembro último. Edíria, que participou do evento, presenteou a entidade com um dos seus quadros, obra que foi utilizada para estampar o cartaz do congresso. Artista talentosa e militante, Edíria generosamente deixou mais essa lembrança para as mulheres brasileiras.

No mês de agosto de 2011, houve uma maior aproximação política entre a UBM e a CTB. A entidade participou de reuniões com as Centrais Sindicais que antecederam o ato histórico em defesa da Agenda da Classe Trabalhadora, ocorrido em São Paulo. Em 3 de agosto, mais de 80 mil pessoas participaram da passeata entre o Estádio do Pacaembu e a Assembleia Legislativa paulista. Na ocasião, a UBM destacou a aliança dos trabalhadores e trabalhadoras bem como as bandeiras de luta do movimento.

Participamos da Frente da Frente Parlamentar pelo fim da criminalização e pela legalização do aborto. Estamos filiadas à Rede Feminista de Saúde e à Federação Democrática Internacional de Mulheres.
Tivemos presença no Comitê da Campanha ‘Estado da Palestina Já!’ A UBM e demais organizações feministas apoiaram as mobilizações populares dos/as palestinos/as que lutam contra o governo antidemocrático de Israel.

No Ano internacional para os Afrodescendentes (ONU), a UBM criou a coordenação de Questão Racial e Etnia – um avanço institucional neste momento em que as políticas afirmativas estão avançando e sendo implementadas pelo Estado. Também marcou presença no 4º Congresso Nacional da UNEGRO em mesa de debates sobre a atuação das mulheres negras, evento realizado em novembro em Brasília.

Uma das estratégias definidas pela UBM para o ano de 2011 foi a de atuar com mais peso nos processos de mobilização das conferências nacionais impulsionadas pelo Governo Federal. Tanto na Conferência de Políticas para as Mulheres como na da Saúde, dentre outras, a entidade se fez presente também a partir das reuniões do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher (CNDM) e do Conselho Nacional de Saúde (CNS). A UBM tem representação no CNS, (representado por Eline Jonas) na Comissão de Saúde da Mulher, (com a representação de Julieta Palmeira) na Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep), na Comissão Interinstitucional de Saúde do Trabalhador. Também está presente no Conselho Nacional da Juventude, em cuja Conferência desempenhou um papel. No Conselho Nacional dos Direitos da Mulher e no Comitê de Monitoramento do Plano Nacional de Políticas para as Mulheres, espaços de grande importância, a UBM tem procurado atuar, uma vez que aí se pode debater nacionalmente políticas públicas para áreas fundamentais para a qualidade de vida das mulheres. Apesar de o país não ter ainda um Conselho Nacional de Comunicação, é relevante destacar o pioneirismo da UBM no primeiro Conselho Estadual de Comunicação da Bahia, (representação de Daniela Costa), passo fundamental para estimular as mulheres também nessa luta, exemplo a ser disseminado para todo o país. A UBM tem denunciado a falta de democratização dos meios de comunicação no Brasil e o crescente monopólio do setor, hoje controlado por meia dúzia de famílias que constituem o chamado “quarto poder”. Este poder tem capacidade de influenciar de forma decisiva nos rumos do país, colocando frequentemente os Poderes legitimamente constituídos, principalmente o Legislativo e o Executivo, como reféns. Um dos efeitos mais danosos deste cenário no cotidiano das mulheres é o papel da mídia na mercantilização disseminada de nossos corpos e nossas vidas, muitas vezes contribuindo para a reprodução da violência contra as mulheres. Agora em maio, em unidade com a CTB, a UBM conquistou vaga de primeira suplência no Conselho Nacional de Assistência Social – CNAS.

Evidenciamos o firme posicionamento na discussão dos encaminhamentos da III Conferência Nacional de Políticas para as Mulheres, realizada no mês de dezembro, em Brasília. Desde 2004, atuamos em todas as etapas (municípios, estados e nacional). A participação da entidade teve como norte a compreensão do espaço privilegiado para ampliar o debate sobre o enfrentamento ao machismo, sexismo, racismo, lesbofobia, homofobia, da luta contra a violência doméstica e familiar e implementação da Lei Maria da Penha, da construção e fortalecimento da autonomia das mulheres, dentre outros. E foi a partir desses temas que as ubemistas conferiram o que tem sido feito em relação às políticas para as mulheres.

Como saldo político da III Conferência, a UBM conseguiu ter mais visibilidade. O nome da entidade estava nas camisetas, nas bandeiras e também no estande instalado no local do evento. A atuação geral das ubemistas demonstrou disposição para discutir e elaborar políticas públicas voltadas à construção da igualdade e buscar o fortalecimento da autonomia econômica, cultural e política das mulheres. Um momento de grande importância foi a coordenação de um painel de extrema relevância, o “Enfrentamento do racismo e da lesbofobia: articulação necessária para o enfrentamento do sexismo”.
Importante salientar que a UBM, com sua cor, alegria e ousadia, se fez presente nas rodas de conversa, nos painéis e, finalmente, na plenária final, ao votar unitariamente pela legalização do aborto. A votação da UBM fez diferença.

Ainda merece registro a presença da UBM na Reunião do Fórum Nacional da Educação e a conquista de uma representação (suplência com status de titularidade para as reuniões, com a indicação de Lucia Rincon).

Destacamos o trabalho da UBM nos Estados brasileiros, no ano de 2011, no crescimento das ações, na realização dos congressos, plenárias, assembleias e encontros estaduais, na organização das conferências municipais e estaduais de políticas para as mulheres, na eleição das novas direções, na realização de atos contra a violência e na defesa da Lei Maria da Penha, na luta pela ampliação dos espaços de poder. Essas e outras ações que fazem com que a UBM se fortaleça e amplie o seu papel político na defesa dos direitos das mulheres e consequentemente na luta emancipadora.

Em 2012 a UBM participou do Fórum Social Temático realizado em Porto Alegre, do 8 de março em todo o país com a temática de mais poder político para as mulheres, do carnaval em vários estados, levando nossas lutas e denunciando a opressão. Realizou recentemente em Curitiba o I Seminário Nacional de Meio Ambiente da UBM. Outros seminários, oficinas e cursos aconteceram, desenvolvendo projetos de atenção à saúde da mulher negra, da mulher gestante, a mulher e a mídia e um novo significado para participação da mulher e ouvidoria.

A UBM e o Movimento Feminista

O feminismo nasceu questionando as desigualdades entre homens e mulheres, pautando-se fortemente pela reação contra a opressão vivida pelas mulheres. Sua trajetória tem marcas de ousadia e irreverência, num contexto de pluralidade de correntes de pensamento, surgindo elaborações teóricas tanto na academia como no cotidiano das lutas sociais no Brasil.

Movimento que emerge em meio à luta contra a ditadura militar, num país privado de liberdades políticas, as mulheres saíram às ruas para lutar pela democracia, para denunciar a violência, para lutar por políticas públicas. Reinava contra as mulheres o Estado repressor e patriarcal, onde as leis e as instituições reproduziam esta realidade. Contudo, já ensinava Lênin que, numa sociedade dividida em classes, o Estado no fundo sempre será instrumento de dominação de uma classe sobre outra. Em períodos de predomínio da coerção estatal, como se deu na época ditatorial, isso fica mais explícito.

A luta era por visibilidade e reconhecimento da mulher como sujeito político. Portanto, a luta dos movimentos feministas e de mulheres, particularmente no século XX, fomentou ações concretas de combate às ações conservadoras e buscou a defesa das políticas públicas como aspecto fundamental para a ampliação dos direitos, em particular para as mulheres dos estratos subalternos.

No seio de ações unitárias, já se evidenciava a diversidade de pensamentos, expressa pelas variadas correntes atuantes no movimento feminista. Para Barbosa: ( s/d ) A presença das múltiplas correntes torna o movimento feminista ao mesmo tempo rico em diversidade e vitalidade mas, por outro lado, sujeito à estagnação quando se perde em algumas situações devido ao enfrentamento entre essas correntes; entretanto, para ela, essa dinâmica tem proporcionado o desenvolvimento plural do movimento e suas conquistas.

Há que se considerar que avanços políticos alcançados na luta feminista redundam em mudanças nas organizações da sociedade civil e da sociedade política. Haja vista a luta pela consolidação e ampliação das políticas públicas. É conhecida a frase: Nenhum direito a menos, alguns direitos a mais, difundida pelo movimento, nas várias instâncias da luta nas conferências nacionais e internacionais, nos atos de rua, nos eventos gerais.

Convivem atualmente na sociedade brasileira diversos movimentos feministas, seja na academia, em organizações próprias, em ONGs, que também se expressam nas Secretarias de Mulheres das Centrais Sindicais, dos Partidos Políticos, e outros.

Dentre as principais entidades do movimento feminista na atualidade – como a Marcha Mundial de Mulheres, a Articulação de Mulheres Brasileiras, a Rede Feminista de Saúde (à qual está filiada a UBM), a Confederação de Mulheres Brasileiras, ocupa a UBM um papel destacado por sua trajetória de quase 24 anos de existência, por sua organização nacional em quase todos os Estados da Federação, pela sua atuação nas instâncias de Conselhos e movimentos sociais, por sua elaboração teórica no campo do feminismo emancipacionista.

A corrente emancipacionista (ou feminismo emancipacionista), defendida pela UBM, se orienta pela teoria marxista, a partir da qual se afirma que “um feminismo emancipacionista considera a estrutura de classes e nessas relações pautadas por hierarquias de gênero, raça e outras, o que pede, portanto referência a práticas concretas, reprodução ampliada das relações sociais” (CASTRO, 2008).

Por conseqüência, compreende-se que a opressão de gênero deriva de bases culturais, se constrói e se reproduz culturalmente, o que conferiria uma aparente independência conceitual, uma vez que aquela interage com as demais opressões, sobretudo com a de classe (BARBOSA).

Teoricamente parte da compreensão de que, no curso da história, a divisão sexual do trabalho entrelaça-se à divisão social do trabalho, e, por este pressuposto, mulheres e homens participam de modo desigual da produção.

Para a corrente emancipacionista, o conceito se constrói historicamente considerando os valores culturais atribuídos às diferenças de sexo, e é por este caminho que irão se desenvolver valores e práticas sistemáticas que diferenciam o feminino do masculino.

O sistema que se forma do surgimento entrelaçado das duas opressões influencia diretamente as relações desiguais de gênero, que por possuírem esta característica se dão nas diferenciadas camadas sociais fundadas na opressão de classe.

Desta forma, lutar contra a opressão de gênero significa lutar contra toda forma de opressão, buscando atribuir à luta de gênero um significado radical que busque “romper tanto o elo estrutural levando-a para a luta da emancipação social, como o elo cultural, percorrendo caminhos próprios nas diversas esferas da sociedade”, reafirmando que o socialismo, apesar da derrota de algumas experiências, “é o único projeto capaz de atribuir passagem a um processo que vise ao fim das discriminações de gênero” (VALADARES, 1999).


A UBM e a Ação Política de Massas

Não se vai aqui elaborar um arrazoado acerca da noção de ação política de massas, mas anote-se ter sido isso motivo de debate na UBM, com a preocupação de melhor definir nossa atuação como entidade de orientação marxista.

O histórico da opressão de gênero também é marcado pela resistência das mulheres e sua defesa de um mundo com igualdade de direitos. A UBM sempre se manteve na luta, mesmo nos momentos de dificuldade, como no período neoliberal mais ortodoxo de fins do século XX, em que se retiravam direitos de trabalhadores e trabalhadoras.

A UBM tem buscado desenvolver, em seu quase ¼ de século de trajetória, o que se compreende como ações políticas de massa, pois a entidade congrega mulheres de variada faixa etária, trabalhadoras da cidade, do campo e da floresta, atua nos mais diversos espaços em que vivem as mulheres, e chama lutas que interessam às mulheres e a todos os trabalhadores. A UBM não defende uma única bandeira, não se localiza em um único espaço, mas articula tanto a defesa imediata de mudanças no cotidiano das mulheres à luta maior pela construção de uma nova sociabilidade em que haja condições estruturais e culturais para a verdadeira emancipação humana, de homens e mulheres.

Em sua trajetória, a UBM levou lutas cotidianas aliadas às bandeiras e campanhas mais gerais, tais como: a luta pelo direito ao trabalho; ser mãe não é crime: creche, direito da mulher; mulher, seu voto não tem preço, e outras que ilustram o esforço da UBM de galvanizar as mulheres para aderirem a lutas de seu interesse imediato. Isso paralelamente às atividades em torno do tradicional 8 de março, do 25 de novembro, e mesmo em alguns estados a participação com blocos próprios de carnaval como em Recife, Manaus, Fortaleza, com o bloco “Maria Vai com as Outras”, tendo marchinha própria e angariando o apoio da população.

Conferindo maior visibilidade e identidade, campanhas políticas próprias são instrumentos para atingir e agregar as mulheres, em especial as que vivem de salário, vincando mais profundamente a corrente emancipacionista entre as massas.

Segundo Sorrentino, “a questão da ação política de massas é uma questão central da nossa tática, e como tal precisa ser levada à esfera da direção política e geral do partido, romper com a compartimentação a que estão submetidas as diversas frentes. Ademais, exige-se atitude pedagógica dos dirigentes, investigar e elaborar linhas politizadoras e de massa para o trabalho militante, com a mesma tenacidade e sagacidade que marcam nosso pensamento político” (SORRENTINO, 2009).

As mulheres comunistas que atuam na UBM, e também as comunistas que não atuam diretamente nessa entidade, estão presentes em todos os espaços da sociedade, vivendo suas lutas e agruras, esforçando-se em manter-se ativas em entidades como sindicatos, associações de moradores, juvenis, anti-racistas, de defesa do meio ambiente e outras. A questão é a de infundir, em cada uma das lutas de que participam, a perspectiva política ligada à conquista de um novo projeto nacional de desenvolvimento, com a defesa de direitos ainda na democracia burguesa e às lutas por uma nova perspectiva societária.

No caminho percorrido ao longo de mais de duas décadas, alguns desafios foram superados via conquistas consignadas em lei. No entanto, muita coisa ainda precisa se tornar realidade na vida das mulheres, em especial para aquelas que moram mais distantes do alcance do Estado e das políticas públicas. A efetivação de políticas públicas que possibilitem o atendimento às mulheres em situação de violência, o atendimento na rede de saúde, o acesso à educação, à reforma agrária, à reforma urbana, o direito à comunicação e a luta por um novo projeto nacional de desenvolvimento que garanta o avanço da igualdade social e das liberdades políticas, além da aprovação de uma reforma política que coloque a perspectiva real de empoderamento das mulheres, ampliando avanços na conquista dos espaços de poder e decisão.

Necessário que a UBM se reafirme cada vez mais como Entidade de ação de massas e para isso a reafirmação de bandeiras nacionais que unifiquem sua atuação é imprescindível, além da ampliação de seus quadros de filiadas, a realização de cursos de formação, seminários e outros momentos de reflexão e elaboração teórica. O esforço de estruturação da UBM caminha junto com a ampliação de sua presença na luta de massas, criando e fortalecendo núcleos ubemistas nos estados e municipios.

Isto exigirá do movimento emancipacionista defendido pela União Brasileira de Mulheres a materialização cotidiana do compromisso firmado historicamente de criar condições no presente para garantir as bandeiras aprovadas em suas instâncias de deliberação. Disputar a opinião política da sociedade com radicalidade e amplitude no sentido de democratizar ainda mais a sociedade brasileira, participar dos Conselhos de Políticas Públicas e dos atos de massas, unificar suas bandeiras com os movimentos feministas e sociais, buscando maior aproximação com a UNEGRO, CTB, UJS e demais organizações políticas do movimento são tarefas essenciais para a UBM, entidade que almeja ser expressão máxima da defesa dos direitos das mulheres à luz do feminismo emancipacionista.

Alguns desafios para fortalecer o emancipacionismo e a UBM

• É sempre preciso esclarecer, e afirmar na práxis diária, que a UBM não é um organismo do PCdoB, nem seu departamento feminino, onde atuem apenas as comunistas. A UBM, entidade que se guia por um referencial teórico marxista e uma política geral emanada do PCdoB, nem por isso deve restringir suas fileiras unicamente às mulheres que filiaram-se ao PCdoB, mas ter atitude ampla o bastante para nelas admitir todas as mulheres combativas de perfil progressista, que aderem às bandeiras da UBM e efetivamente sejam capazes de levá-las para a luta concreta no movimento social.

• Intensificar a ação política de massas, com valorização do protagonismo feminino — sobretudo das trabalhadoras e das jovens. Necessário disputar a opinião política da sociedade com radicalidade e amplitude no sentido de democratizar ainda mais a sociedade brasileira. Queremos a emancipação da mulher dentro de uma sociedade emancipada, no rumo do socialismo.

• Romper com a subrepresentação nos espaços de poder e aplicar concretamente todo compromisso firmado de criar condições, no presente, para garantir as conquistas almejadas, na luta pela libertação das mulheres e do povo contra toda discriminação e por igualdade de direitos.

• Dando consequência a uma das principais consignas da UBM – a de luta por "mais mulheres na política" -, o PCdoB e a militância da UBM devem avaliar o potencial e investir no lançamento de mais candidaturas de mulheres ativistas do movimento para os cargos em disputa (proporcionais e majoritários) nas próximas eleições municipais (2012) e gerais (2014), além de apoiar concretamente estas candidaturas.

• Assumir de fato a Revista Presença da Mulher como instrumento essencial de difusão dos ideais da corrente emancipacionista, entendendo que “a luta contra a opressão de gênero se insere na luta contra todos os elos de opressão e pela conquista de uma sociedade radicalmente nova, sem discriminação de gênero, de raça e de classe”. Aprimorar o site da UBM, difundi-lo mais e intensificar sua atualização regular, como mais um veículo de informação, organização e mobilização para ações da UBM no movimento feminista e político geral. Desenvolver presença ágil nas principais redes sociais da internet (como twitter e facebook).

• Dar mais atenção à luta das mulheres que atuam na UBM, reconhecendo-se mais seus esforços e conferindo o devido prestigiamento político.

• Reforçar a diretiva de que a luta pela emancipação da mulher é tarefa de todos os comunistas, homens e mulheres, e que a tarefa de mobilização das mulheres não é responsabilidade apenas das militantes da UBM.

• Avançar mais na elaboração teórica, desenvolver o conceito de emancipação social e emancipação humana.

• Realizar ações para atrair a atenção da juventude para a luta emancipacionista da UBM. Para todos os jovens que adentram o PCdoB, a UBM pode realizar uma recepção especial, em que se informe e esclareça o pensamento emancipacionista, em sinergia com a área de Formação do Partido.

*Elza Maria Campos – Da direção Estadual do PCdoB – Paraná e Coordenadora Nacional da UBM 

Referências:

BARBOSA, Ana Carolina. Um novo olhar sobre o feminismo e a atuação da UJS. Disponível em: http://www.hploco.com/letra_u/ujspvh/Genero_e_Sexualidade.html s/d

CASTRO, Mary. Do feminismo ao gênero: a construção e as reconstruções de um objeto. Revista Presença da Mulher, nº 54, março de 2008.

MORAES, Jô, A luta pela emancipação da mulher. In: PCdoB. A política revolucionária do PC do B. São Paulo: Anita Garibaldi, 1989.

ROCHA, Liège. PCdoB: O Partido das Mulheres. Revista Princípios. São Paulo. Anita Garibaldi, Fev/março 2012.

SORRENTINO, Walter. Estruturação e ação política de massas. Disponível em http://www.waltersorrentino.com.br/2009/09/21/estruturacao-e-acao-politica-de-massas/Estruturação e ação política de massas, em 21/09/2009.

VALADARES, Loreta. Gênero e emancipacionismo. Revista Presença da mulher, nº 34, 1999.