90 anos do PCdoB: Homenagem ao Operário Luís Guilhardini

 Às vésperas do aniversário de 90 anos do Partido Comunista do Brasil,  Hélio de Mattos Alves e Djalma Conceição de Oliveira (membros do Comitê Estadual do partido no Rio) redigiram um texto em homenagem ao dirigente comunista Luis Guilhardini e a todos os mortos e desaparecidos da Ditadura Militar.

Memorial mortos e desaparecidos ditadura

Operário naval, paulista de Santos, entrou para o PCdoB em 1945 atuando durante boa parte da sua militância entre os portuários daquela cidade. Transferiu-se para a então Guanabara em 1953 para se tornar membro do Comitê Regional dos Marítimos. Em 1962, participou da Reorganização do PCdoB tornando, em 1966, membro do Comitê Central. Foi preso em 1973 e seu corpo foi deixado pelos órgãos de repressão em uma rua do bairro de Vila Valqueire no Rio de Janeiro.

No dossiê elaborado no Governo de Pernambuco de Miguel Arraes está escrito que “Em 4 de janeiro de 1973, sua casa foi invadida por treze homens armados e que ali mesmo começaram as torturas”.
Sua esposa, seu filho de 8 anos e Luiz Guilhardini foram colocados em cômodos separados e espancados. Levados encapuzados em viaturas diferentes para um local que presume fosse o DOI-CODI/RJ. Seu filho assistiu o pai ser torturado, ao mesmo tempo em que também sofria sevícias. No mesmo dia, sua esposa e seu filho foram levados para um quartel do Exército, que supõe ficasse em São Cristóvão. Ali permaneceram três dias em uma cela exposta ao sol, o que provocou desidratação na criança que posteriormente foi levada para o antigo SAM (Serviço de Assistência ao Menor), no bairro de Quintino. O interrogatório da esposa era diário e durou cerca de nove dias depois de sua prisão. Somente foi liberada três meses depois, quando conseguiu encontrar seu filho. O corpo de Guilhardini entrou no IML como desconhecido, descrevendo-o apenas como "morto quando reagiu às Forças de Segurança".

Foi reconhecido oficialmente, no mesmo dia pelo Serviço de Identificação do Instituto Félix Pacheco/RJ e, no dia seguinte foi enterrado, com seu próprio nome, como indigente no Cemitério de Ricardo de Albuquerque (RJ). Em 20 de março de 1978, seus restos mortais foram transferidos para um ossário geral e, em 1980/81, enterrados numa vala clandestina com cerca de 2.000 outras ossadas de indigentes.

Memorial no Cemitério Ricardo de Albuquerque

Em 1991, o O Grupo Tortura Nunca Mais do RJ com dados obtidos no IML do Rio de Janeiro localizou no Cemitério de Ricardo de Albuquerque uma vala com as ossadas de 14 militantes que lutaram contra a Ditadura Militar, misturadas com os restos mortais de cerca de 2.000 indigentes. Entre eles Luis Guilhardini, membro do CC do PCdoB sequestrado no ano de 1973 em casa, morto provavelmente nos DOI-CODI e jogado em uma rua do bairro de Vila Valqueire.

Breve biografia dos militantes

Ramires Maranhão do Valle – Militante do Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR) – Estudante Secundarista, desaparecido desde 1973 aos 23 anos.

Vitorino Alves Moitinho – Militante do Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR) – Estudante, bancário e operário, desaparecido desde 1973 aos 24 anos. .

Mortos oficiais:

José Bartolomeu Rodrigues de Souza – Militante do Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR) – Estudante Secundarista, morto, sob tortura, no DOI-CODI/RJ, em 29 de dezembro de 1972, aos 23 anos.

José Silton Pinheiro – Militante do Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR) – Estudante Secundarista, foi morto aos 24 anos, seu corpo estava carbonizado dentro de um carro, na Rua Grajaú, nº. 321 (RJ), no dia 30 de dezembro de 1972, após ter sido barbaramente torturado.

Ranúsia Alves Rodrigues – Militante do Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR) – Estudante de Enfermagem da Universidade Federal de Pernambuco, foi assassinada em 28 de outubro de 1973, seu corpo foi encontrado carbonizado na Praça Sentinela em Jacarepaguá/RJ.

Almir Custódio de Lima – Militante do Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR) – Estudante Secundarista, seu corpo foi encontrado carbonizado na Praça Sentinela em Jacarepaguá/RJ, tinha 23 anos.

Getúlio d’Oliveira Cabral – Dirigente do Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR) – Escriturário da Fábrica Nacional de Motores – Morto, sob tortura, no dia 29 de novembro de 1972, aos 31 anos no DOI-CODI/RJ.

José Gomes Teixeira – Militante do Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR8) – Marítimo e funcionário da Prefeitura de Duque de Caxias/RJ. Foi preso em 11 de junho de 1971, pelo CISA, onde foi torturado e morreu em 15 de junho, ainda preso.

José Raimundo da Costa – Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) – Ex-sargento da Marinha – Morto aos 32 anos de idade, no Rio de Janeiro, no dia 5 de agosto de 1971, após ter sido preso e torturado no DOI-CODI/RJ.


Inauguração das obras do monumento aos mortos e desaparecidos políticos

No dia 11 de dezembro de 2011, o vice-prefeito e secretário de Meio Ambiente da Cidade do Rio de Janeiro, Carlos Alberto Muniz, inaugurou o Memorial dos Presos Políticos da Ditadura, no Cemitério de Ricardo de Albuquerque. Estiveram presentes ao local representantes do Grupo Tortura Nunca Mais do Rio de Janeiro, além de vários parentes e amigos dos mortos e o representante do PCdoB, Djalma de Oliveira do Comitê Estadual. O projeto, idealizado pelo Grupo Tortura Nunca Mais/RJ, é composto por 14 totens espelhados que levam os nomes dos homenageados. Os ex-políticos tiveram suas ossadas depositadas em caixas, num grande túmulo de granito.

*Por Hélio de Mattos Alves e Djalma Conceição de Oliveira (membros do Comitê Estadual do Rio de Janeiro)