Moradores do Pinheirinho contradizem explicações da Prefeitura
Passaram-se 24 dias desde que a reintegração de posse do Pinheirinho expulsou as 1.600 famílias que moravam no terreno de “propriedade” do “empresário” Naji Nahas em São José dos Campos (SP). Hoje, a situação das pessoas não é muito diferente do constatado quando a reportagem do Vermelho esteve nos alojamentos e conversou com elas. Nesta semana, a Prefeitura da cidade concordou em nos conceder uma entrevista sobre denúncias feitas pelos moradores.
Por Vanessa Silva, da Redação do Vermelho
Publicado 14/02/2012 16:49
Vanessa Silva/ Portal Vermelho
A situação é precária nos alojamentos. Foto tirada em 2 de fevereiro
Sobre a situação das acomodações, o líder da comunidade, Valdir Martins, o Marrom, diz que a realidade é precária e que elas não têm “condições de receber pessoas”. Já a assessoria de imprensa de São José dos Campos, cidade governada pelo tucano Eduardo Cury, alega que a Prefeitura “providenciou colchões, cobertores e contratou uma empresa para servir três refeições por dia (café da manhã, almoço e jantar), além do lanche da tarde com Todinho e bolachas para as crianças” e “providenciou a distribuição de leite normal, leite ninho para bebês e leite de cabra para crianças alérgicas”.
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À declaração, Marrom rebate: “uma nutricionista, contratada por um jornal [foi até os alojamentos] e constatou que as comidas que estão servindo lá não têm valor nutricional nenhum. Todos os dias eles servem a mesma coisa: é arroz, feijão e carne e só”.
Infraestrutura
Sobre a infraestrutura, outro ponto questionado pelos moradores, a administração municipal garante que “os banheiros foram adaptados com a instalação de chuveiros e foram instalados mais banheiros químicos”. Além disso, “uma equipe de 160 assistentes sociais, além de médicos e psicólogos, foi colocada à disposição dos abrigados”.
A versão oficial contrasta com a de Marrom: “nós temos deficientes dentro do abrigo, temos criança com problemas, idosos. Essas pessoas não têm nenhum acompanhamento especial”, sentencia.
Confira a galeria de imagens tiradas no alojamento e onde um dia esteve o Pinheirinho:
São José 40 graus
“Tem pessoas que não estão conseguindo ficar aqui porque o incômodo é muito. É muito calor, tem que dormir no chão. Quem é que gosta de dormir no chão?”, questiona Osias.
Sobre o assunto, a Prefeitura limita-se a dizer que “infelizmente, os dias que se seguiram à desocupação foram realmente muito quentes, mas houve água suficiente para todos”. E reafirma o cuidado com a manutenção do local, que é feita por equipes que fazem plantão de 12 horas nos locais.
Saída dos alojamentos
Sobre o prazo que os moradores têm para permanecer nas instalações, a administração municipal garante que “não há previsão. Eles ficarão nos abrigos até que tenham uma casa para se mudar. Quase mil famílias já receberam o cheque no valor de mil reais (500 para aluguel social e 500 para auxílio mudança) e já se mudaram para casas alugadas ou de parentes”.
Cheque social
Marrom, no entanto, revela uma falha no sistema da Prefeitura. Segundo o líder, “muita gente não pegou cheque ainda. Tem pessoas que arrumaram casa pra alugar e não conseguiram o cheque. Tem pessoas que receberam o cheque e não conseguiram alugar casa” e aponta que “tem pessoas que nunca moraram no Pinheirinho e que estão pegando o cheque. Pessoas que já mudaram de lá há quatro anos ainda estão pegando [o dinheiro]. Então a Prefeitura não tem controle nenhum”, denuncia.
O governo municipal desmente e reafirma a lisura do processo: “a triagem (…) é muito rigorosa e por isso mesmo não é tão rápida. É verdade que muitas pessoas tentam se infiltrar no cadastro da Prefeitura para receber o dinheiro, mas para evitar esse tipo de equívoco, cruzamos os dados dos cadastrados com um cadastro feito no Pinheirinho em 2010 e com os cadastros que os moradores tinham nas unidades de saúde e escolas do bairro. Tudo é detalhadamente separado e revisto antes de se entregar o dinheiro”.
Por fim, moradores reclamam que os R$ 500 reais oferecidos para o vale aluguel não são suficientes para alugar casas na cidade. A Prefeitura, no entanto é taxativa: “o valor foi estipulado pelo governo do Estado, que repassa R$ 400, e a Prefeitura complementa com mais R$ 100”.
Desconfiança
Descrente do poder público, Osias resume o descontentamento geral: “a gente não sabe o que vai acontecer e não dá para confiar nessas autoridades do nosso país. Vivemos em um país desumano. Se eu eu tivesse condições eu sairia do país porque o que aconteceu com esse povo aqui não é brincadeira”.