Sem categoria

China avisa que não quer "comprar" a Europa

O primeiro-ministro da China, Wen Jiabao, disse nesta sexta-feira, 3, que o país não tem intenção de “comprar” a Europa. A declaração foi uma tentativa de minimizar as preocupações com o investimento chinês no continente.

Em um fórum de negócios na província de Guangdong – realizado durante a visita da chanceler alemã, Angela Merkel, ao país – Wen disse que a China está “disposta a cooperar com a Europa para combater a crise atual.”

Preocupação

“Algumas pessoas dizem que isso significa que a China quer comprar a Europa. Isso é uma preocupação e não se encaixa na realidade,” acrescentou Wen. “A China não tem essa intenção, nem essa capacidade.”

O primeiro-ministro chinês não entrou em detalhes sobre a que preocupações estava se referindo. Ele pode ter aludido às análises de que os governos europeus irão precisar oferecer concessões políticas para a China para garantir a ajuda na recuperação da crise da dívida soberana na zona do euro.

Avaliando caminhos

Na quinta-feira, 2, em aparição conjunta com Merkel, Wen acenou com a possibilidade de aumentar o investimento chinês em fundos de resgate da Europa. Mas não deu nenhum detalhe, dizendo apenas que a China estava “investigando e avaliando caminhos” para tornar-se “mais profundamente envolvida” no Fundo Europeu de Estabilização Financeira (EFSF, em inglês) e no Mecanismo Europeu de Estabilidade, que ainda não foi criado.

As garantias feitas por Wen nesta sexta-feira ilustram o quanto a questão da ajuda chinesa para a Europa tornou-se um tema politicamente sensível.

Interesses divergentes

Ao citar publicamente vários pontos de discórdia entre a Alemanha e a China, de direitos humanos a sanções contra o Irã, a chanceler alemã pareceu determinada em demonstrar que não estava disposta a apaziguar os ânimos chineses em troca de ajuda financeira.

Dentro da China, a perspectiva de usar as expressivas reservas cambiais para socorrer os países europeus endividados também é controversa. Muitos chineses veem as reservas como fruto do seu trabalho árduo e se perguntam por que deveriam emprestar a países com renda per capita superior e generosos benefícios sociais.

Em discurso anterior ao de Wen na quinta-feira, Merkel também expôs as reclamações das empresas alemãs que operam na China.

“O que representantes de negócios estrangeiros na China precisam? Sobre o que eles falam? Eles precisam de mercado aberto,” afirmou Merkel. “Nós também precisamos de proteção efetiva para a propriedade intelectual, é claro. Empresários estão sempre dizendo que uma pessoa precisa ter acesso ao financiamento relevante para se desenvolver dinamicamente na China.”

Wen respondeu às preocupações da chanceler da Alemanha dizendo que os empresários alemães podem “relaxar” quanto aos direitos de propriedade intelectual na China, porque o país está colocando um grande esforço na proteção da propriedade intelectual e percebe que a questão também é do interesse das empresas chinesas.

Cobertor curto

O apelo dos líderes europeus pelo socorro de Pequim é sintomático das mudanças que estão em curso no mundo, determinando o deslocamento do poder econômico do Ocidente para o Oriente. Enquanto muitos países europeus, incluindo a outrora poderosa Itália, estão liberalmente falidos, mendigando crédito e sob o tacão do FMI, a China exibe as maiores reservas do mundo, superiores a 3 trilhões de dólares, e se transforma no grande banqueiro e credor global.

Mas a hipótese de uma ajuda mais substancial à Europa pressupõe a realocação das reservas, hoje em grande medida aplicada em títulos do Tesouro dos EUA, para o Fundo Europeu de Estabilização Financeira. Afinal, o cobertor chinês também tem limites. A transferência de investimentos em títulos denominados em dólar para ativos em euro pode ajudar a fortalecer a moeda comum europeia, mas também pode empurrar o dólar um pouco mais para o precipício. É uma opção delicada no plano da economia política.

Com agências