Do Alemão à Rocinha: a guerra para pacificar o Rio completa 1 ano

As imagens aéreas de dezenas de homens ligados ao tráfico de drogas deixando a Vila Cruzeiro em direção ao Complexo do Alemão, há um ano, rodaram o mundo. Três dias depois, cerca de 3 mil homens das forças de segurança do Rio de Janeiro, apoiados pelos fuzileiros navais da Marinha, ocuparam toda a região.

Por Vagner Magalhães, para o Terra

Era o início do processo de pacificação da área para a instalação das propagadas Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) por parte do governo carioca. Neste mês, o sistema das UPPs atingiu o seu auge com a tomada da Rocinha, a maior favela da América Latina.

Entre a fuga e a invasão do Alemão, não foram poucas as vezes que houve trocas de tiros entre traficantes e policiais. Nos dois dias que antecederam a ocupação, cerrados tiroteios em diversos pontos da região foram registrados. Naqueles dias, houve muitas reclamações de moradores sobre a ação da polícia dentro da comunidade (veja acima o depoimento de Xaolin, líder comunitário da região e do PCdoB). Há relatos de abusos na revista das residências e até de furto de objetos e desvio das apreensões.

Drogas

Somente em drogas, foram apresentadas mais de 40 toneladas, além de mais de uma centena de armas e vasta quantidade de munição. Vale lembrar que a ocupação se deu em resposta a uma série de ataques promovidos pelos traficantes pelas ruas do Rio de Janeiro e municípios vizinhos, quando, por uma semana, carros e ônibus foram sistematicamente incendiados. Os ataques teriam acontecido sob a ordem de bandidos presos nas cadeias do Rio.

Na ocasião, a pedido do governo carioca, 18 presos acusados de estarem envolvidos com os ataques foram transferidos para o Presídio Federal de Catanduvas, no Paraná. Nomes conhecidos do noticiário policiail como Elias Maluco – acusado pela morte do jornalista Tim Lopes – e outros 11 condenados deixaram Catanduvas em direção à penitenciária Federal de Porto Velho.

Um ano depois, foi a vez das favelas da Rocinha, Vidigal e Chácara do Céu – que concentram perto de 100 mil moradores – serem dominadas pelas forças de segurança. Desta vez, sem o registro de tiros e nem reclamações – pelo menos em um primeiro momento – dos moradores.

Corrupção

Ao contrário do que aconteceu no Alemão, a ação da polícia se deu em um momento de enfraquecimento do morro, com a prisão do traficante Antônio Bonfim Lopes, o Nem, que foi detido enquanto deixava a favela escondido no porta-malas de um carro.

Três dias antes, a população foi avisada que a favela seria invadida e na data prevista a Rocinha viveu um clima de aparente normalidade. É verdade que o número de apreensões e detidos foi bem menor do que o presenciado no Complexo do Alemão, mas a ação foi considerada dentro e fora do morro dentro da legalidade.

A proximidade da Rocinha com bairros de classe média alta do Rio de Janeiro, como São Conrado e Gávea, foi considerada imprescindível para uma ação mais comedida da polícia. O próprio governo admitiu que a ação passou um pouco da conta no Alemão. Um exemplo? Uma das providências tomadas na Rocinha foi a proibição de os policiais utilizarem mochilas, com o claro propósito de evitar que eles saíssem com objetos de moradores ou apreensões escondidas.