Diony Abadia: José Martí — Um expoente da oratória revolucionária
A oratória representou uma das principais armas do herói cubano, José Martí, para canalizar sua ação revolucionária, cuja vigência adquire hoje novas conotações entre compatriotas e estrangeiros em um mundo cada vez mais diverso.
Por Diony Sanabia Abadia*
Publicado 22/11/2011 10:00
Com seus discursos, o ilustre patriota chegou às consciências dos cubanos e os persuadiu da necessidade de juntarem-se sob um projeto que garantiria uma futura república verdadeiramente justa, democrática e soberana.
Após 120 anos do pronunciamento em Tampa, Estados Unidos, em 26 e 27 de novembro de 1891, respectivamente, as peças oratórias conhecidas como “Com todos e para o bem de todos”, e “Os pinhos novos” são inesquecíveis entre a fecunda obra de Martí.
Conhecedor da importância da tal ferramenta comunicativa, Martí a utilizou para desenvolver parte de sua propaganda revolucionária que buscava colocar em pé de guerra novamente Cuba contra o governo espanhol e fazer a revolução.
A capacidade persuasiva do professor foi admirável e deu à mensagem patriótica uma grande emoção ao apelar sempre para o melhor de cada indivíduo, sem exclusão de classe ou raça.
Tabaqueiros, veteranos, jovens patriotas, mães, viúvas, adolescentes, ricos proprietários, intelectuais, comerciantes… Todos, ou quase todos se converteram em receptores ativos de uma doutrina fundadora.
Guerra Cuba X Espanha
O maior organizador da guerra necessária de cubanos contra espanhóis entre 1895 e 1898 levou ao último receptor uma mensagem bem elaborada e definida.
Dessa maneira conseguiu comover, despertar sentimentos, provocar o amor à pátria e o desejo libertário em seus ouvintes, convencer e somar partidários da causa da independência cubana.
A vasta cultura de Martí, o conhecimento pleno da história, o estudo das ciências e a compreensão filosófica dos fatos cotidianos impulsionaram com força suas palavras ao ponto de arrastar consciências e somá-las ao processo emancipatório.
Com todos e para o bem de todos
Em “Com todos e para o bem de todos”, a joia mais preciosa de sua oratória na opinião de distintos estudiosos, começou inflamando a alma de quem o escutava no Liceu Cubano de Tampa.
"Para Cuba que sofre a primera palavra. Do altar devemos tomar Cuba, para oferecer-lhe nossa vida, e não do pedestal, para nos levantarmos sobre ela", apontou e ainda fez uma referência imediata ao patriotismo.
Rapidamente, o auditório, composto por operários em sua maioria, recebeu a força do verbo martiano que empregou, durante a dissertação, códigos comuns com o objetivo de manter uma estreita comunicação por meio da assimilação das ideias expostas.
Uma linguagem que assentou as ideias fundamentais da futura nação e evidenciou o valor outorgado à ética e à realização pessoal e coletiva dos seres humanos: "Eu quero que a primeira lei da nossa República seja o culto dos cubanos à dignidade plena do homem".
Ele se opôs aos que, por temor ao Norte e desconfiança de si, se inclinavam para a anexação, e os “lindouros” (aristocratas), "olimpos" (oportunistas) y "alzacolas" (intrigantes).
De acordo com o estudioso José Luis de la Tejera, a metáfora, a semelhança, os paralelismos e imagens cobrem todo o discurso e o realça até o efeito persuasivo esperado.
Frases como "a guerra inevitável", "as palmas são namoradas que esperam", e "é preciso, em questões dos povos, levar um freio em uma mão e a caldeira na outra" transcenderam como símbolos.
O professor teve qualidades singulares para fazer bons discursos, pois imprimia diferentes tons à sua voz, de acordo com o que requeria a situação, empregava os períodos com harmonia, criava múltiplas e originais imagens e improvisava com força.
Ao anterior, uniu a justiça de sua causa e a sinceridade com que propagava o ideal independentista, ao mesmo tempo em que apelava para o sentido da dignidade humana e às virtudes dos cubanos.
Os pinhos novos
Para lembrar os oito estudantes de medicina fuzilados em Havana em 1871, Martí pronunciou “Os pinhos novos”, um discurso conciso no qual chamou as novas gerações para se somarem à causa libertária.
Elegantemente, convidou os jovens, inexperientes, mas ansiosos de liberdade para sua Pátria, a se fundirem e somar forças com os veteranos combatentes, experientes na guerra.
Forjou uma forte união com um notável otimismo entre os assistentes do mencionado liceu 20 anos depois do triste episódio e também entre os quais tomaram, e retomaram posteriormente o caminho da revolução.
Martí concebeu um discurso ordenado e coerente para que a palavra penetrasse facilmente nos ouvintes, e expôs com grande nitidez os valores, aproveitou sua cultura e preparo e apelou constantemente ao diálogo, e ao caráter comunicativo completo.
Sua prática oratória teve uma função utilitária, uma finalidade prevista nesse trabalho de unidade e chamado à luta que se desdobrou e ainda quando a mensagem esteve envolta em numerosos recursos estilísticos, evidenciou um predomínio da razão e o juízo certeiro.
Como certeiramente afirmou o pesquisador Luis Conte, o herói nacional amalgama os requisitos indispensáveis da eloquência suprema: moral, patriotismo e cultura, trindade que não se encontra com frequência nos oradores.
*Jornalista da Prensa Latina
Fonte: Prensa Latina
Tradução: da redação do Vermelho,
Vanessa Silva