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Habanastation: um filme para se emocionar

“Tenho vários roteiros em processo de finalização. Gostaria de ter produzido meu primeiro longa-metragem o quanto antes, mas não tive muita vontade de que isso ocorresse de fato. Não creio que seja nada pessoal. Talvez existam muitos cineastas para poucos orçamentos. Ainda assim, anuncio que farei cinema – com ou sem apoio de instituições.”

Por Paquita Armas Fonseca

habanastation

“Fazer cinema é a minha vida e só a morte me impediria de fazê-lo. As demais coisas, posso deixar com a História”, respondeu Ian Padrón quando o entrevistei há alguns anos sobre seu polêmico documentário Fuera de Liga.

Claro que, antes dessa peça (2004), premiadíssima em Cuba e em outros países, Ian havia marchado por um caminho frutífero como roteirista de pequenas histórias – primeiro em desenhos animados, depois em videoclipes e por fim, em documentários, aplaudidos pela crítica e pelo público.

No final, chegou o momento da ficção: impulsionado por La Colmenita, com a colaboração do ICAIC e o ICRT (Instituto Cubano de Radio e Televisão) chegou a possibilidade de dirigir o filme Habanastation. No ano 2000, Ian já havia concretizado a proposta de realizar a produção com a colaboração da instituição. Ele, no entanto, não foi selecionado. Mas, seu primeiro longa-metragem faria parte do filme Três vezes dois.

Mas assim como Carlos Alberto Cremata, Tin, o diretor de La Colmenita consegue se dar bem com tudo ou quase tudo, ele quis fazer cinema com sua equipe e conseguiu reunir forças para isso. Um dia, a produtora Vilma Montesinos, da ICRT, convidou Ian para fazer o filme Habanastation. O “sim” foi certeiro e assim buscou o roteirista Felipe Espinet para o ajudar.

As duas crianças protagonistas que vivem em diferentes regiões de Havana, estão roubando a cena o tempo todo, como artistas consagrados. Sobre como as descobriu, Ian afirmou: “Como diríamos em bom cubano, foi ‘un jamón’. Encontrei Ernesto Escalona e Andy Fornaris com relativa facilidade”.

Embora fossem responsáveis na hora de montar seus personagens, não se pode esquecer que tiveram uma escola extraordinária: a companhia singular dirigida por Tin e tal fato contribuiu para dotar os adolescentes de certos conhecimentos que somente a vivência nos palcos pode oferecer.

O resto do elenco – Blanca Rosa Blanco, Luis Alberto García, Miriam Socarrás, Raúl Pomares, Evert Álvarez, Omar Franco, Rigoberto Ferrera, Herón Veja e Claudia Alvariño – contribui para criar uma atmosfera, que em determinados momentos é divertida e em outros, melodramática.

E sim, creio que essa é a maior virtude de Habanastation: divertir e emocionar quase até chegar às lágrimas. A propósito, inicialmente, o filme se chamava Pleiesteichon – como pronunciamos Playstation – esse vídeojogo tão globalizado. Mas a marca não foi bem aceita, então adaptamos o nome.

Para o sucesso de Ian, Hoari Chiang e Javier Figueroa foram fundamentais como diretor-assistente e operador de som. Além da presença de Alejandro Pérez na fotografia. Este trio de mosqueteiros se uniu a René Baños, diretor do grupo Vocal Samplig e da banda Nacional Eletrônica – que se encarregaram de toda a parte sonora.

O bairro de Zamora – situado em Marianao – merece aplausos. A região também é protagonista do filme e para ele, Ian levou arte a suas ruas desbaratadas, casas em mau estado, mas também alegria, solidariedade e todo esse espírito cubano que reina em nosso país.

Se o nível de atuação está bom em termos gerais, a fotografia aparece de forma correta e a música se encaixa no desenvolvimento dramático do filme.

Habanastation chega para preencher um espaço no cinema de Cuba dos últimos tempos. Apesar da crise global, o cinema é entretenimento, diversão, otimismo, resgate dos melhores sentimentos que estiveram presentes na grande maioria dos filmes recém-exibidos – alguns muito bons, mas a única coisa que conseguiram foi deprimir o espectador.

Convidado por Michael Moore, Ian estreou internacionalmente com Habanastation no Festival de Cinema Traverse City, em Minessota, nos Estados Unidos. Em Cuba, sua estreia foi apoteótica: desde o primeiro dia no cinema Chaplin até outras salas, onde as pessoas esperam até duas horas para assistir a projeção da fita.

Em uma entrevista recente, Ian afirmou: “sinceramente, me satisfaço em lotar as salas de cinema, emocionar o público que me assiste. Meu maior prêmio será me sentir como criança – quando via a obra de meu pai, Juan Padrón, nos cinemas e todo o mundo ficava encantado com seus filmes. Dele, herdei o respeito pelo público e seu rigor para contar uma história”.

Ian Padrón conseguiu realizar este desejo. Juan e Ernesto tiveram seus momentos, agora resta ao filho e o sobrinho desfrutar desses aplausos quase unanimes por um filme simples, mas muito bem realizado, que nos faz sentir melhores quando saímos do cinema porque a emoção toma conta de nós.

* Paquita Armas Fonseca escreve para o portal Cuba Debate