BC incentiva trabalhador a pedir menos reajuste; CUT vê 'absurdo'
No Senado, presidente do Banco Central, Alexande Tombini, 'incentiva' trabalhadores a fazer negociações salariais deixando de lado o retrovisor que mostra inflação alta e olhando inflação que vem pela frente, 'claramente' em queda. Para presidente da CUT, BC ignora que negociações estão atrás de ganhos reais superiores à inflação passada e que empresas não têm data-base para remarcar – fazem isso o ano todo. 'É um absurdo essa volta do velho mito de que salário é inflacionário', diz o sindicalista.
Publicado 06/07/2011 14:15
O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, disse nesta terça-feira (05/07), no Senado, que os “participantes” de negociações salariais no segundo semestre deveriam “olhar mais para frente do que para trás”. Para ele, o retrovisor seria um mau conselheiro para trabalhadores e empresários a respeito de uma inflação que já está “claramente” em queda.
O raciocínio tenta desestimular trabalhadores de lutar por reajustes polpudos nas negociações que vão se acumular até o fim do ano. Como mostrou em seu último relatório trimestral de inflação, o BC acredita que salário seria hoje um elemento inflacionário no Brasil. “Um risco muito importante” para os preços, nas palavras do documento.
Os trabalhadores rejeitam, contudo, as teses do BC. E prometem defender com força a idéia de que todos devem exigir ganhos reais de salário, durante manifestações que a Central Única dos Trabalhadores (CUT) vai promover em todo o país nesta quarta-feira (06/07).
“É um absurdo o BC voltar com esse velho mito, que nós achávamos que tinha ficado para trás com a crise de 2008, de que salário é inflacionário”, diz o presidente da CUT, Artur Henrique da Silva Santos.
A sugestão de Tombini de que os participantes “olhem mais para frente” nas negociações salariais, Artur rebate argumentando que o BC deveria levar em conta que trabalhadores e empresas entram em negociações salariais em condições distintas. “O BC ignora que as negociações salariais se dão em torno exatamente da inflação passada e que as empresas não têm data-base para reajustar preços, fazem isso o ano inteiro”, afirma.
Ele diz ainda que os trabalhadores vão cobrar aumentos compatíveis com os lucros empresariais. Nas negociações, os sindicatos estarão municiados de dados que mostram que os lucros e os dividendos distribuídos pelas empresas são elevados e em nível recorde. “Bancos, empresas de serviço, comércio, todo mundo está ganhando dinheiro. A indústria tem problemas pontuais, mas não estamos vivendo um momento de redução da atividade. E nós, trabalhadores, queremos uma parte destes ganhos”, afirma Artur.
A CUT também reclama do diagnóstico do BC que cada vez mais tem apontado o setor de serviços como um grande vilão da inflação. Quanto mais ênfase houver na inflação dos “serviços” (despesas pessoais, gastos com alimentação, moradia, saúde, educação), maior o suposto caráter inflacionário dos salários.
No recente relatório de inflação, o BC diz que os preços no setor de serviços têm subido porque os trabalhadores do ramo estão ganhando mais e porque, com a ascensão de uma nova classe média, o gasto com “serviços” aumentou, e demanda alta sempre anima o fornecedor a tentar lucrar mais.
“Nós não estamos com inflação de demanda, o consumo está caindo. O que há é especulação com as commodities no exterior, e é impossível controlar a inflação de commodities aqui dentro com juro alto”, diz Artur Henrique.
Fonte: Carta Maior