Sem São Paulo, Brasil começa a Copa perdendo
Nesse artigo, Pedro Bigardi*, adverte sobre os impasses na organização da Copa de 2014. São Paulo pode ficar à margem do evento, fruto de interesses políticos menores, expondo o país a uma situação vexatória frente à expectativa nacional e internacional.
Publicado 14/06/2011 15:01 | Editado 04/03/2020 17:17
Com a forte presença, visibilidade e dimensões universais, São Paulo tem a enorme e intangível capacidade para sintetizar de maneira definitiva o encontro de etnias, raças e nacionalidades em solo brasileiro. Sem abrigar a Copa de 2014 – ou abrigando-a de forma indelével, secundária – o território paulista deixará de mostrar ao mundo a magnitude e as imagens da maior cidade e do maior estado da América do Sul. Por outro lado, sem a força, a determinação e principalmente a capacidade dos brasileiros de São Paulo, a Copa de 2014 deixará de ser um evento nacional.
Tenho acompanhado de perto as ameaças da exclusão de São Paulo não só da abertura da Copa, mas também do próprio Mundial. Esquece-se que a escolha de São Paulo para sintetizar de maneira definitiva o encontro de etnias, raças e nacionalidades não foi feito num encontro de bastidores ou num acordo ligeiro e talvez mal explicado. Esta escolha foi feita a partir da importância da Capital paulista com o tema.
Sem São Paulo neste megaevento, não serão apenas os estádios paulistas que correrão o risco de ficarem vazios. O Mundial também corre o risco de esvaziar-se.
A Copa das Confederações, que seria um evento importante para nosso Estado, São Paulo já perdeu. E estamos falando de um Estado que abriga 40 milhões de brasileiros, que tem uma prática de futebol reconhecida em todo o Brasil. Há grandes clubes, futebol por todo o interior. O Campeonato Paulista é quase um Campeonato Brasileiro pela sua dimensão. São Paulo é um centro de turismo, de negócios; São Paulo tem capacidade hoteleira; tem infra-estrutura.
Agora, perdemos o Centro de Imprensa Mundial da Copa para o Rio de Janeiro, de uma forma inexplicável. Temos o Anhembi, que é muito melhor em termos de estrutura pela rede hoteleira do entorno, pelo Campo de Marte, pela capacidade de atendimento à imprensa internacional. O Rio de Janeiro, hoje, com grande respeito pela cidade, tem menor capacidade de estrutura para atender a mídia internacional.
Estamos às vésperas do mês de julho, quando será decidido em que local haverá a abertura da Copa do Mundo. Muita gente imagina que essa discussão acontecerá mais à frente, no segundo semestre, no ano que vem. Não! Isso vai acontecer em julho e podemos perdê-la também. Os olhos de quem tomará a decisão que pode excluir São Paulo da Copa de 2014 permanecem fechados para o agudo prejuízo que esta medida pode provocar.
Essa é uma situação preocupante para os brasileiros de São Paulo, mas é igualmente preocupante para o Brasil. Todos vão perder se não conseguirmos trazer a abertura da Copa do Mundo para o Estado de São Paulo. Todos vão perder se o Estado de São Paulo for excluído da Copa do Mundo. Estamos discutindo emprego, formação profissional, geração de riquezas, distribuição de riquezas, visibilidade mundial.
É importante lembrar que além da sede na Capital, teremos as sub-sedes que receberão as seleções e as acomodarão. Todos se lembram das Copas na África do Sul, Alemanha e Espanha, que geraram uma grande integração nacional e são lembradas até hoje por isso.
Todas estas questões, inclusive, foram discutidas no grande evento que fizemos na Assembleia Legislativa, o Seminário Internacional da Copa do Mundo, realizado em 2009. Naquela oportunidade, conseguimos reunir diversos setores, vários líderes de governo, representantes de federações e da CBF, gente ligada ao Turismo, atletas, ex-atletas e lideranças de diversos países que já tinham sediado o Mundial. A partir deste encontro, desencadeou-se uma expectativa muito grande para uma agenda de trabalho que até agora não foi cumprida.
Não optamos pela rendição à realidade dos fatos. Afinal, existe uma matriz de responsabilidades assinada pelo Governo Federal, pelo Governo Estadual e pelo Governo da Capital, na qual estão claramente definidas as responsabilidades de cada ente da federação. Essa matriz foi assinada em janeiro de 2010 e até agora não se vê um movimento vigoroso no Estado de São Paulo e na cidade de São Paulo a favor da realização da Copa do Mundo.
A Prefeitura de São Paulo criou a Secretaria Especial da Copa do Mundo para tentar organizar, mas falta ao Governo do Estado entrar mais decisivamente nessa questão. Falta o comitê local da Copa do Mundo do Estado dialogar com a Assembleia Legislativa, com o Governo Municipal. Não é possível que a discussão entre partidos fique acima dos interesses do povo paulista, que sairá perdendo se os interesses partidários de 2012, de 2014 ou sei lá de quando se sobrepuserem.
A história mostra que, desde que cada setor envolvido cumpra o seu dever, projetos da envergadura estão destinados ao sucesso. São Paulo é esse esforço multicultural, étnico e coletivo que todo o país conheceu e valorizou. Sem São Paulo, entraremos na Copa já perdendo de muito; substituindo o espírito de abnegação, ousadia e esforço coletivo pelo conformismo, pela miopia e a ênfase em complicadas e desastrosas tramas de bastidores.
*Engenheiro civil, deputado estadual líder do PCdoB e vice-presidente da Comissão de Esportes da Assembleia Legislativa de São Paulo