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Derrotado, Serra aceita cargo em Conselho Político do PSDB

O grupo do ex-governador mineiro, o senador Aécio Neves, prevaleceu sobre as intenções do candidato derrotado à Presidência da República nas últimas eleições José Serra de dirigir o Partido da Social Democracia Brasileiro (PSDB) e manteve a indicação do ex-senador cearense Tasso Jereissati, também derrotado nas urnas em outubro passado, para a para a Presidência do Instituto Teotônio Vilela (ITV), a instância diretiva da agremiação.

O impasse chegou a ameaçar a convenção realizada, nesta sábado, e durou por mais de três horas, até que Serra aceitasse presidir o recém-criado Conselho Político do PSDB.

A convenção estava marcada para às 9 horas, mas a cúpula tucana somente chegou ao plenário após mais três horas, tempo suficiente para que Serra, Aécio, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o governador Geraldo Alckmin (SP) e o deputado Sérgio Guerra (PSDB-PE) discutissem, a portas fechadas, o acordo anunciado aos partidários que aguardavam no salão de um hotel desta capital. Nas entrevistas, posteriores à queda de braço entre os grupos que dividem a principal legenda da direita brasileira, todos os integrantes da elite tucana negaram as divergências internas.

"Temos que afastar a arma do adversário que é a mentira ao nosso respeito, que é a intriga. A intriga nos enfraquece e fortalece os adversários", afirmou Serra.

Ao final do seu discurso na convenção nacional do PSDB, Serra insistiu que “antes de ser um oficial na política”, é um “soldado”. "Contem com esse soldado em qualquer momento", afirmou.

Aécio também desconversou e garantiu não haver “divisão” do PSDB, que o partido sai fortalecido do episódio, mas preferiu não comentar os desentendimentos entre Serra e Jereissati, durante a campanha eleitoral.

"Instigaram rupturas, que o PSDB colocaria projetos pessoais à frente do partido. Os brasileiros vão acordar amanhã sabendo que, mais do que nunca, o PSDB está unido e pronto", garantiu.

Serra, ao final das negociações, presidirá um conselho integrado por Alckmin, Aécio, FHC, o governador de Goiás, Marconi Perillo e Guerra.

Bombeiros tucanos

Coube ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e ao governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, o uniforme de bombeiros na crise que incendeia o ninho tucano. Eles foram investidos por Aécio e Guerra da missão de convencer José Serra que o espaço que lhe restava no comando do PSDB era mesmo um cargo no novo Conselho Político da legenda. Diante da resistência do grupo do senador Aécio Neves (PSDB-MG) a ceder a Serra a presidência do ITV – cargo para o qual a bancada do Senado convidou o ex-senador Tasso Jereissati (CE) –, FHC e Alckmin comunicaram a Serra que somente restava a Presidência do Conselho Político, o que irritou o ex-governador paulista.

A princípio, o Conselho seria presidido por FHC – mas o ex-presidente preferiu abrir mão da indicação para tentar resolver o impasse. FHC propôs também que os paulistas fiquem, além do comando do conselho, com duas vice-presidências da executiva nacional – um indicado por José Serra e outro por Alckmin. O nome levado às conversas pelos serristas e aceito pelos demais foi o do ex-governador Alberto Goldman, enquanto o indicado de Alckmin é o secretário de Planejamento e Desenvolvimento Regional do Estado de São Paulo, Emanuel Fernandes, deputado federal e ex-prefeito de São José dos Campos.

As ameaças dos tucanos paulistas de boicotar a convenção caso Serra fosse preterido na indicação para o ITV não surtiram o efeito esperado. A fundação do partido é responsável pela realização de seminários, pesquisas e estudos de conjuntura. Segundo sondagens internas, a indicação de Serra para o ITV não tinha apoio de maioria dos convencionais do partido.

Candidato à reeleição, o presidente nacional do PSDB, deputado Sérgio Guerra (PE), trabalha para evitar uma disputa aberta entre os dois principais diretórios do partido, o de Minas e o de São Paulo. Segundo ele, o partido não pode ficar preso apenas à briga porque tem representações fortes em muitos outros Estados como Paraná, Pará e Goiás.

"Claro que não há solução sem São Paulo, mas não estamos emparedados por isso, não. O partido não é só São Paulo e Minas. Não podemos ficar reduzidos a essa discussão bipolar, caso contrário, não chegaremos a lugar algum", afirmou Guerra, antes da reunião desta manhã.

Os delegados tucanos elegeram o Diretório Nacional com 213 votos, a totalidade do colégio eleitoral, posto haver apenas uma chapa na disputa. A falta de acordo entre os grupos mineiro e paulista ameaçava levar a definição da executiva para um confronto.

Apesar da pressão paulista, até quinta-feira era descartada pelos aecistas a possibilidade de recuo na indicação de Tasso para a presidência do ITV. Essa solução foi tentada por Alckmin, interessado em evitar conflitos com Serra. Mas Tasso foi convidado publicamente pela bancada no Senado, aceitou, e virou fato consumado.

Para os tucanos que defendem a candidatura de Aécio a presidente, Serra transformaria o ITV num espaço para fazer campanha pessoal. Além disso, temiam que, num cargo com essa projeção, Serra estabelecesse um duplo comando do PSDB, disputando com Sérgio Guerra que, por sinal, é um dos mais preocupados com o confronto entre Aécio e Serra. Ele é visto como aliado do mineiro, mas está interessado em manter o partido unido.

Com a disputa pela formação da executiva, o PSDB conseguiu, na prática, antecipar para 2011 o confronto previsto para 2014 entre Serra e Aécio, pela vaga de candidato do partido à sucessão presidencial. Serra já foi derrotado duas vezes (2002 e 2010), mas ainda alimenta expectativa de disputar uma última vez. A avaliação majoritária no partido, no entanto, é que a vez é de Aécio, por vários motivos, como a maior capacidade de agregar politicamente e os erros atribuídos a Serra na campanha de 2010. Mesmo assim, é consenso que o peso político de Serra não pode ser descartado pelo partido e que é prematuro definir agora uma candidatura. O perfil ideal dependerá de vários fatores, entre eles do desempenho do governo Dilma Rousseff e da coesão – ou não – de sua base aliada.

Mesmo adversários de Serra defendem um acordo, para evitar que ele saia humilhado e o partido, definitivamente rachado. O receio é que Serra seja transformado no “Kassab do PSDB”, numa referência à saída do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, do Democratas, levando um grande número de filiados para o novo partido, o PSD.

"Todo mundo estava procurando uma forma de Serra não ser vencido", definiu um lider tucano envolvido nas conversas.

Aécio, no entanto, tem vencido todos os rounds. Primeiro, com uma mobilização de apoio à reeleição de Guerra na Presidência do partido, barrando uma articulação de aliados de Serra para conduzi-lo ao cargo. Depois, conseguindo apoio à permanência do deputado Rodrigo de Castro (MG), seu aliado, na secretaria geral do partido. Os paulistas queriam substituí-lo.

Por fim, o senador mineiro antecipou a formalização do convite a Tasso, desafeto declarado de Serra, para assumir o ITV, rebatendo a articulação de Alckmin para levar Serra ao comando do órgão. Tucanos de São Paulo disseram que se tentava destruir e humilhar o ex-governador. Os dirigentes discutem a redefinição de alguns papéis de cargos da executiva, entre eles o da vice-presidência, ocupada pelo ex-ministro Eduardo Jorge Caldas Pereira, aliado de Serra, cujo cargo absorveu boa parte do poder da secretaria-geral do partido. Não está afastada, no entanto, a possibilidade de Serra deixar a legenda.

Fonte: Correio do Brasil